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Desespero profético: a obrigatoriedade da fala

Alan Brizotti


No desespero profético é uma aberração um profeta que passe alguns dias sem “mensagem”. Pisar em qualquer igreja, qualquer “solo sagrado” é sinônimo de mensagem. Encontrar alguém em crise (principalmente se esse alguém for rico) é engatilhar uma mensagem animadora.

No desespero profético não há espaço para o silêncio. Todos os sons precisam estar ligados. Os profetas circunstanciais não podem ter o luxo de perder uma oportunidade. Se a profecia falhar, foi o outro que duvidou. Essa é a perfeita rota de fuga da irresponsabilidade profética.

A coqueluche profética odeia o silêncio porque ele confronta. Chama para a intimidade mais nua, e os profetas da atualidade são viciados em multidões – conspiram contra a intimidade. O quarto vazio assusta.

Edgar Morrin criou uma expressão intrigante para designar alguns lugares da atualidade: “no place” (numa tradução direta: “não-lugar”). Lugares do não-pertencimento, como os shoppings centers. Lugares de todos e de ninguém. Muitas igrejas estão se tornando “no places”, lugares onde a busca por outros interesses tira Deus do foco e das ânsias. Não pertencer a Deus é não pertencer a nada.

Quando a espiritualidade é forjada num chão de obrigatoriedades o desespero humano se impõe. A igreja precisa compreender que há uma implicação muito maior entre o profetismo verbalizado e a vivência profética. Entre um vocabulário profético e uma história de vida que leve os homens a Deus.

O desespero profético é o efeito colateral do status sobre a teologia deformada dos dons. Deus procura servos. Homens e mulheres que possam honrá-lo não somente no marketing da frase: “eu profetizo”, mas sim na alegria de servir aos amados na comunhão sincera da igreja.

O desespero profético é o vazio tatuado de poder. É a mania de procurar afirmação no retorno do povo. Essa tentação do retorno escraviza muita gente. Quando minha vocação é legitimada no que o povo quer de mim, então sirvo a outro senhor. Quando minha alma é honesta diante do Pai, então abomino os aplausos e corro para o abraço do meu Consolador. Como escreveu Henry Scougall, professor de teologia na Universidade de Alberdeen, Alemanha, que morreu aos vinte e oito anos (1650-1678): “A vida de Deus dentro de nós, longe de prejudicar ou ferir alguém, nos leva a sentir qualquer mal que sobrevenha aos outros, como se tivesse acontecido conosco”. Esse deve ser o espírito do profeta.


Alan Brizotti desespera os falsos profetas no Genizah
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Postar um comentário

  1. EU PROFETIZO QUE VOCE TEM UMA MISSAO NA IGREJA E QUE VOCE DEVE VENDER O SEU CARRO E DAR PARA A IGREJA,POIS deus IRA DEVOLVER A SUA "OFERTA" EM DOBRO.ahehuahahehuhuha

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  2. Esse é um dos melhores posts aqui do blgo e o de menor número de comentários.

    A questão da "obrigação" de "pregar" o evangelho por meio de conversinha sempre me incomodou e a frase de S. Francisco de Assis : "pregue o evangelho todo tempo, se necessário use palavras" parece que nunca convenceu muitos amigos crentes.

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