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O que vale a pena lembrar

Zé Luís

Muitas vezes, as coisas não saem do jeito que desejamos que fosse.

O tempo passa, e descobrimos que as pessoas não são bem aquele belo retrato inicial, aquele sorriso feliz, aquele abraço emocionado. Começando por mim...

Vejo-me e já não sou o exemplo moral que pensei que fosse. Já não sou a resposta dos problemas de meu gueto.

O tal velho Adão que imaginei ter dominado está todo de fora, e em algum lugar do cômodo, tenho a certeza que uma gargalhada abafada ri de minha angustia, como se vingasse de minhas antigas vanglórias contra o inferno.

Os amigos se foram, e parece que toda esta solidão sempre esteve com seus braços frios abertos, esperando para seu abraço no dia de minha derradeira derrota.

Repenso minhas tristezas e busco imagens de minhas vitórias que mofam na estante de minha fraca memória. Inevitável não perguntar:

- Vale a pena? - penso eu, em meio a indiferença em qualquer assunto. Toda a luta altruísta, toda as intenções e conquistas... Para quê?

Daí, lembro de que não sou pioneiro nesta cansativa labuta, nesta caótica sucessão de coisas sem sentido.

Imagino a poeirenta e pedregosa ladeira que é riscada por um tronco, melado de suor e sangue do ofegante condenado. Inocente, entre gemidos e lágrimas, com as carnes das costas expostas pelo chicote, ainda enfrentará seis horas desta sexta-feira agonizando nu, entre cravos enferrujados, ridicularizações e muitas dores.

Sozinho, abandonado, traído, escarnecido, insiste em ir até o fim e cumprir seu estranho plano: morrer em lugar daquele que quer viver.

Não há explicações válidas.

Não há ninguém digno que valha tamanho sacrifício.

Sorrio então.

Sou um dos inválidos que aceita esta morte.

Não é por que valho algo que ele se sacrifica. É por que Ele vale.

Aquela gargalhada parece ser engolida, e vejo, pelo canto do olho, o vulto nojento bater em retirada, rabo entre as pernas, ouvindo agora a minha gargalhada.

O telefone toca, alguém pede ajuda.

É alguém que não sabe o que fazer, também esqueceu da cruz, como eu.

Tenho o que dizer e fico feliz por isso.

E mais um dia se põe, e sinto as mãos Dele me acalentarem.

E durmo, como dormem os justos, mesmo sabendo que não sou digno de seu sacrifício, mas tendo um Deus incompreensivelmente amoroso.


Zé Luís, um cristão quase sempre confuso, em raro momento de reflexão registrada no Genizah
Sabedoria 346260265683502044

Postar um comentário

  1. O que comentar? Só posso parabenizar!

    Coração rasgado... Quase molhei o teclado...

    Parabéns!

    Fica com Ele

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  2. Fantástica reflexão!
    Deus continue abençoando-te.

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  3. Com certeza.
    Sempre ele pra nos amar inexplicavelmente, mas com um propósito.
    Show de bola o texto.
    Tamo junto.
    Paz aí.

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  4. A paz do Senhor!

    Quão grande é este amor!

    Quão indignos somos, e mesmo assim Ele nos ama. Que o nome dEle seja eternamente glorificado!

    Que Deus o abençõe por este texto tão edificante.

    NEle, o Sumo Sacerdote, Rei dos reis e Senhor dos senhores,
    Cícero Leandro Júnior.

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  5. oh Zé este texto é uma prova que Deus nos olha com crianças barulhentas, egocentricas mas amadas e sendo fustigadas por Ele, como bom Papai. Ontem "liberei" (acho que este termo e meio pentenca)todo tipo de improperio raivoso pela minha pequena tribulaçao, segundo a biblia, mas imensa para meu ego ferido e amado e alimentado.(que Deus me ajude a mata-lo de fome). Hoje este artigo mostrou mais uma vez, e nao é a primeira, de muitas palavras de alento do meu Papai. Obrigado Senhor e a ti toda a gloria e poder.
    Obrigado meu caro Zé

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