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As patricinhas de Beverly Heaven


Roselaine Peres


Eu tenho um inconveniente grito de alma que nunca sabe a hora certa de calar a boca.

Dia desses, um dia nada bom deixe-me lembrar, eu me sentia tão mal com a dor e a delícia de ser Pastora que saí desembestada pela web.

Parei num site e meus olhinhos se encheram de brilho esperançoso quando li: 

PARA ESPOSAS DE PASTORES E PASTORAS

Eu precisava encontrar alguém que me entendesse, nem que este ser estivesse nas Ilhas Galápagos ou em Marte, então comecei a ler na expectativa de achar apoio para as angústias que consumiam minha saúde física e emocional naquele dia.

- Meo Deos, que decepção!

A cada fórum, a cada meditação eu comecei a perceber que o lixo era eu mesmo, que eu não era boa o bastante para estar entre mulheres tão espiritualizadas e perfeitinhas.

Tentei participar, perguntar, abrir meu coração, mas à medida que lia as respostas das “garotas do púlpito” me sentia pior.

Foi péssimo pra mim!

Tudo tão esquisitamente certinho, porcelanizado, bonito, mulheres que nas entrelinhas jogavam luzes no jargão: “Um tapinha não dói, um tapinha não dói”.

Senti raiva! Raiva de mim, por não conseguir compartilhar a postura daquelas figuras estóicas e, me sentindo a escória da pastorada, só pude pensar em duas possibilidades:

1-Ou sou eu o desastre ambulante, uma negação, a antítese do chamado pastoral;

2-Ou aquelas mulheres estão formatadas pela listinha que dita as regrinhas de como ser uma agradável mulher de Deus e a tônica dos seus ministérios é: falar baixo, saber tocar piano e ficar com cara de samambaia de plástico diante de tudo.

As patricinhas de Beverly Heaven, mulheres maravilhosas que poderiam somar esforços para chacoalhar essa geração de crentes idólatras e cheios de vícios eclesiásticos, trabalhando implicitamente (talvez inocentemente) para aumentar ainda mais a falsa admiração pela falsa felicidade radiante de ser Pastora.

Procurei conteúdo e encontrei receitas de bolo.

Procurei misericórdia e achei respostas ensaiadas.

Busquei alívio, mas me senti mais miserável ainda por não desejar esconder meu sofrimento.

MINHA ALMA GRITAVA: Pelamordedeus alguém aí me diga se a caminhada pastoral é solitária pra vocês também. Eu ia mesmo sentir a lâmina do punhal nas minhas costas um dia? Como foi a primeira vez que sentiram dúvida? Estou pecando ao pensar em desistir? Ei, vocês não choram nunca?

Ao que ouvi como resposta: “pssssss...silêncio...estas não são perguntas adequadas para uma esposa de Pastor.”

Quer saber? Às favas com as perguntas adequadas, ao modelo que idealizaram como perfeito. Às favas!

Eu só quero me sentir viva, me sentir gente, poder dizer “não quero” sem por isso me achar um embuste.

Só quero poder admitir que não tenho resposta pra tudo sem ser considerada menos espiritual.

Só desejo ser vista como uma pessoa normal, cujas reações nem sempre tão britânicas dão lugar à profunda transformação que preciso experimentar em Cristo todos os dias.

Mas, isso foi aquele dia, um dia nada bom.

Hoje ando melhor, mais equilibrada, nem por isso mais conformada, mas estou usando óculos à prova de mentiras teatrais a respeito de ser pastora.

Tem dias como aquele, dias nada bons, quando o efeito da droga chamada perfeccionismo ainda bate forte, mas meu Médico traz logo um bálsamo e me enfia goela abaixo.

Bálsamo que bebo, onde me lavo, me atolo, cheiro, esfrego na alma até ficar vermelha: o bálsamo da Sua Graça.

