Passa rápido
https://genizah-virtual.blogspot.com/2009/09/passa-rapido.html
Antônio Carlos Costa
Com 20 anos de idade meus olhos foram abertos para a - inacreditavelmente dura - realidade da vida. Naquela época, lembro-me muito bem, passava o dia inteiro na praia - das 6h às 18h - chegava em casa, almoçava-jantava, saía à rua para encontrar os inesquecíveis Rogério, Chicre e Baiano, que compunham um grupo enorme de uma rapaziada da era pré-internet, que vivia para o mar e os seus grandes amores. Deitava no sofá da sala e sonhava - ao som de Triumvirat, Emerson, Lake and Palmer, Renassance - com ilhas paradisíacas, ondas nunca surfadas, amores arrebatadores com gosto da água salgada do mar e pele queimada de sol.
Meu pai era um policial duro (tanto de grana, quanto no trato) e não me dava moleza. Pouco dinheiro, mas muito sucesso com as mulheres, saúde para esbanjar (conseguia ficar 5 horas dentro d'água, sem problema), amigos engraçadíssimos e acesso livre e gratuito ao mar. O cenário só não era perfeito porque naquela época o Botafogo estava em baixa (eu sei, não só naquela época...).
Porém, com 20 anos, tornei-me um existencialista francês sem ter lido Sartre. Senti a náusea ou a angst. Louco para viver, mas esmagado pelo caráter transitório, breve e finito da vida. Caí em desespero. Aquela vida que tanto amava era irreal.
Tornei-me cristão. Não porque ouvira algum sermão sobre o horror do inferno na vida além, mas porque experimentara o horror do inferno na vida presente. Grandes amores, mar, sol, amigos, saúde, num cenário em decomposição.
Entrei de cabeça no cristianismo. A tal ponto, que decidi anunciar sua mensagem por todo o resto da minha vida, dedicando-me de tempo integral à tarefa de ser pregador do evangelho. Virei pastor. Título que até hoje me traz desconforto, porque não me identifico com o formato que essa profissão assumiu e nem mesmo desempenho uma atividade estritamente pastoral. Eu gosto de falar da história do espancamento e morte de um ser extraordinário que se apresentou ao mundo como o Filho de Deus. Sou cristão até a medula e não me envergonho do evangelho que sustenta minha sanidade mental. Mas, não sou pastor na acepção da palavra.
O que antevi com 20 anos - todo o horror que se anunciava - uma vida sujeita à morte e a incapacidade de ilhas, mulheres, sol e mar, satisfazerem uma alma faminta por algo que não é dessa vida - hoje é experimentado por mim numa tal extensão, que não tenho palavras para descrever o espanto que experimento todos os dias.
A morte de Patrick Swayze, que acabei de tomar conhecimento através dos jornais, mostra que Pascal estava certo ao dizer: "Aposte tudo em Deus. Se você ganhar, ganhou tudo, se perder, não perdeu nada".
Estou certo de que não perdi nada e que vou ganhar tudo, ao lado de todos aqueles que morreram para o mundo a fim de estarem vivos para Deus:
"Porque o mundo passa, bem como a sua concupiscência, mas o que faz a vontade do Senhor, permanece para sempre".
***
Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra (RJ)
Nota de Genizah: Patrick Swayze, 57 anos, morreu nessa segunda-feira (14) em decorrência das complicações de um câncer no pâncreas, descoberto em fevereiro de 2008, após impressionante deterioração de sua aparência, indicando idade muito superior a sua.
Meu pai era um policial duro (tanto de grana, quanto no trato) e não me dava moleza. Pouco dinheiro, mas muito sucesso com as mulheres, saúde para esbanjar (conseguia ficar 5 horas dentro d'água, sem problema), amigos engraçadíssimos e acesso livre e gratuito ao mar. O cenário só não era perfeito porque naquela época o Botafogo estava em baixa (eu sei, não só naquela época...).
Porém, com 20 anos, tornei-me um existencialista francês sem ter lido Sartre. Senti a náusea ou a angst. Louco para viver, mas esmagado pelo caráter transitório, breve e finito da vida. Caí em desespero. Aquela vida que tanto amava era irreal.
Tornei-me cristão. Não porque ouvira algum sermão sobre o horror do inferno na vida além, mas porque experimentara o horror do inferno na vida presente. Grandes amores, mar, sol, amigos, saúde, num cenário em decomposição.
Entrei de cabeça no cristianismo. A tal ponto, que decidi anunciar sua mensagem por todo o resto da minha vida, dedicando-me de tempo integral à tarefa de ser pregador do evangelho. Virei pastor. Título que até hoje me traz desconforto, porque não me identifico com o formato que essa profissão assumiu e nem mesmo desempenho uma atividade estritamente pastoral. Eu gosto de falar da história do espancamento e morte de um ser extraordinário que se apresentou ao mundo como o Filho de Deus. Sou cristão até a medula e não me envergonho do evangelho que sustenta minha sanidade mental. Mas, não sou pastor na acepção da palavra.
O que antevi com 20 anos - todo o horror que se anunciava - uma vida sujeita à morte e a incapacidade de ilhas, mulheres, sol e mar, satisfazerem uma alma faminta por algo que não é dessa vida - hoje é experimentado por mim numa tal extensão, que não tenho palavras para descrever o espanto que experimento todos os dias.
A morte de Patrick Swayze, que acabei de tomar conhecimento através dos jornais, mostra que Pascal estava certo ao dizer: "Aposte tudo em Deus. Se você ganhar, ganhou tudo, se perder, não perdeu nada".
Estou certo de que não perdi nada e que vou ganhar tudo, ao lado de todos aqueles que morreram para o mundo a fim de estarem vivos para Deus:
"Porque o mundo passa, bem como a sua concupiscência, mas o que faz a vontade do Senhor, permanece para sempre".
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Antônio Carlos Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra (RJ)
Nota de Genizah: Patrick Swayze, 57 anos, morreu nessa segunda-feira (14) em decorrência das complicações de um câncer no pâncreas, descoberto em fevereiro de 2008, após impressionante deterioração de sua aparência, indicando idade muito superior a sua.
Comentário no Facebook:
ResponderExcluirMarthav de Vasconcellos - Estava Mariana Davies hoje na rodoviária, quando sem querer ouve uma mulher dizendo pra outra:
"Sabia que o Ghost morreu?!"
Agora um pouco de humor "negro" - dizem que Patrick Swayze fará ghost 2
ResponderExcluir"Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco e depois se desvanece". (Tiago 4.14)
ResponderExcluirAlessandro Cristian
www.alessandrocristian.blogspot.com
Curti muito Emerson, Lake and Palmer na minha adolescência.
ResponderExcluirNasci torcedora do botafogo, por causa de meu pai.
Assisti aos filmes do Patrick Swayze. Ele e outos artistas que se foram neste ano por causa de enfermidade.
O homem sem DEUS não é nada.