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Apologética da Compaixão

 Giuliano Barcelos


Ser apologista não é e nunca foi uma tarefa fácil. Defender a fé cristã requer muito estudo, uma boa dose de empenho, grande capacidade de argumentação e o gosto peculiar por questionar a tudo, até mesmo às próprias convicções e trazer respostas satisfatórias para nossa mente e espírito.

Este é um cenário propício para que se perca a essência do foco do ministério de Jesus, que também é nosso: as pessoas.

Não raro percebo um desvio do foco do trabalho apologético nas mais diversas formas: debates em listas de discussão, no Orkut, em programas de rádio ou de TV, em sites focados no tema ou não. Tristemente acompanho debates que são verdadeiras batalhas entre egos, onde o objetivo é ganhar a disputa, ainda que não sirva para mais nada além disto.

Meus anos como participante destes debates levam-me a uma triste constatação: não me recordo de ter visto nenhum debatedor, ainda que vencido pelos argumentos de outrem, converter-se genuinamente à fé cristã por conta de tal debate. As pessoas que são enganadas por seitas pseudocristãs têm em seus corações o desejo sincero de seguir a Cristo e crêem agir assim. É importante observarmos que todo o ministério de Cristo nesta terra foi pautado pela apologética. Com extrema habilidade e autoridade Jesus defendeu a fé genuína que havia sido vilipendiada pelos fariseus e escribas.

“Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.” [Mt 23:13] Este era o tratamento “amoroso” que Jesus dispensava aos líderes religiosos da época. Em contrapartida, o povo que era conduzido pelos fariseus ao engano religioso era tratado de forma muito distinta: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?” [Mt 6:26] 

Esta era a apologética que Jesus usava com o povo: a Apologética da Compaixão. Da mesma forma é assim que devemos agir com os enganados e oprimidos por sistemas religiosos corrompidos em seus princípios e em sua moral, que arrogam para si o título de igreja verdadeira de Jesus Cristo, mas que estão distantes de Cristo e, consequentemente, da verdade.

Para “pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi entregue aos santos” [Jd 1:3b] é necessário não somente conhecimento, mas principalmente sabedoria e discernimento sobre como comunicar esta fé de forma a ser compreendida. C S Lewis escreveu certa vez: “Deus nunca se faz de filósofo diante de uma lavadeira”. Nosso Senhor sempre se comunica de forma totalmente inteligível com seus filhos e também com os que deseja alcançar. O mundo não tem ideia do que seja teologia, hermenêutica ou exegese, mas compreende muito bem o amor e a compaixão. Palavras bonitas são apenas palavras bonitas se não resplandecerem o amor de Deus e palavras difíceis não passam de empecilho para comunicar a verdade bíblica. É hora de revermos conceitos de como atuar na defesa da fé de forma satisfatória, que efetivamente conduza os perdidos e enganados ao caminho da salvação e não seja simplesmente mais um artigo escrito com anseio acadêmico.

Têm cristãos que se encontram frustrados, cansados e abatidos, pois defendem a fé cristã há anos ou até décadas e nenhuma alma ainda se converteu como resultado de sua pregação e ensino. O que talvez estes cristãos não percebam é que estão totalmente fora de sintonia com o mundo em que vivem e que estão oferecendo respostas a perguntas que ninguém mais faz.

A Apologética da Compaixão exercida por Jesus é universal e atemporal. Serviu de forma eficiente durante seu ministério terreno e continua a servir de forma eficientíssima nos tempos atuais.

Brennan Manning relata que o homem natural busca segurança, prazer e poder. O mundo pode oferecer tais benefícios, porém é limitado em sua forma, conteúdo e duração. Por mais segurança que se possa contratar, ninguém está imune a ter uma arma apontada para a cabeça durante um assalto. Por mais prazer que se possa encontrar, vai durar só um momento. Por mais poder que se possa acumular, uma virada na economia mundial ou um golpe de estado podem reduzir tal poder a nada.

