Nossa nova dívida após a Graça
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"Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes. De sorte que, quanto está em mim, estou pronto para vos anunciar o evangelho, também a vós que estais em Roma”. Romanos 1:14-15
Paulo, como apóstolo da Graça de Deus, sabia que sua dívida com Deus havia sido quitada na Cruz. Entretanto, ele reconhece uma nova dívida, contraída no momento em que o Senhor o salvou e o constituiu “apóstolo” aos gentios. Da mesma maneira, todos tínhamos uma dívida com o passado, e agora, temos uma dívida com o futuro. Tínhamos uma dívida com Deus, e agora, temos uma dívida com o mundo. De onde veio essa consciência em Paulo? Ele mesmo responde: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna” (1 Tm. 1:12-16). Paulo sabia que o Senhor o escolhera e salvara para que seu testemunho servisse de modelo à todos quanto fossem alcançados pelo Evangelho.
Pregar o Evangelho não era algo facultativo, mas uma obrigação. “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá. Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele” (1 Co. 9:16-23). Não importava o preço que teria que ser pago, Paulo estava disposto a tudo para cumprir sua missão. Nem mesmo sua vida era tida por valiosa, em comparação à sua missão.“Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” (At.20:24).
Apesar de ser uma “obrigação”, Paulo cumpria com “alegria” o seu ministério. Não era apenas uma obrigação, mas uma “graça”, um privilégio.
“Fui feito ministro deste evangelho, segundo o dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder. A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas insondáveis de Cristo” (Efésios 3:7-8). Tal sentimento deveria pulsar no coração de cada cristão. Somos todos devedores, e não temos alternativa, senão, anunciarmos o Evangelho indistintamente a todos. Foi por eles que fomos alcançados.
O que ocorre quando negligenciamos nosso papel? Quando encaramos nossa salvação como um fim em si mesmo e não um meio para alcançarmos aos demais? Tomemos como referência uma conhecida história do Antigo Testamento, envolvendo uma família cujo chefe havia partido e deixado uma dívida:
“Certa mulher, das mulheres dos discípulos dos profetas, clamou a Eliseu, dizendo: Meu marido, teu servo, morreu; e tu sabes que ele temia ao SENHOR. É chegado o credor para levar os meus dois filhos para lhe serem escravos. Eliseu lhe perguntou: Que te hei de fazer? Dize-me que é o que tens em casa. Ela respondeu: Tua serva não tem nada em casa, senão uma botija de azeite. Então, disse ele: Vai, pede emprestadas vasilhas a todos os teus vizinhos; vasilhas vazias, não poucas. Então, entra, e fecha a porta sobre ti e sobre teus filhos, e deita o teu azeite em todas aquelas vasilhas; põe à parte a que estiver cheia. Partiu, pois, dele e fechou a porta sobre si e sobre seus filhos; estes lhe chegavam as vasilhas, e ela as enchia. Cheias as vasilhas, disse ela a um dos filhos: Chega-me, aqui, mais uma vasilha. Mas ele respondeu: Não há mais vasilha nenhuma. E o azeite parou. Então, foi ela e fez saber ao homem de Deus; ele disse: Vai, vende o azeite e paga a tua dívida; e, tu e teus filhos, vivei do resto”. 2 Reis 4:1-7
Aquele “discípulo dos profetas” morrera e deixara uma dívida para a sua família. E dada a incapacidade da viúva em saldá-la, seus credores queriam nada mais nada menos que os seus filhos como pagamento. De maneira análoga, quando não pagamos nossa dívida com o mundo, muitas vezes, nossos filhos são reivindicados como pagamento.
De onde provêm que haja tantos filhos de crentes afastados do Caminho? Não basta sermos discípulos de um grande profeta, ou apenas temermos ao Senhor. Não sabemos quando deixaremos este mundo, e por isso, urge gastarmos cada momento de nossa vida no cumprimento de nossa missão. Não podemos deixar uma dívida para trás, para que nossos filhos sejam entregues como pagamento.
