O dom pornografico de Mark Driscol é pura heresia.

Marcelo Lemos

Desde o dia que iniciei meus estudos teológicos sabia que não teria um caminho fácil. Não tive. E não tenho. Minha primeira luta foi contra o legalismo religioso e, que Deus me livre da hipocrisia!. Uma luta que precisei travar dentro de mim mesmo, e não apenas com a mentalidade que me cercava. Depois vieram novos desafios, novas muralhas mentais a serem vencidas, e não creio que já tenha ido longe o suficiente – há sempre algo a ser reformado em nós. Mas, alguns desafios são mais notáveis que outros.

Talvez nenhum desafio supera o de ter sido por muitos anos um pentecostal “calvinista”, e o de ser hoje um reformado “carismático”. Para alguns, é um paradoxo; para outros, uma contradição. Ouvi de muitos pentecostais que eu estava ensinando uma doutrina de demônios, e o mesmo ouvia de muitos reformados quando sabiam da minha crença na atualidade dos dons. Devo admitir que a fé reformada fez ruir meu castelo pentecostal, a ponto de eu abandoná-lo. Sei que alguns rirão disso, pois não aceitam a diferença entre “pentecostal” e “carismático”; mas creio que a diferenciação é verdadeira, como já expliquei em outras ocasiões. Alias, recentemente me vi `obrigado` a lidar novamente com esse `problema` em `Sou Reformado, queiram ou não!`.

Mas, até que certa comparação é justa, dado que pentecostais e carismáticos acreditam na atualidade dos dons espirituais. Ao contrário dos chamados rotineiramente de “cessacionistas”, que dizem que os dons cessaram com os Apóstolos. Dizem os cessacionistas que não é possível crer “apenas na Bíblia” e ao mesmo tempo aceitar “revelações modernas”. E para minha surpresa, um dos exemplos mais recentes usados pelos cessacionistas vem do afamado pregador americano Mark Driscoll, que nesta era de Internet dispensa maiores apresentações. 

O problema é que Mark Driscoll parece possuir um dom pornográfico. Segundo ele, algumas vezes, especialmente durante aconselhamentos, o Espírito Santo permite que ele veja em sua mente, como se fosse na tela de uma TV, os atos sexuais mais imorais e obscenos que podemos imaginar, desde pedofilia e estupro até o adultério. Não é um relato simplesmente, ele afirma “ver tudo” e “como na tela de uma tv”. Ou seja, pornografia inspirada pelo... bem, não posso concluir tal frase pela óbvia blasfema que ela contém! 

Com vocês, as revelações de Driscoll, gravadas e transcritas de sua mensagem “Christus Victor”, em 5 de Fevereiro de 2008. Tomamos a liberdade de grifar as partes mais “interessantes”. Depois da transcrição eu retorno:

Algumas pessoas realmente vêem coisas. Isto pode ser o dom do discernimento. Em algumas ocasiões eu vejo coisas, como numa reunião com certa pessoa que havia sido abusada quando criança. Ele não sabiam disso, mas aconteceu. E eu disse: “Você foi abusada quando criança. Tal pessoa fez tal coisa com você, tocou você fisicamente desta forma”. “Como você sabe? ”, ele perguntou. “Eu não sei”, respondi, “é como se eu tivesse uma TV aqui. Eu estou vendo isto!”. “Isso nunca aconteceu!”, ele respondeu. “Vá e pergunte a tal pessoa”, eu falei, “vá e pergunte a ele, se ele realmente fez o que eu acho que eles fizeram, e vejo que eles fizeram”. E quando perguntou aquela pessoa: “Você fez isso quando eu era garotinho? ”, a pessoa disse: “Sim! Mas você tinha apenas um ou dois anos de idade, como pode se lembrar de tal coisa?”. “Bem, o pastor Mark me contou”. (…)

 Alguns de você possuem essa capacidade visual de ver as coisas! Havia uma mulher que eu aconselhava. Ela nunca dissera ao marido que cometera adultério logo no início do casamento. Eu disse: “Você sabe” (ela estava sentado junto ao marido). Eu falei, “acredito que a raiz de tudo isso, acho que Satanás tem uma brecha em sua vida, porque você nunca contou ao seu marido sobre aquele cara loiro e alto que você conheceu no bar. Vocês foram a um hotel. Você se deitou. Você se despiu, e ele subiu sobre você. Você teve relações sexuais com ele. E ficou abraçada a ele por muito tempo... você fez sexo com a luz acessa, pois você não estava envergonhada; queria que ele a visse, e queria vê-lo... Eu vejo tudo!”

