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Era uma teologia muito engraçada...

Digão

Imagine a cena: você é agraciado (sempre quis usar essa palavra!) com uma bolada de dinheiro e resolve construir uma casa, aquela dos sonhos. Contrata um arquiteto, e ele te mostra a planta da casa em 3D. Negócio fechado, você espera pela conclusão da obra. Quando a construção termina e você vai ver o resultado, aquela decepção: as paredes estão meio inclinadas, a altura das paredes é de apenas um metro e meio, o que faz com que você tenha que andar encurvado pela casa (além do calor sufocante que isso produz) e as lâmpadas, em vez de estarem no teto, estão afixadas no chão. Quando vai tirar satisfações com o arquiteto, ele candidamente te diz que não há mais princípios arquitetônicos inamovíveis e que todos podem ser questionados, além de ter visto lampejos de cálculos estruturais numa música do Latino. 

Você teria três opções: 1) recorrer ao Procon; 2) admirar a reinvenção arquitetônica, ao mesmo tempo em que agradece ao chefe do arquiteto que, mesmo sem poder fazer nada, é um cara joinha e se senta e chora junto com você na calçada, ou 3) começa a recitar aquela musiquinha infantil baseada no poema de Vinicius de Morais, “era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada...”

Esta é a nova proposta teológica de Ricardo Gondim. Num vídeo em que procura se defender (apesar de dizer que não é apologeta e, portanto, desqualificar sua própria defesa), ele afirma que faz isso com a teologia. Para mostrar que é uma pessoa antenada nos tempos idos, diz que dialoga com teólogos da libertação, como Boff e Gustavo Gutierrez, como se isso fosse o suprassumo da vanguarda teológica. 











Sem saber para que rumo vai, ele joga a Bíblia na latrina, ao querer ver “lampejos da revelação” na MPB, na poesia ou na literatura, mas ao mesmo tempo usando categorias teológicas que valorizam a Bíblia como revelação única e especial de Deus. Além disso, como todo bom liberal, rotula como fundamentalista todo aquele que o ataca. Ora, se todo posicionamento teológico é passível de questionamento, qual a razão de Gondim reclamar do questionamento de sua teologia? Deixe-me ver se entendi: se os outros são questionados, é resultado de uma alma sensível banhada a Raquel de Queiroz e Fernando Pessoa; se é ele o questionado, isso vem de mentes tacanhas que pensam a teologia em forminhas medievais preconcebidas?

Fico muito triste ao ver esta cena. Triste por ter em Gondim uma pessoa que pregava a pura Palavra de Deus com inteligência e ousadia, mas que hoje joga fora a sanidade bíblica a favor de ventos de doutrina e de um ar de “Oscar Wilde” da teologia tupiniquim, mesmo sem ter a competência de nos legar uma obra como “O retrato de Dorian Gray”, mas com a mesma empáfia. Triste por ver que meus referenciais de juventude estão todos falindo. E triste porque, se os heróis de Cazuza morreram de overdose, os meus estão é murchando de vaidade.




Digão considera modismos "mudérnos" uma bobagem, aqui no Genizah






 

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