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É Melhor ser Cauda de Tubarão a Cabeça de Bagre

Carlos Moreira

Augusto Comte é o filósofo a quem se atribui a criação do Positivismo, corrente filosófica do século XIX que surgiu com o desenvolvimento do iluminismo e das mudanças produzidas pelo fim da Idade Média. O Positivismo propõe uma existência construída sobre valores absolutamente humanos, o que o afasta tanto da metafísica quanto da teologia. 

Mas foi através de seu livro “Sistema de Política Positiva” que Comte, para mim, deu seu “salto” mais ousado: a proposição de uma nova religião – a Religião da Humanidade. Para ele, as religiões do passado eram apenas formas primitivas, uma vez que se baseavam em mitos, dogmas e na metafísica. Na Religião Positiva, os “deuses” e o sobrenatural eram dispensáveis, pois a verdadeira busca por sentindo se dá na unidade moral humana, no ideal de sua regeneração social.  Sendo assim, o Positivismo se tornou uma refutação ao pensamento cristão, pois ele retirou Deus da cena humana e colocou a ciência em seu lugar.

Pois bem, em nosso tempo, vimos algo semelhante acontecer com a chamada Confissão Positiva, um movimento que nasceu no seio das Igrejas pentecostais e neo-pentecostais e que, pasmem, acabou por retirar Deus da existência, e colocou no lugar dele o homem. A partir de então, o que temos assistido é o Criador tentando servir a criatura, e não o contrário.

A Confissão Positiva, surgida na década de 1980, teve como precursor o pastor Essek William Kenyon. Influenciado na universidade pelo pensamento de Finéias Parkhust Quimby, um curandeiro e hipnotizador, Kenyon construiu a base para a sua “nova teologia” usando técnicas do poder do pensamento positivo, doutrinas das seitas da Ciência da Mente e a metafísica do Novo Pensamento.

É fato que todo vento de doutrina se espalha com excepcional velocidade no meio evangélico. Com a Confissão Positiva não foi diferente, sobretudo quando ela ganhou adeptos de “peso” internacional como Kenneth Hagin, Morris Cerullo e Benny Hinn. Foi este “esquadrão” que, inicialmente, se encarregou de espalhar a “nova doutrina” mundo afora. Desta forma, ela assumiu diferentes nuances, passando a ser reconhecida também como Teologia da Prosperidade, Evangelho da Saúde, Palavra da Fé ou Movimento da Fé.

Seu surgimento no Brasil se deu no final do século XX e, àquela altura, os que aderiram ao movimento foram Edir Macedo, Valnice Milhomens, Rene Terra Nova, RR Soares e Estevam e Sônia Hernandes. A Confissão Positiva, ou como a chamamos no Brasil, a Teologia da Prosperidade, baseia-se numa hermenêutica fraudulenta amparada por sofríveis artifícios manipulatórios. Ela fomentou na consciência de toda uma geração o sofisma de que o “crente” deve reivindicar seus “direitos” para adquirir tudo o que desejar, pois Deus está obrigado a cumprir aquilo que, supostamente, tenha prometido em Sua Palavra.

O resultado de tudo isso não poderia ser outro a não ser o surgimento de um sem número de aberrações doutrinárias além de perversas práticas eclesiásticas. As bases do movimento passam por um sincretismo capaz de misturar o cristianismo ao espiritismo, judaísmo, as religiões de mistérios, cultos afros e até ao gnosticismo. Seus líderes transformaram-se rapidamente de pastores a verdadeiros feiticeiros do sagrado, intermediários exclusivos entre o céu e a terra, profetas do apocalipse, mestres de revelações inusitadas para os últimos dias.

Infelizmente, a Teologia da Prosperidade alcançou em pouco espaço de tempo milhões de adeptos, quase sempre gente desesperada em busca de solução para seus problemas. Além do mais, as “ofertas” das “igrejas” que abraçaram o movimento tornaram-se irrecusáveis. No “cardápio” tinha-se cura de enfermidades e saúde abundante, prosperidade financeira, restauração de casamentos destruídos, libertação de encostos, dentre outras “benesses” que, por fim, arrastaram nesse tsunami de heresias incautos e despreparados, os quais, espoliados de todas as formas, passaram a engrossar cada vez mais as fileiras das denominações supra-citadas.

