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Entre Blocos e Retiros



Hermes C. Fernandes


Uma parábola sobre o papel da igreja durante o Carnaval

Epêneto era o presbítero responsável pela igreja em Roma, desde que Priscila e Áquila tiveram que deixar a cidade em busca de novos campos missionários. Epêneto foi um dos primeiros a se converterem através do trabalho realizado por Paulo nessa cidade.

Aquela igreja era muito ativa, sempre aberta a acolher as pessoas. Quando havia algum cataclismo, fome ou guerra, os cristãos se mobilizavam para socorrer as vítimas. Por causa de seu envolvimento com a dor humana, ganhou a simpatia de todos, inclusive de funcionários do palácio de César.

Num belo dia, ouviu-se o clangor do clarim. Todos se reuniram para ouvir o que o mensageiro do império tinha para anunciar. Em duas semanas, o exército romano estaria chegando de uma campanha militar bem-sucedida. O próprio César o receberia com uma Parada Triunfal, que seria seguida de um feriado prolongado dedicado aos deuses Marte e Saturno, também conhecidos como Apolo e Baco, divindades da guerra e do vinho, respectivamente. Seria uma grande festa, regada a bebidas alcoólicas e todo tipo de luxúria. A população sairia às ruas para assistir ao desfile das tropas romanas, dando-lhes boas-vindas, e assistiriam à execução de milhares de prisioneiros. Ninguém trabalharia naqueles dias.

Epêneto ficou preocupado com a notícia. Qual deveria ser o papel da igreja durante essa festa pagã? Ainda inexperiente como líder, reuniu alguns dos mais antigos membros da igreja para discutir o que fazer.

Um deles, chamado Narciso, pediu a palavra e deu sua sugestão:

- Amados no Senhor, por que não aproveitamos o ensejo para promover um desfile paralelo, onde demonstraremos ao mundo a nossa força, revelando a todos nossa lealdade ao Rei dos reis, Jesus Cristo? Podemos até copiar algumas de suas canções, adaptando-as à nossa fé. Em vez de exibirmos prisioneiros, exibiremos testemunhos daqueles que foram salvos. Vamos montar nosso próprio bloco, quer dizer, nossa própria parada triunfal. Pode ser uma grande oportunidade evangelística.

Epêneto, depois de algum tempo pensativo, respondeu: Caro Narciso, a idéia parece muito boa. Porém, quem ouviria nossa voz durante os momentos de folia? Nosso modesto bloco se perderia no meio de toda aquela devassidão. Ademais, a maioria das pessoas estará embriagada, incapaz de entender nossa mensagem. Também não estamos preocupados em dar uma demonstração de força. Jesus disse que nosso papel no mundo seria semelhante à de uma pitada de fermento, que de maneira discreta, sem chamar a atenção para si, vai levedando aos poucos toda a massa. Por isso, acho que sua idéia não é pertinente. Quem sabe em gerações futuras, haja quem a aproveite?

Levantou-se então Andrônico, que gozava de muito prestígio por ser parente de Paulo, e sugeriu:

- Amados, durante o Desfile Triunfal e as Saturnais, a situação espiritual da cidade ficará insuportável. Divindades pagãs serão invocadas, orgias serão promovidas em lugares públicos à luz do dia. Não convém que estejamos aqui durante essa festa da carne. A melhor coisa a fazer é nos retirarmos, buscarmos um refúgio fora da cidade, e aproveitamos esse tempo para nos congratularmos, sem nos expormos desnecessariamente às tentações da carne.

Todos acenaram com a cabeça, demonstrando terem gostado da idéia. Já que seria mesmo feriado, ninguém precisaria trabalhar. Um retiro parecia a melhor sugestão.

O velho presbítero ficou um tempo em silêncio, meditando. Todos estavam atônitos esperando sua palavra, quando mansamente respondeu:

- Irmãos, não nos esqueçamos de que somos o sal da terra e a luz do mundo. Se no momento de maior trevas nos retirarmos, o que será desta cidade? Por que a entregaríamos ao controle das hostes espirituais das trevas? Definitivamente, nosso lugar é aqui. Não Precisamos deexposição, como sugeriu nosso irmão Narciso, nem de fazer oposição à festa, retirando-nos da cidade, como sugeriu Andrônico. O que precisamos é estar à disposição para acolher aos necessitados, às vítimas da violência, aos desassistidos, aos marginalizados.
A propósito, não temos estado sempre disponíveis para atender as pessoas durante as tragédias que tem abatido o império? E o que seriam tais desfiles, senão tragédias morais e espirituais? Saiamos às ruas, mesmo sem participar da folia, e estendamo-los as mãos, em vez de apontar-lhes o dedo, oferecendo compaixão em vez de acusação, amor em vez de apatia. Que as casas que usamos para nos reunir estejam de portas abertas para receber quem quer que seja, e assim, revelaremos ao mundo Aquele a quem amamos e servimos. Afinal, o reino de Deus se manifesta sem alarde, sem confetes, sem barulho, mas perturbadoramente discreto.

