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Evangélicos tradicionais crescendo e pentecostais estagnados? Não é bem assim!

A estagnação do crescimento pentecostal não parece ser verdadeira, tão pouco é tão significativo o crescimento das denominações históricas. 

Danilo Fernandes


 Como prometido, estamos analisando com profundidade o Novo Mapa das Religiões recentemente divulgado pelo CPS –FVG/RJ a partir dos micro dados da POF 2008/2009 IBGE.

Nosso objetivo é oferecer aos leitores evangélicos highlights e, principalmente, considerações acerca da metodologia empregada no estudo, o que por vezes requer a tradução do “estatistiquês” para o “crentês”.

Outrossim, vamos nos dedicar a esclarecer alguns pontos que, a julgar pelo que tem sido publicado na imprensa evangélica e secular, merecem melhor detalhamento a fim de não levar a conclusões equivocadas.

Um dos aspectos mais comentado (e surpreendente) acerca da recente pesquisa é a constatação do crescimento das denominações tradicionais frente às denominações pentecostais, conforme visto abaixo:



Este é um fato que tem sido largamente discutido na imprensa cristã e secular, contudo, cabem algumas ressalvas importantes que, se não forem feitas, podem levar a alguns equívocos sérios na interpretação, em especial, dos próprios evangélicos, cujo entendimento de seu cenário possui nuances não privilegiadas nas definições empregadas na pesquisa:

1) A agregação de PENTECOSTAIS e NEOPENTECOSTAIS no mesmo grupo, como entendido pelo IBGE – a origem dos micro dados utilizados pela FGV/RJ .
2) A inclusão de outras religiões no grupo evangélico.
3) A desconsideração da “mobilidade” da confissão teológica entre grupos vinculados na origem, como veremos a seguir.


Imprensa Cristã

Alguns poucos sites cristãos manifestaram estranheza em relação a este “achado” dando conta que os evangélicos tradicionais (presbiterianos, batistas, luteranos, etc.) vivenciaram um maior crescimento percentual do que os pentecostais, entre os sete anos separando as duas pesquisas POF.

O Dr. Augusto Nicodemos Lopes, em seu blog Ó Tempora, Ó Mores foi quem traduziu melhor o este espanto no título dado ao seu post comentando matéria veiculada no Estadão:


Desde já concordando integralmente com as considerações teológicas e práticas do Dr. Augustus Nicodemos Lopes, é mesmo evidente que a definição do que seja pentecostal (ou ao menos o que a maioria dos evangélicos considera ser pentecostal) é fundamental para a compreensão da metodologia e dos resultados da pesquisa em si. 

Nicodemos revela-se surpreso com a inclusão da seita Universal no grupo pentecostal e aponta um erro conceitual na pesquisa. 

Eu não diria um erro. São muitos os equívocos cometidos no agrupamento das denominações evangélicas e de outros grupos religiosos neste estudo. Contudo, creio que são erros perfeitamente admissíveis no seu contexto e esfera acadêmica, afinal, visto que nem mesmo os evangélicos se entendem sobre o que creem e confessam, o que esperar do entendimento dos que estão de fora, não é mesmo? Tanto mais considerando que os pesquisadores são economistas e estatísticos, não teólogos.

Ademais, não se trata de erro irreparável. Os dados brutos estão desagrupados e disponíveis no estudo, de maneira que podemos montar as nossas próprias tabelas e analisar resultados (com algumas ressalvas e cuidados).

Entrementes, a advertência genérica do nobre chanceler do Mackenzie é mais do que perfeita. O que nos leva a prever que, da forma como os dados tem sido apresentados pela imprensa, sem a devida minucia dada ao agrupamento confessional, ainda veremos muita bobagem sendo dita por ai.


Evangélicos?

Para o IBGE, fonte dos dados primários utilizados na pesquisa da FGV/RJ, alguns grupos religiosos são contados erroneamente como evangélicos, sendo dentre estes, o mais relevante numericamente os ADVENTISTAS (classificados como entre os evangélicos tradicionais no estudo). A esmagadora maioria dos evangélicos discorda que o adventismo do sétimo dia seja uma confissão evangélica.

O mesmo tipo de equivoco ocorre na listagem dos pentecostais, que além de incluir neopentecostais, inclui algumas seitas.

Contudo a ressalva:

Ainda por confirmar, a partir de aprofundamento da análise dos dados desagregados ( por hora, um educated guess), nos dois casos, o eventual expurgo dos grupos não evangélicos não implicaria diferença superior a 1,2% no total da população, mesmo que em números absolutos estejamos falando de mais de um milhão e meio de pessoas!

Os pentecostais tiveram o seu crescimento estagnado?