A Confissão Positiva, como aconteceu com o Positivismo de Comte, criou uma espécie de nova religião, onde Deus tornou-se um ser escravizado a cumprir liturgias performáticas pré-estabelecidas. Fies de outras denominações passaram a ser considerados crentes de 2ª, gente que estava fora da “benção”, do “mover”. Neste novo cenário, as mais variadas práticas foram surgindo, todas supostamente respaldadas nas Escrituras. Vieram os cultos de catarse emocional, os seminários de cura interior, as correntes para libertação de maldições hereditárias, os processos de “mapeamento” de “potestades espirituais”, coisas tão bizarras e absurdas que sou capaz de apostar que até o diabo teve dificuldades em acreditar.

Lembro bem de uma das frases usadas pelo movimento que bem simboliza o nível de consciência e fé destas pessoas: “”deus” te pôs como cabeça e não como cauda”. Era uma espécie de mantra positivista, ufanista, usado para “fazer a cabeça” dos “discípulos” e criar neles um embuste mental capaz de aliená-los e afastá-los de toda a verdade do Evangelho.

Uma das curiosidades mais intrigantes da “nova religião” é o fato de suas mensagens retornarem sempre aos heróis da fé do velho testamento, pois eles servem de modelo para demonstrar a benção, a prosperidade, a vitória e a saúde. Em suas homilias, pregadores exaltam personagens como Moisés, Davi, Abraão e Salomão, todos bem sucedidos e divinamente abençoados, como referencial daquilo que Deus deseja de Seus filhos.

O que eu gostaria, todavia, era de vê-los pregar sobre a simplicidade de Jesus, que não tinha onde reclinar a cabeça, que foi humilhado, difamado, perseguido e, por fim, morto. Gostaria de vê-los pregar sobre as profundas dores e perdas da vida de Paulo, que dizia ter aprendido a viver na escassez e a estar feliz por ter o que comer e com o que se vestir. Quem sabe, ainda, sobre o apóstolo João, já velho e calejado, preso na ilha de Patmos, privado de tudo e de todos, agonizando sozinho e aguardando a esperança da salvação.

No primeiro século da era cristã, os líderes eram entregues a morte para que os discípulos pudessem experimentar a vida. Hoje a liderança mudou um pouco... “Apóstolos”, “Bispos”, “Patriarcas”, e outras “entidades” andam em jatinhos, vestem ternos italianos, possuem um Mercedes na garagem e moram em mansões de 3 pavimentos. É um contra-censo quando comparado com a afirmação de Paulo de que os apóstolos eram postos em último lugar, como escória do mundo. Hoje essa gente virou divindade, seres metafísicos, nem pisam no chão de tão santos que são, “astros” do mundo gospel, membros desta confraria de hipócritas, desta panacéia religiosa, desta pantomima de mambembes do “sagrado”.

Mas é bom saber que os dias destes pústulas estão contados. É fato que, cada vez mais, uma enorme legião de incautos e inocentes acorda para a verdadeira intenção do movimento da Confissão Positiva e de seus “líderes”. Um caso público, e bem recente, é o do jogador Kaká, que era uma espécie de “marionete” nas mãos da “Quadrilha dos Hernandes” e que, enfim, parece ter acordado para o que de fato ali se passa. Tanto ele, quanto a esposa, que era pastora da denominação, de forma ética e discreta, acabaram de se desligar das mãos destes mercadores de ilusões.

O que creio, como bem disse o Ricardo Gondim, é que “o século 20 assistiu ao alvorecer, à consolidação, ao apogeu e ao desgaste do movimento evangélico, um ciclo histórico que está prestes a se encerrar. O que virá depois é uma incógnita – contudo, é possível vislumbrar que, passada a crise de pragmatismo que assola a Igreja deste início do terceiro milênio, a espiritualidade será experimentada de maneira mais viva e relacional com Deus”.

No mais, meu mano, está tudo aí às claras, e só não vê quem não quer. No Genizah – www.genizahvirtual.com – agente publica um escândalo por dia, uma aberração por hora. Quem nos acompanha sabe que a pancada é grande, é “madeira de dar em doido”. Quem puder que agüente. E o time de “subversivos” não se cansa de escrever e desmascarar de forma contundente e profética essa corja de estelionatários do Evangelho da Graça de Jesus Cristo.

