A Ditadura Militar, o Socialismo... E a falta de alternativas
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Josep Rossello
Nos últimos dias tenho lido muito sobre a opinião dos cristãos a respeito do período da Ditadura Militar, reflexão motivada por um artigo da revista “Isto é Independente” – que de “independente”, necessário dizer, tem muito pouco, o que também vale para suas duas concorrentes, Veja e Época.
Não sou brasileiro; nasci na Espanha, no final da Ditadura de Franco, de modo que nem cheguei a perceber a Ditatura Franquista, e tão pouco conheci a Ditatura Militar no Brasil. Desde muito jovem me envolvi com movimentos estudantis, ecológicos, de direitos humanos e partidos políticos, onde caminhei desde o marxismo-leninismo, passando por outras correntes, até chegar ao meu pensamento atual. E sempre fui um patriota valenciano, e ainda hoje.
Lendo os comentários a cerca dos eventos que tiveram lugar no tempo da Ditadura, a partir de uma perspectiva do Século 21, me parece que cometeremos muitos erros. Os tempos eram outros, e eram tempos onde a vida não tinha o valor que hoje atribuímos a ela.
Os comunistas, e socialistas, tinham a ideia romântica da transformação do mundo através da revolução do proletariado. Olhavam para Cuba e URSS esperançosos com as promessas de um mundo melhor. Hoje, sabemos que era apenas propaganda política. Os países sob o Pacto de Varsóvia são os mais empobrecidos de toda a Europa. Na África, também vemos como a Revolução Socialista foi a causa da pobreza extrema, como por exemplo, a encontrada em Angola e Moçambique.
Some a isto o fato de que os países socialistas perseguiram terrivelmente os cristãos. Além disso, se considerarmos a liberdade (sob qualquer índole) nestes países, observaremos que era pouca, ou nenhuma.
Diante do avanço da ideologia comunista na América Latina e no mundo, os USA sentiram que tinham o dever de lutar contra tudo isso. Na verdade, não foram apenas os USA com tais sentimentos. França e Reino Unido também se envolveram fortemente nos conflitos de suas colônias na África e na Ásia.
Entretanto, em sua luta contra a Ditadura do Proletariado, os USA cometeram um grave erro: o uso de militares em Ditaduras que acabariam cometendo excessos em favor da ordem estabelecida, mesmo sendo inquestionável que as Ditaturas Militares na América do Sul não foram tão cruéis quanto as ditaturas que varreram as Republicas Socialistas. O Socialismo já matou mais de 150 milhões de pessoas. Porém, estamos cometendo um erro ao fazer tal comparação, pois um pecado não se justifica dizendo que foi “menor que o outro”. Pecado sempre será pecado.
Também é certo, infelizmente, que diante do avanço do Socialismo, nenhum estadista foi capaz de construir uma alternativa às Ditaduras Militares ou às Revoluções Socialistas. Diante disto, os cristãos escolheram um das duas opções existentes. Ambas igualmente iníquas, mas com o desejo de criar um mundo melhor. Possivelmente, utopias.
Aqueles nossos irmãos viviam nos dias da Revolução de 68; da luta no Vietnam contra o avanço e a carnificina socialista; dos movimentos de anticolonialistas que varriam a África; e número sempre crescente de países aderindo o ideal comunista. Che Guevara era o último herói e mártir da causa... O Concílio Vaticano trazia uma revolução para a Igreja de Roma; o homem chegava a Lua e aquilo que até então se imaginava impossível, começava a ser possível... Eram dias de Guerra Fria, onde se enfrentavam visões opostas, e se enfrentava a morte (literalmente).
Não sei dizer o que eu teria feito naquele contexto, e talvez nos falte humildade quando olhamos para a História, mesmo a História recente, e nos escapa a possibilidade de termos sido parte daquilo que hoje criticamos. E, não, não sou, nem fui, a favor da Ditadura, sem seria hoje. E, com certeza, não estaria com os Socialistas, a não ser que estivessem me encontrado me minha juventude mais remota e inocente.
O fato é que o melhor antídoto contra o Comunismo foi o Cristianismo. Por isso, ninguém pode esquecer o papel de João Paulo II em conseguir que o Muro de Berlim, finalmente, passasse à História. Ou as Igrejas que foram instrumento para refrear a ideologia marxista em muitos países, uma vez que os jovens trocaram o marxismo pela verdade do Evangelho.
Pessoalmente, acredito ter sido trágico ninguém ter percebido a necessidade de uma via média entre a Ditadura Militar e a Ditadura do Proletariado. E este era o papel da Igreja. Contudo, nós cristãos estamos sempre fazendo o jogo dos políticos e governantes temporais, nos esquecendo assim, o grande chamado de tornarmos visível na terra o Reino de Deus.
Contra as Ditaduras, já existia o Parlamentarismo que seguirá sendo o melhor sistema entre os sistemas imperfeitos. Como diria Churchill, “A democracia é o pior dos regimes, salvo todos os demais!”. E, como Anglicano, sinto uma grande alegria ao falar das raízes do parlamentarismo na Inglaterra (o primeiro parlamento foi em 1264), e dos Concílios da Igreja da Inglaterra; assim como me alegro como cidadão de Valência, que estabeleceu seu parlamento em 1283, ainda que tenha perdido sua liberdade em 1707.
