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Quando os crentes davam certo

Robinson Cavalcanti


A primeira razão porque os crentes davam certo no Brasil, no passado, é que eles eram discriminados e perseguidos. Só entrava para as Igrejas evangélicas quem estava disposto a pagar o preço. O martírio integrava o protestantismo. Quem não agüentava o tranco, saía. Isso purificava a Igreja e lhe dava grande coesão interna. Todos eram "de mesmo", naquele contexto adverso não havia lugar para "crentes festivos".

Durante a vigência da Constituição Imperial (1824) o documento de identidade era a certidão de Batismo na Igreja Católica Romana. Quem não fosse batizado, nem existia, nem era cidadão. Os protestantes, como os demais não-católicos, não podiam ser funcionários públicos, não podiam se candidatar a cargos eletivos, seus casamentos eram nulos (todo mundo, tecnicamente, "amasiado" por amor a Cristo), porque o único documento de casamento válido era o emitido pela Igreja Romana, e quando a pessoa protestante morria tinha que ser "plantado" em algum terreno, porque todos os cemitérios eram administrados pelas Paróquias católicas romanas, e nele só podiam se enterrar quem tivesse recebido o rito de extrema-unção de um sacerdote daquela confissão.

Com a Constituição republicana de 1891 veio a separação Igreja-Estado, cessaram as discriminações legais, mas aumentaram as perseguições. As novas levas de padres e freiras missionários que foram importados pela Igreja de Romana na Primeira República (1889-1930) vinham com a missão de "combater os protestantes". Crianças e jovens eram perseguidos nas escolas, profissionais nos empregos, proibia-se o aluguel de imóveis comerciais e residenciais para os "nova-seita", também conhecidos como "bodes", Igrejas eram apedrejadas, pessoas fisicamente agredidas, amizades e vínculos familiares eram rompidos. A imprensa incitava contra essa fé "estrangeira". O hino de um Congresso Eucarístico cantava: "Quem não for bom católico, bom brasileiro não é". Bíblias eram queimadas. Paredes de templos protestantes eram levantadas de dia, para serem derrubadas de noite. "Protestante é pobre, burro e feio". Casar minha filha com um deles, nem pensar...

Na cidade de minha família materna, em Alagoas, um padre holandês, se referindo à artéria onde residiam as melhores famílias da cidade, compusera a quadrinha de gozação:

"Na Rua do Rosário, ninguém pode mais passar
São bodes e cabrinhas, todos eles a berrar..."

Com raras exceções localizadas, esse quadro não mudou muito até o início dos anos 1960, e a realização do Concílio Vaticano II.

Mais de um século de dureza! Naquele contexto, que requeria autenticidade, a permanência e o crescimento do protestantismo foram marcados por atos de heroísmo e muito martírio. Naquele contexto, os crentes davam certo...



Edward Robinson de Barros Cavalcanti é um teólogo e bispo da Igreja Anglicana do Cone Sul da América, comandando a diocese de Recife.



Prática cristã 1199946533631624855

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  1. Parece que a igreja "deu certo" só enquanto eram perseguidos... o lema de hoje é "vem quem quiser, tem espaço pra todos e você pode ficar do jeito que bem entender"... ou talvez seja outro lema qualquer, mais já é notório que não é mais boa parte do genuíno evangelho.
    Parabens pelo post... que o Eterno continue lhe abençoando...

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  2. ótimo texto e levantamento de fatos históricos e sou grato a homens como Lutero e Calvino que foram muito além de instituições e leis: buscaram o evangelho simples, porém minha opnião diverge com a sua no sentido de que "os crentes davam certos quando...", se libertaram de um meio para escravizar de outro e o Evangelho de Cristo se perdeu novamente
    mas parabéns pelos relatos
    sigamos caminhando ao encontro do Mestre ...

    Daniel Brianese

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  3. a Paz do Senhor, gostei desta informação muitos tem se esquecido da história do evangélio no brasil, valau relembrar, se me autorizarem vou posta-lo no meu blog, www.pbvaldineifernandes.blogspot.com.

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  4. Parabéns pela postagem.
    Em tempo oportuníssimo!

    Um abraço!

    ---------
    "A importância do Fiel Ministro" -
    www.2timoteo316.blogspot.com

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  5. Conheci o evangelho no início dos anos 70, aos 19 anos. Até então nunca havia conhecido uma igreja evangélica ou um pastor. Não conheci a perseguição da qual o bispo Robinson fala, mas éramos discriminados e ridicularizados. Ser crente era pertencer há uma minoria considerada ignorante, atrasada e analfabeta. Chamar alguém de crente era uma ofensa. O que era ridículo hoje é show.