Queridas mulheres do ministério, sejam Pastoras ou esposas de Pastor, diaconisas ou professoras de Escola Bíblica, não aceitem que lhe coloquem na nuvem flutuante do orgulho de ser alguma coisa no Reino de Deus.

Não se permitam fazer parte do sistema que traz a idolatria para dentro da Igreja, deixem que vejam que liderar não é sinônimo de perfeição e que pastores não ouvem Deus falar 24 horas por dia.

Abram portas ao diálogo, às opiniões diferentes, cedam mais vezes, pois sua idéias não são as melhores sempre.

Conheci muitas mulheres que, requerendo honra, se esqueceram que eram apenas servas.

Vi ainda outras vivendo sob o disfarce da resignação, jogando o jogo do contente para mascarar sentimentos de solidão, dúvidas e desânimo.

Muitas estão adoentadas na alma, com síndrome de Lady Di, mas cheias de crises no íntimo.

Eu fui cada uma dessas mulheres e hoje não sou nenhuma delas, luto para ser eu mesma.

Antes de rejeitar o que leu se dê uma boa olhada no espelho e pergunte:

“E eu? Tenho sido o que faz o Senhor e a mim felizes ou sou o que todos esperam de um título?”



Pra Roselaine mandou este artigo por e-mail para o Genizah






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Postar um comentário

  1. Olá,

    Não conheço quem escreveu e nem a situação que está passando, mas diariamente convivendo no meio evangélico desde que nasci, eu posso afirmar que essa atitude aparentemente equilibrada e sóbria que muitas mulheres - e homens também - têm em relação a suas dúvidas é frustante. A igreja fica repleta de pessoas gélidas ou emocionaiss demais, ou que racionalizam tudo ou "profetizam" na emoção e vão falar qualquer coisa pra ver se vc fica "alegrinho". Porque não chorar mais, mostrar-se mais, admitir erros, dúvidas e falhas? É o medo de mostrar-se humano, falho, pecador, que depende da graça de Deus. Se não dependemos da graça dependemos de quem ou de que?De nossa postura idealizada de pessoa de Deus? Eu oro e peço que Deus me ilumine pra eu não cair na tentação de acreditar na minha pseudo-perfeição e ter um ataque de ansiedade.

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  2. Olá pessoal, será que é possível me passar o E-mail da Pra. Roselaine, a autora do artigo? Me identifiquei muito com o texto dela e gostaria de conversar com ela. Se puderem me enviar o E-mail dela no endereço fm_hespanhol@yahoo.com.br agradeço.

    Obs.: Por favor, não publiquem meu comentário para que meu E-mail não se torne público.

    Ah! Só mais uma coisinha, gosto muito do site de vocês, é inteligente, criativo e VERDADEIRO! E infelizmente, a verdade é uma das coisas que tem faltado no meio evangélico.

    No amor do Senhor Jesus, que é o que nos une.
    Fernanda

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  3. Menina, que texto é esse? Realista, cheio de humanidade, de carne e osso! Sabe, acho que Deus é solidário com gente como a gente, que tem coragem de às vezes sentir que certas coisas não fazem tanto sentido, que soltar frases do tipo "oh, como sou feliz em Cristo" às vezes apenas cristaliza uma chaga aberta que, cultivada, vai nos matando aos poucos. Sou amiga das perguntas porque tenho certeza de que as respostas me aproximarão mais e mais de Deus. Encaro minhas angústias com mais leveza simplesmente porque, para mim, essa é a única forma de proceder decentemente, de não esconder daquele que é onisciente, aquilo que está gritando dentro de mim. Tenho medo de gente com sorriso de plástico porque uma hora a máscara cai.

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  4. Adorei, moça. Adorei muito. Olha, isso não é só para mulheres em papeis de lideranças, mas também para os homens. Tem gente que acha que nós, líderes, não choramos, não temos dúvidas, não erramos, não ficamos com dor de cabeça na hora da pregação, não esqueçe versículo bíblico (afinal, escreve um blog de teologia, risos)...

