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A patética retórica do pregador canastrão



Levi Bronzeado




A arte de fazer sensacionais sermões para as massas tem sido revitalizada nas últimas décadas. As reformulações têm sido uma constante, a fim de cativar os expectadores a ensimesmarem-se diante de um drama teatral de péssimo gosto, que poderíamos denominá-lo de “cristianismo de resultados imediatos”.

Nesse grande teatro dos absurdos, interessa mais a forma de dizer, do que o que se diz. Os “preletores-atores” da modernidade são homens de raro talento e de uma utilidade real (R$). São pregadores mais eloqüentes do que aqueles vestidos de batinas e barretes quadrados em suas cabeças, que pregam do alto de seus ornamentados púlpitos para uma multidão apática e sonolenta.

Os que mais se destacam são aqueles dotados de todas as qualidades imaginativas, racionais e gestuais. São os menos sensíveis, isto é, são aqueles que sabem impressionar sem demonstrar que lá no fundo são insensíveis aos afetos mais humanos.

Esse comediante de “deu$” capta tudo que o impressiona na Bíblia. Seleciona coletâneas previamente ensaiadas, para seus discursos acalorados e falsos milagres. É uma pessoa genial em lotar vastos salões e estádios. É lá nesse recinto que o seu fantasma se eleva, fazendo sua cabeça tocar às nuvens. Não é o seu coração, mas é a sua cabeça que faz tudo.

São atores que se acham demasiado ocupados em imitar, e que vivem eternamente afetados no íntimo deles próprios. A lágrima que escapa dos seus olhos comove mais que todos os prantos. Nessa trágica comédia gospel, muitos que os ouvem, se dedicam a copiar as suas loucuras e diabruras. No entanto, o olho do prudente capta o ridículo desses espetáculos que a massa ignara não enxerga.

Todo o talento deste “grande homem de deu$” consiste em não sentir, mas inescrupulosamente representar. Os gestos de seu desespero são decorados e foram ensaiados diante de um espelho. Ele sabe o momento exato em que vai tirar o seu lenço para enxugar a lágrima que a emoção deixa rolar. O tremor de sua voz, as palavras suspensas, os sons sufocados e arrastados, o frêmito dos seus membros, a vacilação dos joelhos, os furores, o trejeito patético, a macaquice “sublime”, o soco no ar, a voz rouca se extinguindo ─ , nada chega a lhe perturbar e nem lhe causar melancolia e abatimento da alma. Pelo contrário, tudo isso funciona como um gel anestesiante que inunda o seu divinal “ego”, provocando-lhe delírios e alucinações. As lágrimas desses folclóricos comediantes descem dos seus cérebros, enquanto aquelas do homem sensível brotam do coração.

Às vezes, esse ator midiático se ajoelha no piso brilhante de seu palco, como um sedutor que se ajoelha aos pés da mulher que não ama, mas quer enganá-la. Nada é verdadeiro no palco desse embusteiro gospel. A postura, o modo de caminhar, os bordões para inflamar a plateia ─ tudo é maravilhosamente falso.

Esse ator de terceira categoria não é um piano, nem uma harpa, nem um violino; ele não tem acorde que lhe seja próprio, mas tem o acorde e o tom que lhe convém. Fala sempre, e sempre bem; é um adulador profissional e um grande cortesão. Sim, um grande cortesão da palavra mágica, um fantoche maravilhoso que assume toda espécie de formas ao bel prazer do barbante que está nas mãos do seu “senhor”.



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Em Ensaios & Prosas e também no Genizah
Marketing da Fé 1251551494372962578

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  1. Resumindo o texto em uma frase: "No entanto, o olho do prudente capta o ridículo desses espetáculos que a massa ignara não enxerga".
    Graças a Deus pelos prudentes que não se deixam levar por esse "teatro". Quanto à massa ignara, resta-nos alertá-los, como temos feito.
    Deus vos abençoe.

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