Ademais, as Igrejas onde a Reforma (Século 16) teve sucesso, também desenvolveram sistemas “parlamentares” de autogoverno; os chamados Concílios, em que seguem o exemplo de Atos 15.
Infelizmente, hoje vemos nas Igrejas Evangélicas sistemas de governo que nos lembram das antigas Ditaduras e monarquias absolutistas. Novas propostas de governo eclesiástico que vão acompanhando lideranças carismáticas e populistas, tanto nas Igrejas como nos governos civis. É assim que, não sem motivo, podemos ouvir aqueles ameaça, “não toques nos meus ungidos”, sem que muitas vezes consigamos perceber a terrível hermenêutica que se faz deste texto.
Não é em vão as Escrituras nos ensinarem: “se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará” (S. João 8.31,32). O problema: o povo brasileiro pereceu por falta de conhecimento (Oseias 4.6). Ficaram envolvidos no mundo, sem perceberem que a resposta não se encontrava nas ideologias humanas, mas encontra-se no ideal do Reino de Deus.
Devido a liderança da Igreja não ajudar a formar cristãos com um claro conceito do Reino de Deus, e aptos a viverem a realidade do Reino hoje, é que o povo de Deus tem caído em propostas populistas, que sempre desenvolvem uma ou outra classe de Ditadura e, por conseguinte, de opressão.
Interessante notar que, originalmente, os partidos políticos não tomavam parte do sistema parlamentarista. Apenas quando os homens começaram a virar suas costas a Deus, e buscar ideologias humanas, que se imaginavam capazes de substituir os valores do Reino de Deus, que começaria a nascer partidos políticos, cada um com uma ideologia, onde todos se acham que sua bandeira é melhor que a dos outros.
Quando a Igreja perde de vista o Reino de Deus, o povo de Deus substitui o Reino por ideologias humanas. Deste modo, termina ocorrendo aquilo que observamos no Brasil dos anos 60.
Somos injustos quando falamos sobre a História a partir da nossa posição ideológica atual, pois deste modo perdemos a capacidade de entender a complexidade histórica no seu contexto social, econômico e político. Realmente, penso que devemos ser mais humildes quando julgamos uns aos outros. Sobretudo, porque condenamos aqueles que achamos que agiram de certo modo, e não percebemos a realidade que os levou a atuarem daquela forma. Precisamos escutar uns aos outros; talvez assim, sejamos capazes de ver os dois lados, e compreender que ambos agiram errado devido as circunstâncias que tinham diante deles... e foram incapazes de ver outras alternativas.
Acredito ainda que este erro se deu principalmente por perderem de vista o Reino de Deus, tanto os que estiveram a favor da Ditadura Militar como aqueles que estavam com o Movimento Socialista. De fato, estou seguro que, se os vencedores houvessem sido os outros, quase certo teríamos sentimos por aqueles que foram vencidos.
Aprendamos com os erros do passado, despertemos à realidade atual e estejamos dispostos a compreender que também hoje estamos envolvidos em um verdadeiro conflito de cosmovisões, apesar de nem sempre notarmos toda sua intensidade, porém, é real em nosso meio. E, não estejamos surpreendidos com este fato, porque sempre foi assim, desde que Jesus estabeleceu a Igreja.
Contudo, tenhamos certeza de que o Reino de Deus está entre nós. Jesus diz, “se os expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus. Quando o Valente guarda, armado, a sua casa, segurança estão os seus bens mas, sobrevindo outo mais valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a armadura em que confiava, e reparte os seus despojos. Quem não é comigo é contra Mim; e quem comigo não ajunta, espalha!” (S. Lucas 11.20-23).
É preciso que acordemos para esta realidade, precisamos esquecer os interesses partidaristas e as ideologias humanas, e recuperar a cosmovisão cristã e, assim, ensinar as nossas comunidades a obedecer a tudo o que Jesus falou. Isto significa que os governantes, magistrados, líderes, empresários, igrejas, etc., devem seguir a Lei de Deus, viver o amor de Cristo, e compartilhar a graça do Espírito Santo.
Sejamos corajosos contra as Ditaduras, e os opressores deste mundo, porque o tempo de Satanás acabou e, agora, vivemos no tempo do Reino de Deus.
Bispo Josep Rossello; Igreja Anglicana Reformada, do blog Café com o Bispo.
"Contudo, nós cristãos estamos sempre fazendo o jogo dos políticos e governantes temporais, nos esquecendo assim, o grande chamado de tornarmos visível na terra o Reino de Deus."
ResponderExcluirAplausos.
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Acredito que este bispo deixou sua opinião bem clara. Esta em cima do muro. Todos sabem que nem a ditadura militar que muitos cristãos apoiaram conforme os documentos do "Brasil Nunca Mais", e o socialismo foram coerentes. O socialismo cientifico proposto por Marx e seus seguidores eram nos países desenvolvidos.