A análise dos gráficos a seguir irá colocar um pouco mais de luz nesta questão. A partir da tabela constante na página 29 da apresentação do Mapa das Religiões do FGV construímos dois gráficos que facilitam a visualização de quais denominações evangélicas “pentecostais” estão com crescimento estagnado (ou negativo) e quais as denominações TRADICIONAIS estão realmente crescendo (ou não).

Como veremos, os entendimentos estão, no mínimo, incompletos. Nem todos os pentecostais – segundo a definição teológica - estão de fato estagnados e tão pouco todas as denominações tradicionais estão crescendo. De fato, algumas estão entre as que mais tem recuado.

No gráfico a seguir, vemos as sete denominações evangélicas com a maior variação positiva de crescimento – em percentuais – entre as pesquisas de 2003 e 2009. Incluímos também a denominação ADVENTISTA, cuja qualificação como denominação evangélica não é aceita pela maioria dos evangélicos e para efeito da pesquisa da FGV foi classificada como evangélica tradicional e duas seitas, em verde, que embora não constem como evangélicas na pesquisa, estão na janela missional e de interesse dos evangélicos.



1) A denominação Adventista está este entre as cinco com maior crescimento. 

2) A Assembléia de Deus é a denominação evangélica apresentando a maior taxa de crescimento entre os anos 2003 e 2009, segundo os micro dados do IBGE das POF.
3) Outras denominações acertadamente classificadas como pentecostais figuram entre os grupos apresentando maior crescimento, enquanto, como veremos no próximo gráfico, grupos neopentecostais erradamente agrupados entre os pentecostais, estão entre os que apresentam variação negativa. 
4) Entre as denominações evangélicas consideradas TRADICIONAIS, cujo percentual total saltou de 5,39% para 7,47% entre os anos de 2003 e 2009, as denominações que apresentaram maior crescimento foram a Batista e a Metodista. 



Grande crescimento das denominações tradicionais?

Os dados assim confirmam, contudo, como evangélico tradicional e, em particular reformado, não tenho visto o crescimento da ortodoxia nas nossas igrejas, mui ao contrário.Isto dificulta muito a conciliação entre a realidade e o que tem sido apresentado pela imprensa acerca desta pesquisa - na minha opinião, um exame muito superficial do sumário executivo do ótimo estudo, nada mais!

Sendo assim, é bom considerar os parâmetros apresentados neste artigo a fim de de ponderar as informações oferecidas pela imprensa. Por exemplo, se o objetivo é obter um quadro mais real do propalado crescimento das denominações tradicionais, convém expurgar, ao menos, os Adventistas (0,86% da população brasileira total), cujos dados por grupo do POF podem ser visualizados. Contudo, para fins de análise do crescimento do agregado TRADICIONAL, deve-se considerar que este grupo mesmo grupo fazia parte deste agregado na pesquisa de 2003. 

Se não é possivel por enquanto apresentar números definitivos acerca do crescimento do grupo do agregado TRADICIONAL (da forma como o entendemos), podemos, contudo, verificar quais são as denominações que mais contribuíram (ou não) para o crescimento observado entre os anos de 2003 e 2009.

Como visto no gráfico anterior, entre os grupos apresentando maior crescimento proporcional no período, estão algumas denominações tradicionais. 

Por outro lado, como visto no próximo gráfico, entre os grupos com maior variação negativa encontramos algumas das mais importantes denominações tradicionais evangélicas: os reformados presbiterianos, congregacionais e, em especial, os históricos luteranos.



Estamos avaliando os dados em busca de mais respostas e argumentos para ponderar este crescimento dos evangélicos tradicionais. Por enquanto, além do que já foi dito, somos inclinados a relativizar parte do crescimento dado aos batistas, por exemplo. Afinal, sabemos que apesar da manutenção do vínculo com ligando-os aos tradicionais batistas da CBB e CBN, temos outros grupos minoritários que tem crescido muito, desde batistas sem vínculo com as principais convenções, batistas renovados, muito renovados e até os “lacustres” (da lagoa!) e g12zistas, estes dois últimos, por maioria de votos (!), tidos por neopentecostais.


Deteriorização teológica e o fenômeno pós denominacional

Genizah está buscando maior acesso aos dados da pesquisa de sorte a construir uma tabela de evolução das denominações evangélicas que reflita melhor o entendimento e classificação teológica mais aceito e compreendido pela maioria dos evangélicos brasileiros.

A maioria dos dados está disponível. Tão logo tenhamos o acesso total necessário, iremos produzir a tabela. Contudo, a nossa impressão é que esta análise mais aprofundada não irá alterar substancialmente o quadro, no que diz respeito a participação dos grupos denominacionais históricos ou pentecostais verdadeiros (expurgados dos neopentecostais). 

