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Só Leia se Desejar Aprender a Ser Feliz

Carlos Moreira

Hoje é sexta-feira, dia em que tiro à tarde para aconselhar pessoas na igreja. Eu recebo também aqueles que precisam de ajuda no meu escritório, e estes se constituem a maioria. Acho que as pessoas não gostam de ir ao gabinete pastoral para não serem vistas, afinal, é bom sempre manter as aparências. Ou não...

O bom conselheiro é aquele que ouve muito e fala pouco. Não raras vezes, as pessoas falam por 30 ou 40 minutos e eu uso apenas 5 para me colocar. Acho curioso quando, ao final, depois de orarmos, ouço o seguinte: “pastor, foi maravilhoso vir hoje aqui, o Sr. me ajudou muito”. Dou um pequeno sorriso e despeço-me cordialmente. Na verdade, em nossa sociedade, as pessoas precisam apenas ser ouvidas...  

Curioso, mas todo mundo que vem para o aconselhamento trás uma questão em comum: deseja ser feliz. É legítimo, razoável, desejável, mas, quase nunca, alcançável, pelo menos não do jeito que eles imaginam. É que a felicidade, ao contrário do que se pensa, não é um estado perene na existência, mas uma estação sazonal. A vida é mais feita de dores e perdas do que de risos e conquistas. E isso, eu lhe garanto, se você ainda não aprendeu, aprenderá. 

Gosto muito do livro de Eclesiastes. Acho que, no velho testamento, é um dos meus preferidos. Construído em linguagem poético-sapiencial, escrito por um sábio com consciência epicurista, Eclesiastes nos chama a analisar a vida como ela é, sem disfarces, sem contornos religiosos, sem melodramas, tudo preto no branco.

É nesta perspectiva que, no capítulo 9, o filósofo-religioso nos dá alguns conselhos para alcançarmos a felicidade. Não sei se servirá para você, acostumado aos “10 passos para isto ou aquilo”, ou aos manuais de auto-ajuda, ou a teologias complexas, mas, para mim, pobre de espírito, quebrantado de coração, caiu como “uma luva”.

1º. Conselho – “Portanto, vá, coma com prazer a sua comida, e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz”. Em outras palavras, o melhor da vida está nas coisas simples. Comer é privilégio para poucos, pois nem mesmo os ricos o podem fazer. Estes estão sempre apressados, quase não tem tempo para se alimentar, comem no fast food, no McDonalds, pedem comida Chinesa, entregue numa caixa de papelão, e se alimentam na mesa de reunião do escritório.

Comer pão e vinho nos remete a simplicidade, e o simples, como sabemos, é o contrário do fácil. Além do mais, eles representam elementos cúlticos, ou seja, comer é dádiva de Deus, se alimentar é resultado do esforço do homem. O pão dos justos Deus o dá enquanto eles dormem, diz o salmista.

A verdade é que nós complexificamos muito a vida. Tornamos o essencial relativo, e o supérfluo essencial. Tenha certeza de uma coisa: se você conseguir se livrar da metade das contas que paga por serviços e produtos que não lhe farão falta, viverá muito melhor do que vive hoje. Bertrand Russell escreveu: “Não possuir alguma das coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade”. Sim, se vivermos assim, Deus se agradará das nossas obras.

2º. Conselho – “Esteja sempre vestido com roupas de festa, e unja sempre a sua cabeça com óleo”. Traduzindo: viver deve ser algo prazeroso, mas, tome cuidado, a falta de equilíbrio pode fazer da existência uma experiência doentia e patológica.

Deus gosta da alegria, da festa, da música, da dança, do prazer, do riso e da satisfação. Quem disser o contrário, não o conhece, tem por referência um holograma caricaturado da sua própria projeção psicológica do sagrado, talvez associada a uma figura de autoridade próxima, não raro, um pai dominador, severo e inafetivo.

Ora, a vida nos foi dada para que a experimentássemos em todos os seus matizes, para que pudéssemos nos realizar e ter prazer e alegria. O cristianismo, infelizmente, mudou esta perspectiva que, notadamente vemos em Jesus, transformando-se numa religião asceta, que busca a ataraxia, a mortificação do eu, a sublimação do ser. Mas o que sei é que a Verdade liberta, torna-nos seres em expansão, não só do pensamento mas das sensações, pois “tudo é puro para os puros”.

O problema não está em viver com “vestes de louvor”, cingido de alegria, envolto com “ares de festas e luas de prata”. Não. O problema está no exagero, no excesso, na extravagância, no prazer pelo prazer, na tentativa de fazer a alma se saciar com aquilo que não gera a paz nem produz o bem. Por isso nossa cabeça precisa estar untada com óleo, pois óleo, neste texto, significa aquele elemento que produz cura, que sara feridas, que protege nossa consciência e nos traz de volta a razão. É o óleo do Espírito, derramado em nossos corações, que sara as seqüelas produzidas pelas experiências dolorosas da existência humana. Por isso, no que depender de você, nunca permita que ele deixe de cair sobre sua fronte.

