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Breve história do Pastor Jucá

Por Zé Luís

Jucá não era má pessoa.

Atendendo ao chamado, fez seminário como deveria, e logo seu púlpito era um dos mais concorridos, já que ali se pregava de forma raramente genuína. Os outros pastores, apegados a métodos e formas não entendiam como o colega de ministério consegui arrebanhar tantas ovelhas com sua forma tão singela de pregar. Também admiravam-se da sua capacidade de lembrar, não só dos nomes, mas de detalhes da vida das pessoas nas quais pastoreava, suas amadas ovelhas.

Não demorou muito para a liderança de sua denominação, respeitada, invejada e constantemente clonada, convocar o então Pastor Jucá a estar a frente de outros trabalhos, em nome do crescimento da Obra do Senhor: pregava em congressos, conquistando a platéia com sua oratória simples, mas cativante.

Ele falava como qualquer outro, mas os que ouviam entendiam, e repassavam aquela informação, fazendo, as vezes, até os trejeitos e cacoetes: método razoavelmente eficaz.

As ovelhas se multiplicavam em seu aprisco e com o tremendo sucesso do Jucá, fez-se necessário se rodear de assessores melhores (na verdade, ele nunca os teve) e traçar melhores formas de administrar aquela torrente de neófitos em sua congregação.

A denominação trazia seu nome como ícone, e o ícone se atrelava à denominação, num processo que se alimentava mutuamente.

Em pouco tempo tornou-se celebridade no meio: Cds, vídeos, fitas e livros – alguns tão mal escritos quanto esse texto, mas muito bem editorados e “marqueteados”– eram vendidos nas livrarias próprias, ditas evangélicas, consumidos se fossem uma espécie de amuleto, ou leitura obrigatória (embora seus consumidores nunca os lessem).

Um dia, chegaram aos assessores, homens interessados em outra coisa que não fosse a Palavra. Procuravam, de forma quase discreta e nada inocente, utilizar da influência daquele homem, até então, de Deus, para que seus ouvintes, ovelhas que agora mal conhecia (o maldito ativismo imposto era a causa), fossem influenciadas para o propósito que eles tinham.

Eles nada tinha com o Reino, ou mesmo se converteriam a Jesus. Abertamente ofereciam benefícios ao pastor Jucá, que não gostou da conversa. Dispensou o grupo, e continuou seu ministério, sofrendo as dores e as ingratidões.

Foi aí que percebeu: quando se enfurecia ou indignava com injustiças e ingratidões que o Ministério tem, lembrava da oportunidade na qual abrira mão. Pesava, cada vez mais, a comparação entre o que tinha e o que havia recusado.

Foi questão de tempo para que ele cedesse à aquela proposta. Restava então analisar qual das propostas mais se aproximava de suas opiniões pessoais, e quando então viesse, abraçaria-as como se as tivesse aceitas nos dias de seu seminário, quando abraçou a fé a qualquer custo.

Poucos anos depois, Pastor Jucá nada tinha com aquele rapaz do seminário, a brecha aberta trouxe uma legião de outras condições, devidamente barganhadas. Sua retórica já não era mais o mesmo, sua pregação era tão inócua quanto a dos outros pastores, que agora pareciam satisfeitos com a igualdade do colega.

Perto do fim, que não sabia que estava tão próximo, sozinho em sua sala onde assistia TV, chorou. Sua vida havia sido apenas uma vida, apesar do sucesso em certa época, e sentiu muita vontade de ter sido apenas um pastor de ovelhas, sem nome nem brilho. Lembrava da época que tomava café na casa de uma ovelha, que era também seu amigo, a ponto de compartilhar seus pecados e fracassos. Lembrou das orações que fazia por seus inimigos, sem a necessidade de que elas fossem públicas, ou qualquer outra demonstração de piedade a ser reconhecida ou admirada

Ligaria para aquele irmão, se lembrasse o telefone, ou mesmo soubesse para que igreja havia debandado, ou iria na casa da irmãzinha cerrar um pedaço de bolo, se o Senhor não tivesse recolhido, embora ele não pode estar em seu velório: um congresso importantíssimo era inadiável.

De repente, toda sua vida e sua história de sucesso perderam o sentido e ele lembrou daquele amor que o fez abraçar o Evangelho, não com poucas lágrimas, e pensou em um recomeço, no desperdício que foi toda aquela ilusão dos holofotes, e na gratidão de ter vida para se arrepender de tudo que deixara de fazer.