Pra terminar, deixo apenas um pensamento para sua reflexão: a moçada da Teologia da Prosperidade afirma que “deus” nos colocou por cabeça e não por cauda. Pois é, há quem creia nisso... Para mim, contudo, que sou um cara que anda na contra-mão, prefiro ficar com outra máxima: “é melhor ser cauda de tubarão do que cabeça de bagre!”.


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  1. Muito bom esse texto , eu acredito que a década que passou foram os anos perdidos da Igreja evangélica , um tempo pars ser esquecido , acredito que a qualquer momento toda essa máscara da religiosidade tosca que se estabeleceu no inconciente do povo brasileiro irá cair e muitas pessoas de bem que estão sendo enganadas um dia poderão enchergar como aquele cego que Jesus curou.

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  2. S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L!!!!

    Fui muito bem guiada pelo Espírito Santo de Deus hoje, ao descbrir muito por acaso a existência desse blog!Estopu no trabalho e passei a tarde INTEIRA por aqui!
    Nada mais me interessou! Rs...

    Com posso ter ficado tanto tempo sem saber que este blog existe??? :(

    Achei tudo de um bom humor abençoado e críticas inteligentes, elegantes e bem embasadas na palavra de Deus, enfim!
    Uma maravilha!;)
    Serei leitora assídua e certamente, indicarei para outros irmãos na fé!!!

    A Paz........

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  3. Ótimo texto Carlos!!! Também prefiro ser cauda de tubarão... rsrsrsrs

    Muito feliz o texto!!!

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  4. Excelente texto! Inteligência, reverencia e humor são marcas registrada do site. adooooooro!!!
    Infelizmente esse movimento positivista cresce a cada dia e com ele outras heresias vem junto e o povo morrendo em seus delitos e sacramentando o que é profano. Para que parar? se esta sendo lucrativo em todos os sentidos para o homem decaido e depravado.
    Meu consolo e saber que nada esta em oculto aos olhos do Senhor, e dia do julgamento virá... Por enquanto, fico por aqui sendo cabeça de bagre (rsrsrsr...)
    Paz sobre todos!!

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  5. Só pra deixar registrado, aqui está mais um cauda de tubarão, EU. haha. Deus te abençôe, Carlos

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  6. Bom dia queridos!!!

    Vejo que a opinião de todos é livre, mas acredito que isto não vai ajudar em nada, pois sou da visão e o que vocês colocam nestas matérias não tem este objetivo pura e simplismente de que Deus é nosso servidor, de forma alguma, Deus é sempre Deus e não há homens acima d'Ele jamais.
    Ao invés de vocês só colocarem matérias que desabonem estes pastores (tenham eles a nomenclatura que tiverem), ainda assim eles são pastores ou não estariam à frente de uma igreja.
    Cada um vai responder por aquilo que fez e que faz, por isso as contas deles serão com Deus e não nos cabe dizer se estão certos ou errado, ninguém é totalmente certo ou errado, apenas as opiniões são diversas.
    Esta é se não me engano a 3° matéria que leio desta revista eletrônica, mas infelizmente descordo delas, pois seria bom vocês postarem a outra parte da história, e não procurar tão somente partes contrárias sobre os fatos.
    Eu não creio que estes pastores são desta forma, e coloco aqui a minha decepção por estas matérias.

    No amor de Cristo

    Jisa.

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  7. Ótimo artigo. Eu vivi essa realidade durante 5 anos de minha vida e digo que eu conhecia tudo, menos a Graça de Jesus, mas hoje sou participante Dela. Que as escamaas caiam dos olhos de nossos irmãos que estão iludidos nesse conluio.

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  8. Se eu for obediente, receberei as bençãos.

    Deut 28:13 E o SENHOR te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do SENHOR teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir.

    Caso contrário...

    Deut 28:43 O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás;
    44 Ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda.

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  9. Muito bom esse texto, me abençou e me fez refletir muito.. Lembrei de uma irmã nova convertida de uma igreja dessas da "prosperidade" a primeira palavra que ministraram justamente para ela foi essa "cabeça e não cauda", coitada nem entender a palavra direito entedeu.. mais os irmãos ungidos como ela diz vivem a procura dela, descobriram que as condições financeiras dela são poucas já deixaram ela de lado!

