O Evangelho Transgressor
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Hermes C. Fernandes
Já houve inúmeras tentativas de encaixar a mensagem do Evangelho dentro de um pacote ideológico, ou mesmo de identificá-la como uma filosofia. Mas dado o seu caráter subversivo, o Evangelho é transgressor por natureza. Ele não se submete às regras. Ele é livre, rebelde, e por isso, alvo de tantas contradições.
É perda de tempo tentar sistematizá-lo, dissecá-lo, ou expô-lo como uma receita de bolo. A Boa Nova do Reino sempre nos surpreende, indo além de qualquer definição.
Nesta série de reflexões, vamos buscar compreender o escopo do Evangelho através de sete palavras iniciadas com o prefixo TRANS.
Oriundo do latim, o prefixo “trans” significa “ir além”, ultrapassar os limites pré-estabelecidos.
Transmitir – Ir além de nós mesmos
Uma notícia que se preze tem que correr o mundo. Quanto mais quando se trata da mais relevante notícia.
O Evangelho é, por definição, uma notícia, mas não uma notícia qualquer. Ele é uma ótima notícia. É a partir da transmissão desta notícia que a ordem é subvertida, e o Reino de Deus é estabelecido entre os homens.
Que grande privilégio nos foi concedido! Deus poderia ter confiado aos anjos a nobre missão de transmitir tal notícia. Em vez disso, preferiu correr todos os riscos, comissionando os homens.
Diz-se que quem conta um conto, acrescenta um ponto. Quem já brincou de telefone sem fio sabe muito bem disso. O recado dado pelo professor no pé-do-ouvido do aluno, ao ser retransmitido de aluno em aluno, vai se alterando, de forma que, ao chegar ao último aluno, seu conteúdo estará totalmente comprometido, não parecendo em nada com o que o professor disse ao primeiro portador.
Como garantir que a notícia não se corrompa na medida em que é retransmitida? Como manter seu conteúdo inalterável?
Paulo nos dá a fórmula:
“E o que de mim, através de muitas testemunhas ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros” (2 Tm. 2:2).
Está patente neste texto que a preocupação de Paulo é manter o conteúdo da mensagem inalterável. Em outra passagem ele diz: “O que eu recebi do Senhor, isso também vos entreguei” (1 Co.11:23a). Portanto, sua parte estava garantida. Restava agora garantir que os que a receberam, retransmitissem-na com total fidelidade.
Quais as precauções que Paulo tomou? Primeiro, o que ele dizia era sempre na frente de muitas testemunhas. Ele seguia radicalmente a instrução dada por Jesus aos Seus discípulos, de que o que houvessem ouvido dentro da casa, anunciassem de cima do telhado. Portanto, o anúncio do Evangelho deve ser feito publicamente, para que seu conteúdo seja protegido. Aquilo que se diz ao pé-do-ouvido, num lugar secreto, separado de todos, pode ser facilmente adulterado quando for retransmitido, sem que ninguém se dê conta. Ma se é dito abertamente, às claras, quem retransmiti-lo terá que fazer com precisão, para não ser confrontado.
Eis uma das diferenças básicas entre o Evangelho e as religiões de mistério que circulavam largamente nos dias da igreja primitiva. Tais religiões eram cheias de segredos, senhas, reuniões secretas em lugares separados, jargões que só eram conhecidos pelos iniciados, cerimônias misteriosas, e etc. O Evangelho vem na contramão disso tudo.
Nele, o mistério é revelado. O que foi sussurrado, deve ser proclamado em alto e bom som.
Segundo, Paulo pede que Timóteo seja seletivo na escolha daqueles que serão responsáveis pela retransmissão da mensagem. Todos podem ouvir. Mas nem todos estão aptos a retransmitir. Somente o que demonstrarem fidelidade à toda prova.
Quase dois mil anos se passaram, e apesar de todas as tentativas de se corromper o Evangelho, ele se mantém intacto. Basta que as pessoas se dêem o trabalho de comparar o que está sendo pregado, com o que está registrado nas Escrituras, contando sempre com o discernimento dado pelo Espírito Santo.
As pessoas só compram gato por lebre, porque são intelectualmente preguiçosas. Não querem conferir, como fizeram os crentes bereianos. Pra quem gosta de ser enganado, esse pseudo-evangelho que tem sido apregoado em nossos dias é um prato cheio.
Que tenhamos o mesmo propósito e compromisso dos cristãos primitivos em comunicar fielmente o que receberam do Senhor.
"O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco" (1 Jo.1:3a).
Nada de revelações extras! Nada de acréscimos, numa tentativa de enfeitar o pavão. E se um anjo do céu se meter a besta, trazendo-nos uma revelação suplementar, que seja maldito, conforme diz Paulo aos Gálatas (1:8).
O futuro do mundo depende da transmissão fiel do que temos recebido do Senhor. As próximas gerações nos agradecerão.
Acompanhe nossas reflexões ao longo da semana.