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A teologia da lata de Nescau


Digão

Certa vez, li um livro interessante com um título curioso: A teologia do cachorro e do gato. Nele, os autores fazem comparação entre as atitudes desses dois animais em relação aos donos (o gato, manhoso, queria se satisfazer, enquanto que o cão, leal, queria agradar) e nosso relacionamento com o nosso Dono.

Achei a analogia dos autores muito interessante, e fiquei pensando se é possível criar “teologias” a partir de coisas cotidianas, como, no caso, dos animais domésticos. Até que, um dia, eu tive um estalo, a partir da brincadeira de minhas filhas pequenas.

Crianças (e alguns adultos) gostam muito de fazer barulho. A coisa que elas mais apreciam é fazer uma batucadinha. Minhas meninas gostam de pegar latas vazias de alumínio, dessas de Nescau, e fazer uma bateria improvisada. Vendo aquela lata de Nescau agredindo meus ouvidos, comecei a formular a teologia da lata de Nescau.

Todos sabem como é a lata de Nescau. O alumínio faz um barulho danado se batermos nele. Mas a lata de Nescau só faz barulho se estiver vazia. Experimente fazer batucada em uma lata de Nescau cheia, de preferência lacrada, que você acabou de comprar no supermercado. O som que sairá é mínimo, comparado com uma lata vazia.

Na minha caminhada com Jesus, tenho visto muita “lata de Nescau vazia” nos templos. Pode reparar. É gente oca de vida, sem conteúdo, sem relacionamento sadio e santo com Deus, mas que, no entanto, faz um barulho danado. O barulho que fazem, na verdade, não é para atrair a atenção para o Senhor, mas sim para si mesmos. Quanto mais vazios, mais barulhentos.

Felizmente há também muita “lata de Nescau cheia”. Gente que não atrai a atenção para si, e sim para o seu conteúdo – a vida de Deus neles. Gente que não se importa com holofotes, gente com um relacionamento com Deus baseado na Graça. O conteúdo de suas vidas ocupa todo o espaço, não deixando que chamem a atenção para si, e nem precisam. Naturalmente eles exalam aquilo que Paulo classificou de bom perfume de Cristo (2 Co 2.15).

Quando vamos a um supermercado, não nos interessamos pela embalagem. Queremos saber se o conteúdo do produto é bom, se satisfaz as nossas necessidades. Tanto é que, quando o produto acaba, jogamos a embalagem fora. Uma lata de Nescau vazia só terá utilidade se for reutilizada para outros fins (guardar quinquilharias, como pregos enferrujados, por exemplo). Caso contrário, o seu destino é a lata de lixo. O que queremos, portanto, é o conteúdo, e não o invólucro.

Não é à toa que a Bíblia nos exorta tanto a estarmos cheios do Espírito (Ef 5.18), tendo em nossas mentes somente aquilo que presta (Fp 4.8). Na medida em que nosso conteúdo for o de Deus, despertaremos a atenção para Deus, e poderemos realizar o nosso papel de sal da terra e luz do mundo.

Porém, se estivermos vazios, seremos como o sal insípido, que só serve para calçamento (Mt 5.13), ou seja, ser pisado (outro termo poderia ser “humilhado”) pelos homens. E, no final, ser jogado no lixo da história.

Fica, então, a admoestação de Deus: viva cheio dEle. Busque-O sempre (Is 55.6). Molde seus padrões em conformidade aos dEle, e não tente fazer o contrário (Rm 12.1, 2). Enfim: seja uma lata de Nescau cheia, plena, e não uma lata vazia, barulhenta e sem significado.


Digão também gosta de Nescau, só que agora só toma diet no Genizah.

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  1. Que texto saudável! Nada como acordar em pleno sábado e me deparar com esta devocional! Gostei muito, Digão!!! Deus continue te concedendo muita criatividade e, obrigada pela reflexão!

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  2. Graças a Deus que, dentro desses "templos" do barulho, ainda existem uns poucos remanescentes sóbrios. Fiz uma viagem de ônibus neste último feriado e, no período de duas horas, um irmão anunciou o evangelho genuíno, sem oba-oba, na sua pureza e simplicidade, pra um público de jovens de cabelo arrepiado, brincos e tatuados, além de alguns bêbados e, mesmo assim, ninguém ousou argumentar contra a Palavra dita por ele, através do Espírito Santo, pois percebiam a autoridade divina presente naquele discurso. O irmão não usou títulos, não proferiu palavras eloquentes, simplesmente fechou os olhos e soltou o VERBO. O primeiro round durou cerca de meia hora, até que ele pediu que Deus abençoasse a cada um dos passageiros e, quando eu pensei que ele iria sentar para esperar sua parada, qual não foi minha surpresa ao vê-lo levantando porque um grupo grande entrou no ônibus, e começou a explanar de novo a Palavra, sem repetir um único versículo, e novamente ninguém xingou ou xavecou.
    Minha surpresa foi maior quando ele disse que congrega numa dessas igrejas que a maioria dos membros são latas de nescau vazias.
    Diante disto, fiquei feliz, pois percebi que resta uma esperança para que todos voltemos ao primeiro amor.
    Maranata!!!

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  3. Cara... que texto show de bola!

    Muito legal essa analogia com a lata de nescau vazia! Se me permitirem... gostaria de publicar esse texto em meu site:

    http://www.cabecajovem.com

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  4. O "Sermão" que ouviria se fosse à missa hoje, talvez não fosse tão cheio, saboroso e fortificante quanto essa "lata de Nescau"!
    Lindo Texto!

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  5. Caro irmão, sempre que a lata se esvazia nós a jogamos fora, é como nossa aparência que um dia irá para o túmulo e virá po. Quantos não terminarão ai pois viviam só da aparência, e quantos não escutarão o Senhor dizer: Não o conheço, e eles virão com aquele argumento previsto nas escrituras; "em seu nome não curei , não expulsei demônios...".
    Pense nisso.
    Em Cristo:
    Amarildo.

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  6. Parabéns pelo texto! Realmente vcs foram muito felizes nessa analogia."lata de Néscau"
    PERFEITO!!!!

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  7. Quando já estava desistindo de acompanhar o Genizah, pude perceber que ainda estamos buscando aprender de Deus que usa as coisas loucas para confundir as sábias.
    Sem ofensas, sem agressões, ou julgamento. Eu creio ser isto o que Deus espera de nós, sem barulho mas com conteúdo.
    Deus os abençoe!!!!!!!!!!!!

    Wellington Barbosa

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  8. Olá, reverendo Digão.
    Se algum dia tiver a oportunidade de estar contigo já está convidado para um chocolate quente! Abraços, Gelza Rúbia.

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  9. Pois eh ouvi recentemente algo que dizia assim: Você só grita para quem está longe. Para quem está perto um sussuro basta!

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  10. A lata do nescau não é de alumínio(pegue uma lata vazia de nescau e outra de cerveja e joga fora e observe qual o catador de rua vai pegar.)porém a analogia foi maravilhosa,impressionante percepção,parabéns pelo texto.

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