Depois dessas sábias palavras, ninguém mais se atreveu a dar qualquer outra sugestão.


* Esta é apenas uma parábola que elaboramos para emitir nossa humilde opinião acerca do papel da igreja durante o período carnavalesco.

Hermes Fernandes é um dos mentores da Santa Subversão Reinista no Genizah
Prática cristã 3865222187621862895

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  1. gostei da parabola e apoio a ideia, vejo que a igreja se acovarda fazendo retiros que nada mais sao do que "uma folia santa retirada em algum sitio meia-boca"
    acho que a igreja deve estar sempre pronta a ajudar as pessoas escravas do pecado
    mas ao mesmo tempo fiquei curioso em saber da igreja do hermes, o que voces fazem no carnaval?

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  2. Olá maninho Hermes Fernandes. Se eu tivesse uma grana (não gostaria de arrumá-la como os picaretas pastores/bispos/apóstolos de nossos dias) mandaria imprimir o número grande de folhetos e os remeteria para todas as igrejas. Este seu artigo foi direto na ferida... Estarei orando para Deus lhe dar sempre uma boa palavra.

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  3. Poxa!como seria maravilhoso se isso fosse a realidade de nossas igrejas.Mas infelizmente sabemos que os Pastores gostam de viajar para casas de veraneio e as ovelhas adoram ver escondidos de todos os desfiles das escolas de samba.Os nossos queridos e santos lideres pregam o inferno para quem se atrever a assistir no seu singelo e santo lar o maior espetáculo da carne mundial!

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  4. Enfim, é carnaval!
    “Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos, porque não ouvirei as melodias e os sons de seus instrumentos”
    Amós 5:23

    O feriado mais esperado pela população brasileira chegou, é hora de se soltar nas farras da vida, esquecer os problemas e cair na folia. O tempo de festas chegou, viva o carnaval! Parece estar nas origens do povão esta vontade de pular, gritar e extravasar os seus sentimentos e as suas frustrações. Durante cinco dias ou mais, varia de região para região, o País para, os vários ritmos tomam conta de todos os espaços nos quatro cantos do Brasil, na maior festa popular do calendário. Alegria, alegria é o refrão mais cantado e falado, aproveitar cada minuto da folia parece ser a única preocupação de cada folião ao longo do carnaval. Segundo especialistas é a expressão cultural sendo traduzida em cada movimento, nas fantasias e nos vários tipos musicais produzidos especialmente para estes dias.

    Mas, toda esta festa, todo este frenesi não acontecem sozinhos, atrás desta desculpa de gozar a vida durante estes dias, muita coisa perigosa e perversa vem junta. Assim, as drogas, o consumo excessivo de bebidas, a exploração irracional do sexo, as brigas, os crimes, a violência, as orgias, a depravação moral e outras coisas mais vêm para desestabilizar, ameaçar e destruir a saúde moral, física e espiritual de nossa gente. Muitos, dominados pelas drogas e pelo álcool, acabam perdendo a cabeça em situações tão complicadas, que jamais a terão de volta na sua forma original. Outros saem do divertimento mutilados sob todos os aspectos, carregando consigo uma sensação de culpa para sempre.

    O nosso povo está trocando a vida por muito pouco, mesmo sabendo que o nosso corpo está limitado na sua estrutura física. Satisfazer a carne é mais importante do que cuidar do espírito, dar ao corpo a sensação de prazer é tudo que interessa. Muitos pensam que irão enxugar as mágoas na garrafa de cerveja e que Deus é um gênio e está sempre presente naquele líquido dourado. Desce redonda, desce macia, é a numero um, e assim os fabricantes buscam iludir as pessoas com suas táticas de convencimento. Aí, na quarta feira vai todo mundo se apresentar diante de Deus achando que uma cruz de cinzas resolve alguma coisa.

    Ora, é obvio que a nossa relação de intimidade com Deus deve ser contínua, durante as vinte quatro horas do dia. Mas, infelizmente, neste período de manifestação cultural, que eu não aceito como cultura, o povo coloca Deus no cabide do guarda roupas e aí é só cair na farra. Deus, nem pensar! É lógico, a menos que aconteça uma tragédia qualquer, aí Ele é sempre o primeiro a ser solicitado para intervir no assunto. O desespero toma conta, e naquele momento o cidadão nem se lembra do guarda roupas ou do cabide. Parece brincadeira, mas é esta a realidade triste que nos deparamos com ela, e milhares de pessoas tem se enveredado por este caminho, sem qualquer preocupação com o futuro.

    Continua...

