Descontinuaram o Ricardo Gondin da Ultimato. Mais papinha de bebê à vista.

Pr. Ricardo Gondim anuncia o seu desligamento da Revista Ultimato, onde escreveu por quase vinte anos, sendo mesmo, segundo a opinião majoritária um dos principais responsáveis pelo sucesso da revista. 

Na verdade, não saiu – foi saído. Com toda a elegância, claro. 

Eu não “compro” a teologia do Pr. Ricardo Gondim. Seu teísmo aberto é um abismo aberto entre o Deus soberano do meu entender e viver e este “deus” expectador de um grande terrário humano. 

Tanto assim, que jamais subscrevi qualquer texto do Gondim nesta linha, perto dela, ou a milhas e milhas dali. Entretanto, a experiência da leitura de alguns destes textos foi desafio, revisão e consolidação... Do meu pensar calvinista, claro, risos.

Entrementes, admiro muito a inteligência superior de Gondim. Já me alimentei de artigos belíssimos da sua lavra, exatamente via Revista Ultimato, onde sempre vou buscar inspiração, ainda que não concorde com tudo o que seus colunistas ali escrevem.

Não só Gondim. Leio, com prazer intelectual raro, outros brilhantes articulistas, apenas para citar dois: Braulia Ribeiro e Rodrigo Silva, que também são colaboradores do Genizah. 

As questões teológicas (digamos, da alma) eu as trato com respeito. Aprecio as diferenças (aquém da linha da heresia, lógico) e, creio, crescemos com elas. No espírito deste artigo aqui.

 Tanto assim que, aqui mesmo no nosso playground, temos pentencostais, calvinistas, batistas, episcopais, emergentes, neopentecostais, anglicanos, etc. E a vamos seguir convidado gente que pensa fora da caixa!

Estou convencido que um fórum inteligente é aquele que oferece espaço a pensadores cristãos de diferentes matizes, propiciando o debate mais desafiador e enriquecedor. Já assistimos aqui colaboradores defendendo posições totalmente excludentes envolvendo escatologia, soteriologia, mordomia, liturgia, louvor, etc. Tudo com muito humor, inteligência e respeito. O resultado deste encontro é crescimento para todos. Fortalece as convicções ou abre novas perspectivas. 

Enfim, Food For Thought 

Eu sou fã da Revista Ultimato. E sempre a vi da mesma forma - Alimento para o pensamento. Sólido, diversificado e nutritivo. Comida de cabra-macho de fino trato.

Lamento a mudança de rumo. Até porque, percebo que a motivação é muito mais relacionada com o temor da exposição neste tiroteio em quarto escuro que está se tornando a questão dos direitos civis dos gays vis a vis o direito de expressão dos cristãos em sua crença, que segue fazendo vítimas, sendo a última em coup d'état .

É bom lembrar: a renomada revista já publicou artigos muito mais “perturbadores”, melhor assim, em matéria teológica do que as recentes incursões do Gondim no mundo do deus do The Sims, sem mouse. Ou seja, não se trata de por limites às viagens filosóficas, tão pouco decisão acerca do que determina se a heresia alheia merece o rótulo de comestível, ou não. 

A verdade incômoda é que a maioria dos evangélicos tem dificuldade de conviver com opiniões diferentes, tanto mais as fortes. O que se vê na maioria dos veículos cristãos é um tipo de papinha de bebê pasteurizada, insossa. Feita para crianças imaturas na fé:

- Presbiterianinho não coma disso não que o bicho-papão-armininus vai carregar a sua salvação!

- Varonete de fogo não leia isto, seu sapatinho vai esfriar!

Alguém precisa dizer aos irmãos que divergir um pouquinho não mata não, nem se perde a salvação! A Ultimato era uma das que se propunha a isto.

Como marqueteiro, até entendo a motivação da medida... As ovelhas estão alarmadas com a invasão dos porcos comunistas coloridos petistas, risos. Buuuuuuuuu!

Mas também vejo os riscos. Há quem goste de toucinho, do bom e velho mesmo. Sem frescuras e sem alarde.

Esperando que o novo mote da revista não passe a ser:

Quem não pode com feijoada, come a nossa papinha.

Desejo o melhor!

Danilo Fernandes

A seguir a carta de despedida do Gondim

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Em www.ricardogondim.com.br

Após quase vinte anos, fui convidado a “des-continuar” minha coluna na revista Ultimato. Nesta semana, recebi a visita de Elben Lenz Cesar, Marcos Bomtempo e Klênia Fassoni em meu escritório, que me deram a notícia de que não mais escreverei para a Ultimato. Nessa tarde, encerrou-se um relacionamento que, ao longo de todos esses anos, me estimulou a dividir o coração com os leitores desta boa revista. Cada texto que redigi nasceu de minhas entranhas apaixonadas.

Fui devidamente alertado pelo rev. Elben de que meus posicionamentos expostos para a revista Carta Capital trariam ainda maior tensão para a Ultimato. Respeito o corpo editorial da Ultimato por não se sentir confortável com a minha posição sobre os direitos civis dos homossexuais. Todavia, reafirmo minhas palavras: em um estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis. Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis.

O reverendo Elben Lenz Cesar, por quem tenho a maior estima, profundo respeito e eterna gratidão, acrescentou que discordava também sobre minha afirmação ao jornalista de que “Deus não está no controle”. Ressalto, jamais escondi minha fé no Deus que é amor e nos corolários que faço: amor e controle se contradizem. De fato, nunca aceitei a doutrina da providência como explicitada pelo calvinismo e não consigo encaixar no decreto divino: Auschwitz, Ruanda ou Realengo. Não há espaço em minhas reflexões para uma “vontade permissiva” de Deus que torne necessário o orgasmo do pedófilo ou a crueldade do genocida.

Por último, a Klênia Fassoni advertiu-me de que meus Tweets, somados a outros textos que postei em meu site, deixam a ideia de que sou tempestivo e inconsequente no que comunico. Falou que a minha resposta à Carta Capital sobre a condição das igrejas na Europa passa a sensação de que sou “humanista”. Sobre meu “humanismo”, sequer desejo reagir. Acolho, porém, a recomendação da Klênia sobre minha inconsequência. Peço perdão a todos os que me leram ao longo dos anos. 

Quaisquer desvarios e irresponsabilidades que tenham brotado de minha pena não foram intencionais. Meu único desejo ao escrever, repito, foi enriquecer, exortar e desafiar possíveis leitores.

Resta-me agradecer à revista Ultimato por todos os anos em que caminhamos juntos. Um pedaço de minha história está amputada. Mas a própria Bíblia avisa que há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Meu amor e meu respeito pela família do rev. Elben, que compõe o corpo editorial da Ultimato, não diminuíram em nada.

Continuarei a escrever em outros veículos e a pastorear minha igreja com a mesma paixão que me motivou há 34 anos.

Ricardo Gondim

Soli Deo Gloria

Genizah