UM MONTE... DE BOBAGENS
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É moda no meio evangélico de nosso país organizar grupos de pessoas para subirem a um monte e ali orar. Aliás, nem sei se realmente tem oração por lá, pois eu nunca fui, e tirando por base os cultos de oração e os círculos de oração existentes hoje em nossas igrejas, que têm tudo (oportunidades, cantores, vasos, profetas, retetés, sapateados, muito barulho e muito “mover do Espírito”), só não têm mais oração (muito diferente dos cultos de oração da minha mocidade, onde tínhamos 15 minutos de louvor, 1 hora de oração e 30 minutos de pregação da Palavra), eu suponho que o que acontece lá no alto não seja tão diferente do que ocorre aqui embaixo!...
Primeiramente, deixo mais uma vez muito claro que sou pentecostal. Creio nos dons espirituais conforme descritos em 1 Co 12:1-11, mas creio também na ordem e na decência aplicados ao uso dos dons na Igreja, conforme relatado em 1 Co 14:1-40. Creio que o padrão dos crentes de Beréia em examinar as Escrituras é o ideal, pois do contrário eles não teriam sido elogiados no texto sagrado (At 17:11).
O maior problema é exatamente este conjunto de regras deixado por Deus na Bíblia. Observando-se o que acontece nos cultos, totalmente inspirados nas experiências e na pseudoliberdade do Espírito (não existe liberdade sem disciplina), concluimos que ou Deus se enganou ao inspirar os capítulos 12 e 14 de 1 Coríntios, ou as normas ali dispostas foram feitas justamente para limitar e muito o "agir de Deus" no nosso meio, que na grande maioria dos casos parece ser o agir da carne mesmo! Daí o motivo de tais regras não serem obedecidas, e os ditos “espirituais” desprezarem as normas deixadas pelo próprio Deus para a Igreja: em nome de uma liberdade antibíblica do Espírito Santo eles querem fazer o que bem querem e entendem, desprezando a Palavra, embora Paulo deixe muito claro, falando das normas de 1 Co 12 e 14, que “se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (1 Co 14:37). Você é profeta? É espiritual? Bem... Não preciso dizer mais nada em relação a este assunto. Agora, é com você a decisão se vai passar a seguir o que está escrito, ou vai continuar fazendo o que te der na telha em nome da "liberdade do Espírito"!
Creio também fielmente que os homens devem orar em todo e qualquer lugar (1 Tm 2:8), e isto inclui os montes. Não é correto desprezar nenhum ambiente, seja ele o ambiente de trabalho, a rua, a nossa casa, o leito do hospital, a praia ou o monte. Entretanto, é importante analisar a prática de oração nos montes à luz das Escrituras.
Chegam aos nossos ouvidos muitos relatos de experiências em montes, desde os “moveres” existentes até a suposta luz na vegetação rasteira, que parece fogo e parece dar o aval da presença de Deus no ambiente. Entretanto, é bom lembrar que nos guiamos por fé, e não por vista (2 Co 5:7). Não quero necessariamente tratar destes fenômenos ou analisa-los, visto que nunca os presenciei. Quero apenas falar algo, analisando tudo à luz da Bíblia sagrada, única regra de fé e prática que reconheço e que a Igreja deveria igualmente reconhecer. Afinal, nas reuniões espíritas também é possível visualizar luzes e outras manifestações, e nem por isso podemos afirmar que o que lá ocorre é de Deus...
Jesus tinha costume de se deslocar aos montes para orar (Mt 14:23; Mc 6:46; Lc 6:12). Era seu lugar de refúgio, onde ele podia orar em paz, longe das multidões. Mas é importante observar que Ele ORAVA SOZINHO, buscando privacidade que não tinha nas cidades e nos vales. Não há registros na Escritura que Ele levasse nem mesmo os apóstolos da "tropa de elite", Pedro, Tiago e João, e nem tampouco Ele mandou que orássemos em montes — Ele não proibiu, mas também não deixou como regra doutrinária.
No único relato em que Jesus convida os discípulos para subirem junto com Ele ao monte e experimentarem uma experiência sem limites, fica claro que eles não estavam preparados para grandes experiências (Mt 17:1-9), como parece também ser o caso de muita gente de nossos dias também. A falta de maturidade de Pedro, Tiago e João fez com que eles interpretassem mal a experiência, falassem bobagens e tivessem mais medo que regozijo com a manifestação do Reino de Deus.
A mulher samaritana julgava, junto com toda a sua comunidade, que o local mais adequado de adoração a Deus era o monte (Jo 4:19ss), da mesma forma que muitos crentes nos dias de hoje pregam que cultos, vigílias e orações nos montes são mais avivados, mais poderosos, onde a presença de Deus pode ser melhor sentida, os crentes ficam mais perto de Deus etc. Mas Jesus deixou bem claro que nem em Jerusalém e nem no monte eram os lugares adequados para a adoração.