Comunicar ao perdido a segurança infinita que só há na salvação em Cristo e que nem mesmo um tiro fatal na cabeça pode tirar tal segurança, que não há prazer terreno que se compare a estar eternamente na presença de Deus na Jerusarém Celestial e que o poder de Deus habita e atua em nós de forma inequívoca e que não podemos perdê-lo por conta dos acontecimentos é exercitar a apologética da compaixão. É correto o pensamento de Blaise Pascal que diz que o homem tem um vazio infinito dentro de si que só pode ser preenchido pelo infinito de Deus.

“A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.” [Lm 3:22-23] As misericórdias de Deus provêm de Seu amor incondicional e tem como resultado a compaixão.

Observo pessoas que se compadecem dos cachorros abandonados nas ruas. Dão-lhe em primeiro lugar um sinal de afeto, de amor e só depois oferecem água e comida. Por vezes tais pessoas vão além e passam a cuidar destes animais. É interessante observar que, mesmo a partir de uma demonstração de amor, muitos destes animais são arredios e desconfiados, vão aproximando-se devagar e a qualquer movimento ou barulho diferente já se esquivam e se distanciam, talvez temerosos pelas inúmeras vezes que foram agredidos, maltratados e ignorados. Por conta disto passam a agir defensivamente por instinto, por esperarem sempre o pior vindo dos homens.

De forma um tanto grotesca, podemos fazer uma analogia entre estes cachorros de rua e os perdidos. Estes também agem de forma defensiva, instintivamente, tamanha quantidade de vezes que já foram machucados pelo mundo ou por “igrejas” que se dizem cristãs. Por conta disto são arredios à Palavra de Deus e a qualquer coisa relacionada a religião. Ficar falando e falando para estas pessoas sobre o amor de Deus sem nenhuma atitude é como apenas contar para o cachorro abandonado como é uma tigela de água ou um prato de ração. Não será na primeira vez que um cachorro destes permitirá um banho ou o cuidado com uma orelha machucada e infeccionada. Mas, depois de demonstrado o amor, o carinho e o cuidado, o animal não sairá correndo em disparada ao ser tratado, ainda que sinta dor.

Os homens que estão afastados de Deus sofrem espiritualmente das mesmas mazelas e, pior ainda, muitas vezes refletidas em seus corpos.

A Apologética da Compaixão não vai tentar limpar e curar sem antes demonstrar o amor do Deus que limpa e cura. Quando servimos a Cristo de forma sincera e permitimos que o Espírito Santo de Deus nos guie sem restrições, manifestamos o mesmo amor de Deus pelas almas perdidas, que sofrem e padecem por estarem afastadas deste amor.

Neste mundo corrompido precisamos ser a voz profética que anuncia a verdade cristã e que defende as pessoas do engano lançado pela astúcia do inimigo de nossas almas, não combatendo contra a carne e o sangue, não combatendo as pessoas que estão neste engano, mas, ao contrário, demonstrando a elas com toda mansidão e doutrina a razão da nossa esperança em Cristo Jesus, amando-as como Cristo nos ama, sendo misericordiosos como nosso Deus é conosco e, movidos de íntima compaixão, conduzi-las ao entendimento da crença em Cristo e crer na ação do Espírito Santo para convencê-las do pecado, da justiça e do juízo. 


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  1. Giuliano,
    Totalmente pertinente e essencial esse seu recado.
    Alguém precisava dizer isso por aqui...
    Que os nossos Apologetas e todos os que zelam pela pregação do Evangelho genuíno não nos esqueçamos de que ele é na sua essência AMOR.
    Chega de embates odiosos que não produzem frutos dignos de arrependimento!!!
    Deus nos conduza no "bom combate" (que é bem diferente de guerra de egos que vemos) movidos apenas por COMPAIXÃO.

