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EDIVAN, O MENDIGO

Fabrício Cunha

Morreu o Edivan.

Ninguém sabe quem ele é.

Ninguém sabia quem era o Galdino, que também morreu.

Só os descobrimos porque morreram.

Morreram queimados.

Galdino, pelo capitalismo idiota, que produz jovens sem sentido ou significado de vida. Que se divertem brincando com a vida do outro, fazendo-a de palco para uma (des)graça privada ao custou da vida de um “ninguém”.

O outro, pela submissão imposta pela pobreza, pelo desabrigo, pelo desalento, pela falta de respeito para com o bem máximo da existência, a vida.

Morreram dormindo.

Algumas coisas igualam os seres humanos. A dor, a fome, o frio, o cansaço, o sono. Seja numa cama imperial ou num papelão num banco, dormimos.

O sono é o momento mais desarmado de um ser humano. É quando estamos mais indefesos.

Matar enquanto se dorme é a atitude mais covarde possível. E queimados…

Os condenados pela morte de Galdino, quase não cumpriram pena. Não se sabe quem matou Edivan. E nossa semana seguirá quase que do mesmo jeito, afinal, quem morreu foi um morador de rua.

Mas, da terra, seu sangue clama junto com o sangue de um sem número de gente que não existe mais por conta desse inaceitável desrespeito com a vida.

Nada é mais violento do que interromper a possibilidade do “ser” e do “tornar-se”, seja o que for.

Edivan e Galdino são conhecidos hoje pelo que não se tornaram e pelo que não foram…

Era melhor que continuassem “desconhecidos”.









 

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