Não há em qualquer lugar da Bíblia qualquer menção que no monte seja mais fácil Deus ouvir ou responder às nossas orações, assim como não há igualmente menção de que orar pela madrugada faça mais efeito que orar de dia. Estas são "lendas evangélicas" que ganham corpo em nosso meio e aos poucos ganham status doutrinário. Quem acredita nesta bobagem nem sabe que a sua crença fere os atributos divinos de Onipresença e Onipotência quando sugere lugares aonde "é mais fácil Deus ouvir"!
Jesus determinou como melhor lugar de oração o quarto secreto (Mt 6:6). Eu entendo este quarto secreto como um quarto, uma sala ou um monte, desde que seja o MEU LUGAR SECRETO com Deus, só eu e Ele, sem nenhuma interferência de terceiros, o que nem sempre é possível nos montes, a menos que eu suba sozinho. Os montes para o Senhor Jesus eram o Seu lugar secreto, únicos locais aonde Ele encontrava um pouco de privacidade, enquanto nos dias de hoje na verdade eles têm se tornado ambientes coletivos, onde os santos-de-carteirinha arrotam sua santidade diante dos "menos crentes", onde se fazem vigílias e outros tipos de reuniões, menos experiências secretas com Deus.
Se o monte fosse o melhor lugar de oração, o lugar das grandes experiências com Deus, o lugar eleito por Deus como o melhor e o mais privilegiado, o que fariam os velhos, os aleijados, os doentes e os incapacitados de escalá-los? E as pessoas que moram em locais planos, aonde não existem montes? Deus estabeleceria lugares melhores, mais privilegiados, mas que alguns dos seus servos estariam impossibilitados de acessá-los? Eis porque, na sua sabedoria, Jesus escolheu o quarto, em secreto, como o melhor lugar de oração que existe! Todas as pessoas, moças ou velhas, pequenas ou grandes, independentemente da situação em que se encontrem, podem a partir de seu quarto orar ao Senhor e ter a certeza de que Ele ouve e responde às suas petições. Não podemos crer que Deus estabeleceria montes como locais privilegiados quando muitos não poderiam ir a este local... Isto criaria duas classes de crentes, uma mais privilegiada que a outra...
Paulo orienta que devemos orar em todo lugar (1 Tm 2:8). Logo, o monte está incluído, mas não é local privilegiado. Cada um escolhe o melhor lugar para orar, inclusive o monte. Eu tenho amigos que preferem orar em locais isolados; eu pessoalmente gosto muito de orar caminhando, no meio da rua mesmo, indo ao trabalho ou a qualquer outro lugar. Ninguém peca por preferir orar em montes, mas peca em dar-lhe a preferência ou a primazia sobre os demais locais de oração.
Este é outro problema: a acepção de lugares e de pessoas. Os que oram no monte muitas vezes se julgam mais espirituais, melhores e detentores de maior comunhão do que aqueles que não o fazem. Julgam os que não têm esta prática de "frios" e outros "xingamentos gospel". Isto é faccioso e antibíblico!
O ato de subir em montes também NÃO É sacrifício, embora algumas denominações "pseudoevangélicas" queiram associar a subida, com garrafões de água às costas, como um sacrifício dos pastores pelo povo. Se você sobe ao monte e faz o esforço da subida como sacrifício a Deus, reveja seus conceitos e olhe para o Calvário, ÚNICO sacrifício perfeito e aceitável por Deus.
Finalmente, o ambiente de reunião coletivo em montes deve ser acompanhado por pastores experientes e zelosos em relação à Palavra de Deus, pois se trata de mais um ambiente onde novidades são facilmente implantadas com o uso do sensacionalismo. Aproveita-se exatamente a ausência de pastores para fazer-se o que se dá na telha! A falta de controle doutrinário torna o ambiente altamente propício para novidades e excessos que ultrapassam o que está escrito (1 Co :6). Não nos enganemos: desde Jesus somos alertados para falsos profetas! Temos que reconhecer que tem muuuiiiiita gente no nosso meio que, usando "profetadas", “visagens”, “revelamentos” e até mesmo truques de adivinhação e mágica, iludem os incautos e os induz a se afastarem da Palavra de Deus. Em Dt 8:11 e Dt 13:1-5 vemos o cuidado de Deus para que os seu povo, crédulo por natureza, não seja enganado ou desviado do caminho por pessoas inescrupulosas, portadores de agilidades mágicas.
Independente de ser o quarto, a rua, o monte ou qualquer outro ambiente, o importante é orar, buscar ao Senhor, encontrar tempo para conversar com Ele em local solitário. Podemos fazer isto em grupo também, em casa ou no monte. Mas tudo isso sem nos afastar das Escrituras, que quer queiramos ou não são a lâmpada fiel para iluminar nosso caminho e nossas escolhas. Cuidemos, pois, para não escolhermos o monte da multidão, ao invés do monte do a sós com Deus. Vigiemos, pois, para que o nosso monte não vire um monte de bobagens!
Zilton Alencar é Esquizilton, mas é chapa do Genizah
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Nem Jesus gastou tanto tempo pra falar sobre oração no monte.
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