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Perdendo o Céu de Vista




Há tempos estava conversando com um amigo no pátio de uma Igreja Congregacional quando, de repente, ouvi uma canção de Kurt Kaiser, baseada no Salmo 121, que fora gravada no Brasil, pelo grupo “Vencedores Por Cristo”, e que estava sendo ensaiada por um grupo da igreja. Nossa conversa mudou de direção e começamos a falar, então, de alguns fenômenos do evangelicalismo brasileiro, principalmente, no que diz respeito às letras das nossas canções.

No meio da conversa meu amigo sentenciou: “... o problema, é que nós perdemos o céu de vista...” É verdade! Não queremos mais ir para o céu! Perdemos a “ardente expectativa” da eternidade. E isso está refletido em nossa teologia, em nossa práxis religiosa e, também, nas letras de nossas canções. Fala-se muito em “posse”, “conquista”, “restituição”, “prosperidade” e etc. Mas, o anseio pela glória por vir já não nos impressiona mais. Nas gerações passadas, a eternidade era o tema central do bom pregador. Todos os esforços da igreja eram de cunho evangelístico e tinham como alvo máximo levar o pecador a se reconhecer como tal diante de Deus e, então, mostrá-lo que para seus pecados serem perdoados, seria necessário depositar a fé em Jesus Cristo. Feito isso, o pecador receberia o maior dos dons, o maior presente, a mais sublime esperança... A Vida Eterna! E por causa dessa vida eterna tudo se sofria. Tudo se suportava. O céu o era o nosso quinhão. A nossa maior esperança. O nosso maior consolo. Meu Deus... Homens e mulheres, aos milhares, espalhados nos campos missionários deste imenso mundo, morreram por assim crerem.

A vida eterna com Deus sempre foi a força motriz, a mola mestra da evangelização. Infelizmente, já não é mais assim. Esperamos somente neste mundo. Esquecemos que somos “peregrinos”, que este lugar não é nosso. Não pertencemos a este mundo. Somos cidadãos dos céus. E é para lá que devemos olhar e esperar. Mas, não é isso que se canta mais! Não é isso que se prega mais! Não é isso que se espera mais! O importante agora é conquistar a vida terrena, é prosperar, é conseguir êxito financeiro, aplausos humanos e sucesso profissional. A medida mudou. O céu agora é apenas a boa continuação das bênçãos que comecei a gozar aqui. Não é mais o centro e eixo de nossa vida e espiritualidade.

Já ouvi pregações do tipo “... não pensem que tudo o que Jesus fez foi abrir um buraco no céu...” tentando convencer os ouvintes de que o céu é muito pouco e que deve haver algo a mais para experimentar. Para mim, tal declaração é uma blasfêmia, pois Jesus deixou-nos claro, em suas palavras, que Ele veio para fazer a vontade do Pai e esta é a seguinte: “... que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6. 39-40). A vida eterna com Deus foi a causa da missão de Jesus.


O amor de Deus pelos seus eleitos fez com que Ele viesse nos buscar. O céu, a morada com Deus é o ápice da nossa redenção, é o momento máximo da nossa história de salvação que começa aqui. O céu é o triunfo dos remidos! É o nosso porto seguro! A estação final! Tudo Jesus fez para alcançar este propósito. Todo o seu sacrifício tinha como alvo nos levar para morar com Ele. Mas, estamos nos esquecendo disso! Estamos “perdendo o céu de vista”. Que Deus tenha misericórdia de nós.


Soli Deo Gloria!

Idauro Campos é pastor congregacional, mestre em Ciências da Religião e colaborador do Genizah


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