O que percebemos a partir da análise geral dos números é o crescimento e participação de subgrupos na chamada área cinza na dispersão dos grupos evangélicos, indicando uma certa deterioração denominacional revelada pelo crescimento dos subgrupos de teologia mista no total da população evangélica.





Danilo Fernandes é diretor do Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã e Editor do Genizah



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  1. Seria interessante falar da pentecostalização das igrejas tradicionais reformadas.

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  2. tem que colocar as igrejas na quimioterapia para deter o cescimento.

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  3. Eu não sei se na pesquisa houve pergunta a respeito de migração de igrejas entre os evangélicos, mas seria interessante saber esse movimento. Ao ver o crescimento da denominação divido entre pessoas que vieram de outras congregações e pessoas que se tornaram evangélicas naquela denominação seria mais uma análise para saber quem está "evangelizando" mais.

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  4. Esses dados estatísticos estariam levando em consideração os membros que saem ou migram para outro seguimento denominacional? Os pentecostais ao mesmo tempo que rebanham um monte, também perdem um outro monte, então não acho tão errado assim esses dados. A verdade é que os mulçumanos é que estão crescendo desenfreadamente... A igreja deveria se unir... isso sim...

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  5. Uai, mas Adventistas SÃO evangélicos mesmo, eles só não são PROTESTANTES (apesar de se considerarem assim).

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  6. Caro Danilo,

    Muito boa sua análise. Eu, num primeiro momento até havia ficado satisfeito com a informação dada que os presbiterianos estavam entre aqueles que haviam crescido. Mas se sua análise está correta - e parece que está - nosso crescimento não foi tão grande assim. No entanto, isto não anula a satisfação de ver que os evangélicos crescem no país, embora, certamente, no meio sempre haja quem não mereça este título.

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  7. Vale somente uma ressalva,não é Congregacional Cristã no Brasil, e sim, Congregação Cristã no Brasil.

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  8. Pelas características das doutrinas e sistema litúrgico dos adventistas do sétimo dia, não vejo motivo de não classificá-los como evangélicos. É verdade que mantêm doutrinas distintivas (duas ou três?), mas isso não os "desqualificam" como não-evangélicos nem os tornam uma "seita". Relembremos que, entre as igrejas evangélicas, há aquelas que adotaram o arminianismo e aquelas que abraçaram o determinismo calvinista (doutrinas bem diferentes e, talvez, heréticas na percepção mútua entre esses dois grupos), e nem por isso deixam de ser evangélicas. Qualquer batista ou reformado que for a um culto sábado pela manhã numa igreja adventista vai notar muita coisa (boa) familiar. Os luteranos, por exemplo, oficialmente os veem como cristãos evangélicos. Peço que considerem a opinião do Christian Research Institute e do seu renomado fundador, Dr. Walter Martin (um dos maiores apologetas estadunidenses): "Desde que a IASD não rejeita as doutrinas fundamentais do cristianismo histórico (Trindade, verdadeira divindade de Cristo, Sua ressurreição corporal, etc.), não acreditamos que eles devam ser classificados como um culto não-cristão. É nossa convicção de que não se pode ser uma testemunha de Jeová verdadeira, mórmon, da Ciência Cristã, etc., e ser um cristão praticante, no sentido bíblico da palavra, mas é possível ser um adventista do sétimo dia e um verdadeiro seguidor de Jesus, apesar de certas doutrinas distintivas adventistas..."

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  9. A maioria mesmo é de crentes não praticante!desiludido por dar e não receber o milagre prometido, eles continuam sendo crentes numa igreja tradicional onde não recebem mas também não dão nada!nem se tornam membros, mas por conhecerem a igreja, na hora da pesquisa é fácil dizer: sou crente da Batista, da Presbiteriana,etc...quem vai lá comprovar? conheço muitos irmãos que estão dizendo que são de igrejas que só passaram na porta. Não querem ter compromissos com igreja pois não querem doar mais nenhum tostão!não creem mais em milagres pagos!querem viver só da graça de Deus!Será que o amor já esfriou?

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  10. Já vi muito adventista fazer apelos a crentes em Cristo para se "arrependerem de seus pecados" e "entregarem a vida Cristo" de "verdade" agora na igreja adventista. Isto chama-se seita.

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  11. Gente, vamos para de discutir, pois todos nós independente de que igreja somos, vamos para o mesmo lugar. Igreja não salva ninguem. Quem salva é Jesus Cristo. Eu sou Pentecostal e eu creio que todas as igrejas buscam o alvo que é Jesus Cristo. Não existe igreja perfeita, mas eu tenho certeza que nenhuma dessas igrejas icentiva os crentes a pecarem.

    Deus abençoe a todos.

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