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A ESCRITURA, A VERDADE E AS POSSIBILIDADES



Fabrício Cunha


Existem, no mínimo, dois campos semânticos para a interpretação da verdade bíblica: o pastoral/existencial e o acadêmico/científico.

No primeiro caso, a verdade não é um conceito, mas uma pessoa, Jesus Cristo. A verdade revelada tem um cume, um ponto máximo no qual toda Escritura incorre e esse ponto é Jesus de Nazaré. Assim, a ação pastoral de Jesus nos evangelhos é a chave hermenêutica para a interpretação de todos os outros textos da Escritura. E quando eles se embatem, o ensino pastoral/vivencial de Cristo prevalece.

No segundo caso, a Bíblia passa de um livro inspirado para um livro histórico, situado dentro de um contexto que também é descrito em outros livros, que deve passar pelo crivo de critérios científicos comuns a outros escritos.

Se são campos de estudo diferentes, uma coisa não afeta a outra, isto é, o crivo científico não deve deliberar sobre a fé e a fé não deve ser a régua para a avaliação histórico crítica da Bíblia.

De minha parte, penso que a Bíblia é um livro fantástico, de riqueza e variedade literária únicas, cheio de sabedoria, de histórias impressionantes e de mitos, cujas lições são mais profundas e bonitas se a interpretarmos à luz de cada “caso literário”, do que se a lermos de forma literal e acrítica, interpretando toda a sua variedade literária por um mesmo óculos.

Por exemplo, mesmo diante de muita história mítica, os preceitos e lições podem ser aplicados atemporalmente.

Assim, aqueles que vivem em busca da “falácia” perdida, não entenderam a riqueza das possibilidades de interpretação bíblica, bem como os que mandam para a fogueira quem não crê literalmente que Jonas “morou” na barriga de um peixe, não entenderam a variedade literária que, na interpretação, precisa ser respeitada.

Para mim, por exemplo, uma das grandes belezas da Escritura sagrada é, na inspiração humana, a manutenção das características pessoais do escritor, bem como dos aspectos culturais, geopolíticos, sociais e contextuais de seu tempo.

Mas, no final mesmo, creio intimamente que a verdade persegue a gente.

Ela é mais forte que tudo.








 
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