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O que aprendi com meu pai


Hermes C. Fernandes

Hoje amanheci com uma imensa saudade de meu pai. Faz 9 anos que o Senhor o tomou para Si. O tempo passa, mas a saudade não diminui, apenas aprendemos a conviver com ela.

Saudade de ouvir sua voz rouca e cansada, e sentir o cheiro do seu suor quando nos abraçava. Saudade de vê-lo com o seu pijama, de joelhos dobrados no jardim de casa, orando e chorando na presença de Deus. Constrangidos, dobrávamos os joelhos ao seu redor. Mas ninguém conseguia dizer uma palavra. Ficávamos apenas concordando com sua oração.

Saudade dos seus conselhos. Como aprendi com eles! Alguns só me fizeram sentido anos depois de sua partida. Hoje vejo o quanto ele tinha razão.

Com ele aprendi o que é honra, e o que é ser honrado. Quando deixou a denominação em que trabalhou por quase vinte anos, olhou nos olhos do seu líder e disse tudo o que estava em seu coração. Nunca usou de meias-verdades. Depois de sair, proibiu-nos de falar mal de nossa antiga liderança. Ele nos ensinou que palavras são sementes, e que tudo o que dissermos um dia voltará contra nós.

Com ele aprendi o valor do perdão. Quantas vezes foi traído, mas ao seu procurado por seus detratores, não negou-lhes o perdão. Perdoava até quando seus adversários não reconheciam seu erro. Costumava dizer que morreria perdoando. Dito e feito!

Com ele aprendi o que é o amor. Não só de palavras, mas sobretudo de obras. Aprendi que o amor não faz propaganda de si mesmo. Quantas vezes ele ajudou alguém pedindo-lhe discrição! Nunca se promoveu em cima de suas boas obras. O que fazia com a mão esquerda, a direita jamais tomava conhecimento.

Com ele também aprendi que a carranquice não vale a pena. É melhor levar a vida com leveza e bom humor. Seu médico me disse que ele só conseguiu prolongar sua vida por mais quinze anos depois de ter sofrido duas paradas cardíacas por causa de seu bom humor.

Com ele aprendi o que é a sinceridade. Jamais escondeu seus sentimentos, nem maquiou suas intenções. Ele era o que era. Brincalhão, sério, às vezes duro, porém, um líder inigualável, por quem muitos se dispunham a lutar.

Com ele também aprendi que o combustível que faz a vida avançar são os sonhos. Ele costumava dizer que o homem só morria quando deixava de sonhar. Mas não basta sonhar, é preciso trabalhar. Nunca vi alguém com a disposição que meu pai tinha para o trabalho. Nem sua saúde debilitado foi capaz de impedir de prosseguir sua jornada até o último suspiro.

Papai não nos deixou grande herança, mas nos deixou um legado. A chama que ardeu em seu peito, foi transferida para o peito de seus filhos, netos e discípulos, e jamais se apagará.





Meu herói
Meu pai quando eu tinha...

4 anos:
Meu pai pode fazer tudo.

5 anos:
Meu pai sabe muitas coisas.

6 anos:
Meu pai é mais esperto do que o seu pai.

8 anos:
Meu pai não sabe exatamente tudo.

10 anos:
No tempo antigo, quando o meu pai foi criado, as coisas eram muito diferentes.

12 anos:
Ah, é claro que o papai não sabe nada sobre isso. É muito velho para se lembrar da sua infância.

14 anos:
Não ligue para o que meu pai diz. Ele é tão antiquado!

21 anos:
Ele? Meu Deus, ele está totalmente desatualizado!

25 anos:
Meu pai entende um pouco disso, mas pudera! É tão velho!

30 anos:
Talvez devêssemos pedir a opinião do papai. Afinal de contas, ele tem muita experiência.

35 anos:
Não vou fazer coisa alguma antes de falar com o papai.

40 anos:
Eu me pergunto como o papai teria lidado com isso. Ele tem tanto bom senso, e tanta experiência!

50 anos:
Eu daria tudo para que o papai estivesse aqui agora e eu pudesse falar com ele sobre isso. É uma pena que eu não tivesse percebido o quanto era inteligente. Teria aprendido muito com ele.


Hermes Carvalho Fernandes, filho de Cecílio Carvalho Fernandes
Testemunhos 6809782777411979991

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  1. Hermes, lendo seu texto, parece que eu estava lendo sobre meu pai que hoje está com 82 anos e foi curado de um câncer de 8 cm no estômago final do ano passado. Nossa, quando comecei a pensar na possibilidade de perdê-lo, meu mundo se desestruturou, mas graças a Deus, aindo vou tê-lo por mais um pouquinho!
    Abraço forte, e que o Senhor te console!

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  2. Hermes, que riqueza Deus lhe concedeu. O solilóquio de Aristóteles que você transcreve é verdadeiro "há se eu tivesse papai". E o legal é que em breve todos nós reencontraremos papai, mamãe, filhos,irmãos, avós, enfim nossos amados. O desejo do meu coração é o encontro com o Senhor e todos os abraços que daremos no último dia. Se puder leia meu texto http://sustodeamor.blogspot.com/2010/04/saudade.html que também é nostálgico. Deus lhe abençoe sempre.

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  3. muito bom texto, realmente tocou meu coraçao e me fez lembrar do meu querido pai que o senhor recolheu, Deus o abençoe

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  4. Caro Hermes, você descreveu um pedaço
    da sua vida em forma de poesia,isso me
    lebrou também meu pai...
    Que parte tão viva e bonita que ficou
    do dna do seu pai em ti,o caráter,e isso
    continua a dar frutos em seus filhos em
    nós ao lermos texto tão rico.
    Obrigada !

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  5. Queria poder dizer tudo isso acerca de meu pai.

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