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  2. Eu oro para que Deus levante milhares de pessoas que façam apologia a fe crsitã. pois diante de tanta seita, heresias e modismo e o que a igreja mais precisa. Porem apologia tem que ser feita com temor e seriedadede. Não zombando das vitimas mas tendo delas misericordia.Apologia sim mas sem escarnecer.

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  3. Excelente ensino! Não podemos esquecer jamais palavras como estas. À cada dia devem ser relembradas em nossos corações. A piedade é uma qualidade e um dom pertencentes a todos que servem a Deus. E evangelho, antes de tudo, é a boa nova de que fomos alcançados pelo verdadeiro amor e justiça, materializados em Cristo. O que passar disto vem do maligno! Muitos cristãos (e nem estou me referindo aos apologetas profissionais) em vez de trabalharem para o Reino de Deus com o amor de Cristo, brigam para defenderem suas opiniões. Esquecem de Cristo e da fé para defenderem suas religiões! E religião é apenas um conjunto de dogmas, obrigações, ritos, costumes... É muito difícil enxergar amor dentro do sistema religioso, e impossível sobrar tempo para a caridade ou bem qualquer que seja ao próximo, principalmente àqueles que estão excluídos não só do próprio sistema religioso, mas também de todos os sistemas. Então, o que se conclui? Simples: Onde falta fé, graça, sabedoria, esperança e amor de Deus, sobra conhecimento meramente humano e intrigas religiosas. Esquecemos Cristo e literalmente partimos para o murro, resolvemos no braço, ou melhor, na língua! Assim, em vez de pescarmos almas para salvação eterna, as afastamos em direção à perdição eterna. Fazemos da vida das pessoas um verdadeiro inferno de dúvidas, complicações "teológicas", leis, argumentos... Viver num inferno de intrigas e conflitos na mente impede cada vez mais o aproximar da graça de Deus. E pior que experimentar os eternos tormentos do inferno, é ter o inferno vivendo dentro de si!

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  4. Quero que saiba de uma coisa. A apologética me tirou das garras da Igreja Universal e hoje tenho muito prazer em ser apologeta.

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  5. Apologética com Humor e amor é isso que precisamos!!!

    Paz do nosso Senhor irmãos...

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  6. Gostei demais do texto. Além da preocupação com a verdade bíblica, devemos sempre estar focados nas pessoas e no que as nossas ações estão contribuindo para que elas alcancem o conhecimento da verdade e prossigam nele. Deixado o ego de lado, o que vai sobrar é a autentica pregação do evangelho. Ai é uma benção com certeza! Abs a todos!

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  7. Sempre gosto dos textos do Genizah e este em especial tem a ver comigo. Sou protetora de cachorros abandonados nas ruas, e atualmente estou cuidando de um que está com bicheira na orelha. Ele se comporta exatamente como você descreveu, arredio e desconfiado. Foi muito maltratado e ainda me olha de canto de olho quando chego para tratá-lo. E também como você falou, algumas pessoas se comportam dessa forma. Me fez ver que muitas vezes me comporto assim, sendo que na verdade não importa o que os outros fizeram pra mim, o que importa é o que Deus faz por mim todos os dias.

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  8. Eu só tenho que chorar e lamentar por reconhecer que as vezes tenho agido sem misericordia com aqueles que são enganados com o falso evangelho, obrigado por me lembrar do mandamento primordial de Jesus: amar o proximo como a si mesmo.
    Valeu Giuliano, bom ter irmãos como você, isso que é o reino de Jesus!!

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  9. Meu grande irmão, Parabéns pelas Palavras de incentivo ao verdadeiro APOLOGISMO...

    Nos conhecemos a tempos e sabemos dos pesares do que é ser um verdadeiro apologista...

    DEUS continue te abençoando meu irmão.

    Antes do Genizah eu não tinha mais esperança, mas agora sei que tem muitos que pensam como eu.

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