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  10. Ótimo texto. Parabéns Carlos. Este corja de “pastores” sem caráter que infelizmente tem surgido no meio do povo evangélico, não sabem nem mesmo o que é ser um verdadeiro pastor. Só querem tirar a lã das pobres “ovelhinhas”, não se importando se elas estão caminhando para o abismo. O verdadeiro pastor da a vida por sua ovelhas, deixa as noventa e nove e vai atrás de uma que se perdeu. Esses caras só querem sugar até o ultimo centavos dos fieis, pois eles não têm nenhum compromisso com o evangelho de Cristo Jesus.
    Agradeço a Deus por ter pessoas assim com vocês, “subversivos“, pois também faço parte desta turma, que não se conforma com este mundo.
    Fique todos na paz do nosso Senhor Jesus Cristo.

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  11. Queridos, a bem da verdade, não gosto de ser calda de nada, mas a matéria é verdade, sou cristão, pentecostal desde que nasci, mas meu pai sempre me ensinou que só ganha presentes, menino obediente, que ter vitórias, leia e obedeça o que a Bíblia diz. e só pra lembrar: é melhor ajuntar tesouros no céu; próspero, somente na graça; rico no amor de Deus; cabeça, só Cristo, somos corpo... um grande abraço.

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  12. Sou membro de uma Igreja tida como tradicional e careta mas com uma fé inabalável em Jesus Cristo contra todo vento de doutrina.... oro sempre para que Deus continue levantando gente como vocês do GENIZAH para alertar de forma incansável o povo de Deus.

    Forte Abraço,

    Continuem nessa batuta disgastante que tenho certeza que é puro estres. Que Deus te fortaleça sempre.

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  13. Achei o texto bom, dá uma boa perspectiva da Teologia da Prosperidade, mas acho que não se aplica muito à expressão usada para iniciar o assunto: "Deus nos colocou por cabeça e não por cauda".
    Quando se utiliza essa expressão, quer-se dizer que os cristãos devem ser formadores de opinião, influenciar, não serem influenciados. Pessoas informadas e estudadas afim de levar o evangelho a quem precisa, e buscando a excelência em tudo o que fazem. Dignos representantes e seguidores de Jesus. Deus deseja que Seus filhos o representem bem! Apesar da expressão em questão ser usada pelos seguidores da Teologia da Prosperidade, creio que seja válida sim.

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  14. José Roberto- gosto disso precisamos muito que Deus nos livre desses embustes.

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  15. legal este artigo, realmente tem muita coisa estranha no meio do povo evangélico.

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  16. "O egoísmo e a vaidade custam mais do que a fome e a sede", já dizia um personagem da História norte-americana. Particularmente, não quero ser juiz dessas coisas. Mas tomo a liberdade de comentar algo: os homens tendem a vomitar o seu "eu" de uma forma tão egocêntrica e forte, de modo que todos engulam como sendo uma "verdade". Diria, porém, que o homem no seu eu deve literalmente desaparecer, para que, em seu lugar, apareça o Senhor Jesus. Assim sendo, tudo será diferente, tudo será igual ao que ensinou o Senhor Jesus! Como disse o apóstolo Paulo, "nao mais vivo eu, mas Cristo vive em mim". Assim que deve ser! Há uma grande resistência quando se fala nas manifestações do Espírito Santo. O homem bitolado quer reduzir isso ao que pensa seu intelecto. Mas o Espírito de Deus não pode ser "aprisionado" pelo intelecto humano. Em geral, tais pessoas têm uma vida derrotada, são uns frustrados, depressivos... Quando um crente cheio do Espírito Santo prega, eles ficam intimamente comparando com o que seu "banco de dados" do intelecto humano, remoendo, murmurando senão em voz alta mas baixinho. E vão ficando cada vez mais depressivos, tristes, revoltados. A árvore se conhece pelo fruto. As ovelhinhas do Senhor, que são ridicularizadas por muitos aqui, são bons frutos. É fato e contra fatos não há argumentos! Não precisa ser "estudioso" para que Deus use. Aliás mesmo, Deus em geral não usa "capacitados" mas capacita os que Ele escolhe. Foi assim no início e assim será. Quando o Verbo que se fez carne habitou entre nós, Ele não procurou os "sábios" do areópago de Atenas ou de Roma, mas sim, os homens mais simples e indoutos da Galiléia. E ainda se alegrou em Espírito por Deus ter escolhido os "pequeninos", em detrimento dos "sábios" e "entendidos". Assim foi porque assim te aprouve, meu Pai! Quem tem condições de ouvir isto, ouça!

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