Aquela tarde, chorou copiosamente.

Sua filha, que passou a morar com ele depois que se divorciou de um obreiro de outra denominação, encontrou-o como que dormindo em seu sofá, a TV ainda ligada, onde novelas passavam. Ligou para a ambulância, que nem tentou reanimá-lo.

No domingo, estranhos na igreja em que foi pastor lembravam vagamente do Pastor Jucá, enquanto era velado no salão lateral, entre cochichos e eventuais piadas, que alguém sempre insiste em contar nestas ocasiões.

Resumir vidas assim é triste, mas muitas, entre elas, preciosidades do Reino, se perdem por bem menos que isso.

E seu ministério? Como vai?

Zé Luís é um dos que participam do Genizah, o blog que mais cresce na Blogosfera
Prática cristã 1581933241784846297

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  1. puxa vida, adorei o retrato quase que totalmente fiel a muitas e muitas histórias de pessoas, vidas e familias e não somente relacionados a "ministério", mas a trabalho, estudos, grupos e tudo mais. Quando se perde o amor e o foco e correm atras de ventos, interesses pessoais e parcialidades ..

    que o Espirito Santo sempre encontre lugar em nossos pobres coração lugar para sempre nos deixar cheirando como ovelhas que necessitam de pastor

    Parabéns

    @DanielBrianese

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  2. Triste saber que essa é a história de muitos...

    Galera, parabéns pelo blog. Acompanho de perto e Gloria a Deus por pessoas que ainda defendem o evangelho puro e simples!

    Abraço
    Pedro Pamplona

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  3. O texto representa uma verdade inquestionável. Seria preciso realizar uma campanha de evangelismo somente para pastores, a fim de convertê-los, ou melhor, nos convertermos ao ao evangelho.

    Agora, sei bem dos sentimentos do pastor Jucá, pois também sou pastor. Os "dados" que nos são passados diariamente acabam viciando a nossa visão de conversão, isso quando a mensagem que nos trouxe ao aprisco já não foi viciada desde sua gênese.

    Depois de tanta coisa, é muito difícil inclinar-se às ofertas e propostas recebidas? Será que não estamos trilhando uma "carreira pastoral" que se assemelha a uma "carreira profissional, com os estagiários, trainee`s, supervisores e CEO`s da palavra de Deus? Porque o rebanho com o olhar exige do seu pastor uma demonstração de crescimento hierárquico ou de posição social para demonstração de poder da mensagem?

    Concordo que a coisa está errada. Mas tenho que ponderar que o problema não é intrínseco ao humano que se dispõe a ser pastor. O rebanho tem grande responsabilidade no comportamento do seu mentor. Não deveria ser assim, mas é...

    Diga aí: qual a solução para esta celeuma heclesiástica - teológica - sociológica - pentecostal?

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  4. "E o seu ministério, como vai?"
    Pergunta que nos faz refletir. E almejar ser apenas um pastor Jucá em início de carreira.
    "Apenas", apesar da grandiosidade da missão.
    Simples, beirando o simplório, mas com uma imensa vontade de pregar a Palavra, independente de fama ou reconhecimento. À maneira de João Batista, dizendo: "Importa que Ele cresça, e eu diminua."

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  5. Irmãos como dói na alma reconhecermos, confessarmos que a história do Pastor Jucá no nosso meio está muito mais real do que imaginamos, mesmo com o amor incondicional do Senhor por nós, fico pensando como ele esta triste, imaginem com toda a sua Santidade, ver seus escolhidos,tão amados se corromperem, e eu ainda acredito que o que chega ao nosso conhecimento é pequeno, perto da podridão que realmente acontece!Continuemos a orar por essa vidas! Mara Rubia Serafim....

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  6. Muito própria a colocação de uma vida...melhor de tantas vidas que encontramos embaixo de pontes ou como moradores de rua nas grandes e nas pequenas cidades como a minha. Pastores que um dia lideraram muitos e que acabam sendo liderados pela bebida, drogas e esquecidos embaixo das barbas e roupas sujas.Tudo isso está escrito e se cumpre quando nós pensamos que Deus é meramente alguém que podemos manipular. Abraços

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