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  5. Continuação...
    Os prazeres efêmeros da carne, impulsionados pelo assédio de Satanás, tem levado as pessoas a distanciarem cada vez mais de Deus, esquecendo-se que um dia todos nós teremos que nos apresentar ao Tribunal Divino. Ali, diante do Supremo Juiz, deveremos estar prontos para ouvirmos o veredicto pelos atos que praticamos enquanto cidadão deste mundo. Você pode estar achando isto uma fantasia, mas e se por hipótese remota para você estas afirmativas forem verdadeiras? Quais serão os seus argumentos para justificar a bondade de Deus deixando-o entrar nas mansões celestes?

    Lembra-te do teu criador, recomenda a Palavra de Deus, pois tudo que você fizer há de ser trazido a juízo no dia do acerto de contas com Deus, quer você queira ou não. Naquele dia, a decisão não mais caberá a você, será Deus o executor da sentença, cabendo a você apenas cumpri-la no destino que lhe for designado em razão de sua passagem aqui neste mundo.

    Se você quer divertir, que o faça, mas lembre-se que Deus está de olho fixo nas suas atitudes, registrando cada movimento, para um dia que só ele sabe quando, convocá-lo para prestar contas de tudo. Pense nisto, dê uma chance pra Deus em sua vida. Não se deixe levar pela festa aqui, o carnaval é apenas por uns dias, pense na festa no céu, com os remidos do Senhor, ela será eterna, mas só entrará nela quem for reconhecido pelo promotor do evento, Cristo Jesus o Rei da Glória.

    “Lembra-te do teu Criador nos dias de tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos nos quais venhas a dizer: Não tenho neles contentamento”
    Eclesiastes 12:1


    Carlos Roberto Martins de Souza
    crms2casa@hotmail.com

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  6. Boa reflexão. Acho que os retiros desempeham um papel importante para uma parcela da igreja, hoje, mas incomoda-me pensar numa congregação que não consiga balancear suas ações, dedicando atenção também aos perdidos do Carnaval, ainda que seja estar de prontidão para receber pessoas que queiram se assitir a um culto ou até aquelas que possam desistir de cair na gandaia momesca.

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  7. Gostei muito do texto e trouxe uma grande reflexão! Deixar nossa cidade a mercê do inimigo ou ficar e enfrentar? O único problema são os soldados que viram a casaca e se bandeiam pro lado de lá!

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  8. Muito bom o texto! Hoje, pela milésima vez, fui convidado por mais um amigo para um acampamento... Disse assim pra ele: "O mundo está acabando e nós estamos acampando!"
    Rsrsrs... Dá até um post!

    Se juntarmos todos os R$ 100,00 de todos os 'e-vã-gélicos' (R$ 100,00 pra ser modesto porque tem acampamento bem mais caro por aí) poderíamos enviar para o Haiti, por exemplo, e aí os acampantes de lá teriam algo pra comer! Legal né!

    É, a coisa tá feia...
    Abraços a todos...

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  9. Antes de qualquer coisa, quero dizer que gosto muito do blog. Entro aqui quase que diariamente.

    No tocante ao texto, o autor deixa claro que esta é a forma dele, autor, pensar. Alguns concordam, outros não. O que às vezes incomoda é a maneira como os comentários são apresentados. Dizer, por exemplo, que "a igreja se acovarda fazendo retiros que nada mais são do que uma 'folia santa retirada em algum sítio meia-boca'" é negligenciar as bênçãos que um retiro pode proporcionar. Eu mesmo tomei a decisão de servir a Cristo em um retiro, em 1988.

    Acho pertinente a posição do autor do texto, desde que haja uma ação de evangelização estruturada, envolvendo a igreja e sua liderança. Deve ser visto como um trabalho da igreja, com planejamento inclusive. Se não houver uma ação formal nesse sentido, ou seja, se os pastores deixarem a cargo de cada irmão a iniciativa de pregar para os foliões, sabemos de antemão os resultados. Boa parte da membresia viajará por conta própria, às vezes com familiares e amigos não cristãos, deixando-se levar por influências do mundo. As ovelhas que ficam, ao ligarem suas TVs, assistirão aos desfiles e bailes de carnaval que povoam os veículos de comunicação durante esse período.

    O que quero dizer é nem o Êpeneto, nem Narciso e nem Andrônico estão errados (talvez Narciso rsrs). O que deve ser levado em conta é o que está no coração da pessoa. Talvez estar em um retiro em comunhão com os irmãos, edificando e sendo edificado, dando testemunho a visitantes e orando pelos foliões, seja muito mais efetivo do que estar no "mundo" sem salgar ninguém.

    Parabéns aos "primos" calvinistas pelo Blog.

    Marcelo Lima

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  10. Amei a reflexão! E Calhou exatamente com um trabalho que os jovens da minha igreja farão nesse carnaval!

    Tomei a liberdade de enviar ao e-mail da igreja. Com o endereço do site e tudo! Mas olha, muiiito bom!
    Abraços
    Em Cristo
    Babi

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