3º. Conselho – “Desfrute a vida com a mulher a quem você ama, todos os dias desta vida sem sentido... Pois essa é a sua recompensa na vida pelo seu árduo trabalho debaixo do sol”. Aqui a intenção do autor é nos alertar que a coisa mais preciosa que temos são as relações de amor que construímos. Relacionamentos são eternos, perpassam da vida para a eternidade, tudo o mais fica aqui, pois diz o sábio, “ao morreres levarás tudo o que és e deixarás tudo o que tens”.

Apaixonar-se por alguém é o que há de melhor na vida. As pessoas mais felizes que conheço são aquelas que construíram relações duradouras, que conseguiram unir o amigo e o amante na mesma cama. Por isso o sábio diz que nem mesmo aquilo que o dinheiro pode comprar é capaz de sobrepujar-se a satisfação de se ter alguém a quem amar, alguém a quem se possa entregar a alma, o copo e a vida.

4º. Conselho – “O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria”. Aqui o sábio nos chama a um encontro com o inevitável, a um encontro com o Deus Eterno!

A vida é feita de escolhas. Devemos e podemos realizar tudo aquilo que nos for possível, mas sem perder a referência de que tudo isto um dia passará e, portanto, nosso coração não deve estar naquilo que produzimos, mas em quem estamos nos tornando. Se esta perspectiva não for assumida na vida, se nossa existência se resumir a vivermos para trabalhar, e não a trabalharmos para viver, o que nos espera será apenas o nada, o não-ser, pois existir fora de Deus é tornar-se absurdo.

Para mim, isso é inferno. Inferno não é um lugar, mas um sentir. Todo texto sobre o tema é metafórico, recortado por alegorias. Quem imagina o inferno como um caldeirão com óleo fervendo e um “capeta” lhe espetando com um tridente não tem qualquer entendimento sobre a bondade e misericórdia de Deus.

Sabe o que é inferno? É toda existência que ignora a graça, é viver para si mesmo, é nunca perceber-se necessitado de perdão, é endurecer-se a tal ponto que a centelha que produz o arrependimento nunca possa ser acesa. Há tanta gente que “ama” a Deus com medo do inferno que, se chegar ao céu e descobrir que ele não existe, pelo menos do jeito que imaginam, irão reclamar de Jesus por não terem vivido a vida, mas apenas amordaçado o ser. 

5º. Conselho - Já me disseram que se conselho fosse coisa boa não era dado e sim vendido. De fato, depois de 30 anos de caminhada, isso me faz todo sentido. Mas como eu recebi de graça, de graça também quero repartir. Gandhi afirmou: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” Por isso, se o que disse lhe servir para alguma coisa, aplique a vida, faça o caminho, e o Caminho se fará em você. Se não te aproveitou em nada, sigas em paz.


Carlos Moreira é culpado por tudo o que escreve. Ele posta aqui no Genizah e também na Nova Cristandade.




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  1. ESCUTATORIA

    Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória.
    Todo mundo quer aprender a falar...
    Ninguém quer aprender a ouvir.
    Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
    Escutar é complicado e sutil.
    Diz Alberto Caeiro que...
    Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
    É preciso também não ter filosofia nenhuma.
    Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
    Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
    Parafraseio o Alberto Caeiro:
    Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.
    É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
    Aí a dificuldade:
    A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...
    Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
    Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração...
    E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
    Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
    No fundo, somos os mais bonitos...
    Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
    Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
    Há um longo, longo silêncio.
    Vejam a semelhança...
    Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio...
    Abrindo vazios de silêncio... Expulsando todas as idéias estranhas.
    Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.
    Aí, de repente, alguém fala.
    Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
    Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos...
    Pensamentos que ele julgava essenciais.
    São-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou.

    Eu falo logo a seguir... São duas as possibilidades.
    Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
    Na verdade, não ouvi o que você falou.
    Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
    Falo como se você não tivesse falado.
    Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
    É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
    Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
    O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo que você falou..
    E, assim vai a reunião.
    Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
    E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
    Eu comecei a ouvir.
    Fernando Pessoa conhecia a experiência...
    E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.
    A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
    No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos..
    Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia...
    Que de tão linda nos faz chorar.
    Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
    Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
    Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.

    *Adaptado

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  2. Me ajudou, muito.
    @danysussa

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  3. Irmão carlos,
    como sempre você expressa com suas palavras o que muita vezes sentimos e não temos força moral para sustentar,bem se vê que és um homem que realmente anda em liberdade ao ser orientado pelas sagradas escrituras.

    graça e paz!

    Juliana Ferreira.

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  4. Gosto muito de aprender; e acabo de aprender muito com vc.

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