Infelizmente, temos que admitir que gerações inteiras de cristãos deixaram este mundo sem cumprir cabalmente sua missão. De alguma forma, estamos pagando pela dívida que estas gerações nos deixaram. Eis a razão pela qual o mundo está tão violento. Por que tantas guerras? Tanta fome? A Igreja tem sido negligente em sua missão. Desde que surgiu o boato de que o mundo estaria prestes a acabar, a Igreja cruzou os braços, e entregou às baratas. E o pior é que esse “boato” se tornou doutrina e ortodoxia. Longe de nós discordarmos da doutrina que ensina o retorno glorioso de Cristo. O que questionamos é o escapismo adotado por muitos em resposta à essa doutrina. Que Jesus virá em glória, não resta dúvida. Porém isso não nos serve de álibi para nossa inércia. Espero que quando Ele vier, nos encontre de mangas arregaçadas, trabalhando pela transformação do Mundo.
Eliseu perguntou àquela mullher o que ela tinha em casa. Uma botija de óleo, era tudo que ela possuía. Aos olhos do profeta, aquilo seria o ponto de partida para uma mudança radical em sua situação. Cremos que Deus pretende restaurar o Mundo. Mas qual será o ponto de partida desta restauração? Aquilo que temos em casa: nossos filhos, nossa família. Nossa família é nossa botija de óleo. Nossos filhos são nossa contribuição particular para um mundo melhor. Mas não podemos parar por aí. Ela é o ponto de partida, mas não é a linha de chegada. Eliseu mandou que aquela mulher fosse aos vizinhos, e recolhesse o maior número possível de vasilhas vazias. E o que ela fez? Enviou os seus filhos. Precisamos conscientizar nossos filhos de que eles são nossos “enviados especiais”, nossos missionários, nossa extensão. São eles que vão buscar “vasilhas” na escola, na faculdade, na vizinhança, na parentela. Depois de trazidas as vasilhas, seguindo à orientação do profeta, ela fechou a porta sobre si e seus filhos, e começou a enchê-las com o óleo que havia em sua pequena botija. À medida que as vasilhas eram cheias, ela as separava das demais. Esse é o processo de santificação. O Espírito Santo enche e separa. A Igreja deve ser constantemente enviada ao mundo, mas jamais pode negligenciar a santificação. As vasilhas chegam vazias, são cheias e depois, separadas.“Fechar a porta” também aponta para a importância do culto familiar, do Altar Doméstico. Enquanto havia vasilhas vazias, o óleo não parava de jorrar. Mas quando as vasilhas acabaram, o óleo cessou.“Fechar as portas” oferece benefícios e riscos. Devemos fechá-las, mas não trancá-las. Não podemos impedir o fluxo de novas vasilhas. Se elas pararem de chegar, o óleo vai parar de fluir. Não há limites para Deus. Há óleo suficiente para encher todas as vasilhas do Mundo!
Nossa dívida para com as próximas gerações
Se, de alguma maneira, as gerações anteriores nos deixaram uma dívida, não podemos fazer o mesmo às gerações que nos sucederão.Tudo o que Deus está fazendo em nossos dias, não visa apenas o nosso aprazimento, mas também o benefício das próximas gerações.“Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele, e nos fez assentar nas regiões celestiais, em Cristo Jesus, para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça” (Ef. 2:4-7a). Tudo o que Deus tem realizado em nossa geração, é um recado às gerações vindouras. A cada nova geração, um maior número de pessoas deve converter-se ao Senhor. E isso se dará pela pregação do Evangelho, e pelo testemunho das gerações anteriores. Isso está claro em Salmos 22:27-31: “Todos os confins da terra se lembrarão, e se converterão ao Senhor; todas as famílias das nações adorarão perante ele, pois o reino é do Senhor, e ele domina entre as nações (...) A posteridade o servirá; falar-se-á do Senhor às gerações futuras. Proclamarão a sua retidão ao povo que há de nascer, pois ele o fez”. E no Salmo 102:18 lemos: “Escreva-se isto para a geração futura, e o povo que está por vir louve ao Senhor”. E ainda no Salmo 145:4: “Uma geração louvará as tuas obras a outra geração; anunciarão as tuas proezas”. Chega dessa paranóia de que somos a última geração, aquela que presenciará o arrebatamento. Tal perspectiva nos priva de uma visão mais otimista do futuro da humanidade. Que sejamos a geração que tomará consciência de suas obrigações para com as gerações futuras, e fará alguma coisa para preparar-lhes o caminho.