Voltei. Honestamente não tenho paciência de traduzir toda a transcrição. Nem estomago. Trata-se de uma pregação simplesmente ridícula e mentirosa. Segundo Driscoll, ele vê (literalmente) de tudo: estupros, abusos infantis, adultérios, violência doméstica, adultérios, e assim por diante. Deus não apenas lhe diz que tais coisas aconteceram, mas mostra toda a cena visualmente a ele. Certamente ele não precisa de TV a cabo!

Não tenho qualquer alegria em dizer isto, mas, se estamos compreendendo adequadamente suas afirmações, Mark Driscoll está sendo imoral e blasfemo. E o fato de eu, ou de qualquer outra pessoa acreditar na atualidade dos dons não impede que tal imoralidade e blasfêmia seja exposta e combatida. Mas alguns cessacionistas vão dizer justamente o contrário. “Eu não posso imaginar como alguém que sustenta o ponto de vista de Wayne Grudem a respeito da profecia moderna poderia repudiar o que Driscoll insiste experimentar”, afirma Phil Johnson, em sua análise do caso.

Johnson, por melhor intencionado seja, está errado. Pois, que impediria a fé na atualidade dos dons de examinar, condenar e combater as visões pornográficas de Mark Driscoll? Eis aí algo que eu não consigo imaginar! Driscoll está errado, pois a Bíblia diz exatamente isso. Ele atribui ao Espirito Santo algo que é imoral e blasfemo. E eu não preciso ser cessacionista para saber disso, basta-me conhecer as Escrituras e levá-las a sério.

Contorcionismo teológico

Sim, pois os mesmos argumentos bíblicos que servem a Johnson, cessacionista, serve a mim, carismático. O que a Bíblia ensina a um, ensina a outro. E se a Bíblia diz a respeito da imoralidade que “o que eles fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Efésios 5.12), como poderia o Espírito Santo não apenas contaria os detalhes picantes a Driscoll, mas também lhe fazer ver toda a cena? Por acaso é permitido a um pastor pedir que um irmão lhe narre os detalhes mais íntimos de sua vida sexual? Ou lhe seria permitido pedir que suas ovelhas filmassem o que acontece entre quatro paredes? Ora, o que ele está dizendo é que o próprio Espírito Santo se encarrega do trabalho sujo! Apague bem as luzes, pode ser que Driscoll esteja contemplando o seu leito!

Não é a crença na atualidade dos dons que leva muitos a se calarem diante da loucura de Driscoll, mas o relativismo com o qual muitos olham a Escritura. Além disso, talvez exista uma boa dose de corporativismo nos bastidores, afinal, trata-se de um pregador popular, e que, admitamos, tem feito um bom trabalho ao combater a... imoralidade sexual. Mas, seria o caso de não precisarmos combater esta mesma imoralidade, só porque ela se apresentou na figura de um queridinho nosso?

Agora, observem que tal pregação se deu em 2008, e pode ter acontecido de Driscoll já ter se arrependido publicamente e se retratado. Mas me parece que não, do contrário o caso não estaria vindo à tona. Seja como for, fica como alerta para nós, todos, mas especialmente para aqueles que crêem na atualidade dos dons; como costuma dizer o próprio Mark Driscoll: “não baseie sua fé em experiências, mas nas Escrituras!”.

Perfeito! Qualquer que ignore este aviso, ainda que seja o próprio Driscoll, pecará contra o Senhor.

Marcelo Lemos, pastor da Comunidade Anglicana Carisma (SP), para o Genizah.

Isto é bom pra que ninguém venha depois dizer que o Genizah não toca nos ungidos reformados, risos.