ResponderExcluirComo cristão fico boquiaberto com posturas como estas, que não define a sua posição.
Douglas de Castro Carneiro é professor de história no estado do Paraná.
Puxa! Finalmente um texto mais lúcido, sem esquerdismos e com mais cristianismo! Muito bom! Acho que agora teremos apologética verdadeira sem sensacionalismo extravagante que não ajuda em nada, não melhora os crentes, não os fazem mais adoradores de Deus e tão pouco atinge o coração daqueles que ainda não confessaram o Senhor Jesus como seu Salvador.
ResponderExcluirTexto deplorável, não merece uma análise.
ResponderExcluirDepois do post sobre a igreja e a ditadura,com todos que discuti o assunto soh percebo uma condicao... todos optam pela posicao mais confortavel...mesmo aqueles que ficam sobre o muro... nao vamos ser tolos nao... prevalece a condicao humana do conforto e da sobrevivencia... opcoes nunca existiram e nem existirao pq truculencia cabe e tende a prevalecer em qualquer agrupamento de pessoas.
ResponderExcluirEduardo
Para entender o texto de Rossello adequadamente é preciso, antes, ter alguma noção de Teonomia e Pós-Milenismo; do contrário, alguém vai achar que ele pensa que deveriamos optar por alguma ideologia humana, o que não é o caso, felizmente!
ResponderExcluirTeonomina, já!
(risos)
ONU aumenta pressão contra Brasil para investigar tortura na ditadura
ResponderExcluirRepresentante das Organizações das Nações Unidas vai enviar carta ao governo brasileiro para pedir que País investigue crimes e abra arquivos
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,onu-eleva-o-tom-e-cobra-o-brasil-para-investigar-tortura-na-ditadura,738864,0.htm
30 de junho de 2011 | 8h 57
Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo
GENEBRA - A ONU reforçou, agora de forma mais contundente, os pedidos para que o Brasil inicie investigações imediatas sobre a tortura nos anos da ditadura. A organização pede ao País para abandonar sua posição em relação à lei de anistia e também para abrir os arquivos militares. A nova declaração foi feita por Navi Pillay, número 1 da ONU para Direitos Humanos.
Em um encontro com a imprensa internacional nesta quinta-feira, 30, a ex-juíza sul-africana e atual alta comissária da ONU para Direitos Humanos, insistiu que o governo tem a obrigação de garantir o "direito à verdade à população". Pillay também confirmou que enviará nos próximos dias uma carta ao governo brasileiro, pedindo a mudança de posição. "Vamos ser rigorosos nisso", afirmou.
A ONU vem fazendo pedidos insistentes ao Brasil para investigação de crimes contra direitos humanos durante a ditadura. Há duas semanas, alegou que a devolução das caixas com informações sobre a existência de pelo menos 242 centros de tortura no Brasil pelo Conselho Mundial de Igreja deve ser aproveitada para rever a posição do País em relação a como lidar com o seu passado.
Comunista é revanchista e analfabeto. Se vocês não sabem, vale para o ONU também, a Anistia agraciou os terroristas e também os comandantes. Os terroristas, apesar de seus crimes, são recompensados COM MEU DINHEIRO, enquanto que os comandantes precisam ser investigados. Engraçado que os Milistares NÃO SÃO CONTRA A INVESTIGAÇÃO, o problema é que a esquerda (a petralhada todo por trás do projeto de investigação) se recusa a permitir que representantes dos milistares fazem parte do processo... Por que será, hein? Talvez tenham medo que se descubra também onde a presidente Dilma escondeu os milhões que ajudou a roubar quando ainda era militante.
ResponderExcluirAbraços.
E o capitalismo??
ResponderExcluirA história nos mostrou até hoje que quando colocada na parede por condições extremas a classe trabalhadora sempre recorreu a revolução social, reestruturando a sociedade conforme a necessidade para estabelecer o seu auto-governo. Foi assim com os Soviets e com as Comunas, que surgiram espontaneamente, sem direção de grupo nenhum, apenas pela ação direta e espontânea da classe trabalhadora que se auto-organizou para isso.
ResponderExcluirJá no manifesto Marx deixou claro que o capitalismo é completamente contraditório com a forças produtivas que surgem e crescem sem parar em seu interior, deixou claro que essa contradição levará ao colapso do capitalismo e que a classe assalariada é levada por essas e outras condições objetivas a revolucionar a sociedade, destruindo o capitalismo e inaugurando seu auto-governo ao abolir IMEDIATAMENTE o trabalho assalariado e o poder governamental do Estado.
A revolução pode vir antes do colapso do capital, porém, com ou sem uma revolução, o capitalismo é inviável e não tem como se eternizar, mesmo que a classe proletária se acomode e nada faça para enfrentá-lo, pois o próprio colapso inevitável do sistema, como esta ocorrendo agora, tornam a revolução inevitável, pois será conseqüência de elementos objetivos absolutamente imperativos.