    Esquecem que líderes são apenas servos, nada mais que isso. Infelizmente, este padrão de coisas acaba sendo criado pelos próprios líderes, que anseiam impor-se; ser agente mesmo é dar margens a riscos, a sustos... Quem almeja mais que ser apenas servo, protege-se atrás de máscaras...

    Minha esposa quis iniciar um blog, que resolveu chamar de Teologia, Moda e Pimenta (ela é consultora numa loja de departamento); daí me perguntou: "As pessoas vão comparar, vão exigir... que faço...". Ora, minha resposta a ela, e todas as mulheres em líderança: sejam vocês mesmas! Sejam mulheres, femininas, humanas.

    Parabéns pelo texto!

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  5. Excelente! Fantástico!
    Quantas vezes já esqueci que sou nada sobre nada e me deixei levar por essa onda de que somos perfeitos e lindos!
    Onde está a igreja de Cristo? Aquela que é realista e viva? Querem nos encaixar num molde de "perfeição" imperfeito, nos tornarem resplandecentes para que os demais membros e congregados tenham em quem se espelhar, para que visitantes venham se maravilhar com a nossa falsidade ideológica! Pro inferno com essa perfeição medíocre e imperfeita que querem nos impor como caminho de santidade!
    Choramos, sofremos crises que nos deixam perturbados, SIM! E é isso que faz de Deus um Pai presente! Porque são nessas horas que Ele vem nos guiar e nos ajudar... É nessa hora que Deus nos carrega no colo e nos ajuda a continuar!

    Deus abençoe você amada Roselaine!

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  6. Post de uma condicao empirica muito existente...lideranca eh sedutora secularmente ou espiritualmente...como lider sempre quis que as pessoas fossem pessoas,mas pasmem...nao querem...nao acreditam em si mesmas...agora ser pessoa..gente..ser autentico..custa muito..e as igrejas nao estao preparadas para esta realidade...ser gente esta me custando caro..muito caro e as vezes irritante...mas Deus mostrou que assim eh melhor..continue lutando..mas nao vai ser facil..

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  7. Pastora, simplesmente perfeito. Parabéns!

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  8. Melhor post que tenho lido sobre o tema. Parabéns. Espero que ajude a muitas mulheres, não apenas as que estão em posição de liderança, como também aos marmanjões como eu.

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  9. Este tópico não é só para as "patricinhas", mas também para os "boys".
    Afinal, ser Pastor não quer dizer ser senhor da verdade e razão. Somos "gente", e como gente temos sentimentos, dúvidas, e ninguém pode tirar isso de nós.
    Os que enfeitam o pastorado e se acham super pessoas, só tenho a lamentar, pois como é bom ser Pastor e antes disso ser servo. Ser uma pessoa que admite ter erros, problemas, dúvidas, afinal, se não tivermos, pra que estamos aqui?
    Sou Pastor, tenho meus "grilos", pergunto para quem tem mais experiência mesmo e sou muito feliz assim!

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  10. Vamos repassar aí, moçada! (Com os devidos créditos, claro.)

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  11. Graça e paz!
    Já havia lido este texto no blog da http://pastoragente.blogspot.com
    Muito bom!

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  12. Oi...gostei do texto.Na igreja, as pessoas querem ser confortadas e não confrontadas,isso termina por a pessoas não se revelar de verdade,esconde suas falhas,seus temores e ninguem à conhece de verdade.Ao meu ver parece ser mais fácil conversar com uma amiga não cristã sobre seus problemas do que alguma da igreja.é raro alguem que você pode confiar,porque no meio evangélico as pessoas não aceitam falhas,muitos acham que tudo é o coisa ruim que faz na sua vida,e o que você apenas queria era alguem pra te ouvir sem julgamentos.Muitos irmãos ficam assustados ao saber que o pastor esta com duvidas sobre o ministério ou até outras coisas,mas perai,o pastor não é gente como a gente?!
    Fica o recado aí da pastora.

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