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  6. Excelente postagem. Aproveitei e também postei no meu blog, mas citei a fonte. Abraço
    http://www.historiaedebate.blogspot.com/

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  7. Sr Robison Cavalcanti qualquer grupo independente de ser evangélico, católico ou do candomblé funciona melhor sob pressão. Grupos nesse caso se tornam mais coesos e relevam picuinhas menores em favor da causa em comum.
    É um comportamento de sobrevivência que une as pessoas.
    Como o cristianismo já tem por expectativa contínua a perseguição, sofrimento e até o martírio, nada mais frustrante do que a tranqüilidade, mesmo que a eterna "neura" de precisar ser a vitima exista.

    Se alguem pensa que acaba com uma religião ou uma seita perseguindo ela, está tão enganado como quem apaga fogo com gasolina.
    Exemplo de quem entendeu bem isso foi o imperador Constantino.

    Isso é muito engraçado do meu ponto de vista. ADV do 7° Dia especulam e estão alarmados esperando quando os governos do mundo irão criar o temível "Decreto Dominical" onde todas as religiões do mundo obedecerão menos uma fiel. Adivinhe quem... A paranóia é facilmente comprovada em seus livros ou mesmo numa conversa.

    Testemunhas de Jeová aguardam ansiosamente a ordem de parar de pregar quando a ONU se voltar contra a unica religião verdadeira que resistirá ao ataque a todas filhas de Babilônia. Advinha qual é essa religião.

    Evangélicos tem diversas expectativas também de perseguição e aguardam isso para logo serem arrebatados ou salvos por Jesus em pessoa saindo glorioso das nuvens.

    Mormons tem em todo lugar até curso de fazer conserva para se prepararem para os dias de perseguição que logo virão.
    E assim vai todo mundo em pânico e vendo o fim a cada noticia desde o ano 40 DC até os tempos modernos com guerra Iraque 1, 2, World Trade Center, Afeganistão, Crise financeira mundial, epidemia de AIDS, suína, etc, etc, etc.
    Praticamente 2000 anos de pânico cristão desde o tempo que Pedro já era ridicularizado sobre essa expectativa e disse como se fosse para somente para o futuro o problema de todos ali:

    2Pedro3:3,4

    "Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências,
    E dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação"

    É esse problema já existia e Pedro estava bem apercebido disso e usou então a lenda Suméria do dilúvio (devidamente plagiada pela bíblia bem mais tarde) para manter o estado de alerta constante.

    Ruim para a fé é a realidade se mostrar na prática bem mais tranqüila para o cristão e para a humanidade do que foi em todas as épocas passadas, mas resta a conveniente desculpa de que quando tudo parecer calmo então a coisa pega... Ou seja a coisa pega de qualquer forma he he

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  8. Os crentes precisam dar certo!Nem que para tal tenhamos que padecer perseguições.Nosso Senhor não veio pregando rede e água de coco e muito menos viagens fantásticas e cruzeiros marítimos com determinados "ídolos gospel".A ordem é carregar a cruz e pelo que sei cruz é dor,sofrimento e renúncia o ego.

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  9. Consta que Gunnar Vingren e Daniel Berg no começo do século passado andavam centenas de km por estradas inóspitas do Pará, em plena selva amazônica, evangelizando de casa em casa e não raro eram escorraçados e humilhados nas aldeias e vilas por onde passavam.
    Também há relatos até de ameça de morte e vioência contra colporteurs (vendedores de Bíblias e literatura cristã) protestantes que ousavam entrar em redutos católicos como Juazeiro do Norte e Aparecida.
    Hoje é apóstolo com unção de nobreza, pastor com linha direta para o céu, bispo ungido que fala e deus obedece... este é o triste panorama da igreja denominacional brasileira atual.

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  10. Olha, em falar de Robson Cavalcanti tomo muito zelo nas palavras não por aquele zelo imbecil de "falar mal dos servos"... Num é nada disso! Falo por gratidão por ele ter escrito um livro que foi muito marcante para minha formação chamado "A Utopia Possível".

    Mas enfim, hoje eu já olhoi com outros olhos e ouvidos esses discursos geralmente que leio na ultimato... Essa espécie de "nostalgia" do que os evangelicos foram e não são mais... Tá virando um discurso caduco já... E sabe o que é isso?

    É falta de coragem de romper... Eu rompi, não sou mais evangélico (o que não quer dizer que renego minha preciosa herança), mas apesar de legítima historicamente, socialmente e o escambal, não acho que isso seja evangelho de Jesus Cristo...

    E sabe o mais engraçado? Nunca me senti tão perto de Cristo em toda minha caminhada! E quer saber algo ainda mais engaçado ainda? Nunca fui tão evangelizado! Todo mundo quer me ganhar pra jesus agora, não pq rompi com Cristo, mas pq tomei coragem, pus em risco tudo o que eu tinha e pulei fora...

    Olho pra igreja evangélica com muito carinho e respeito... Mas ela não é mais minha sacerdote, meu elo de ligação com Deus.

    Minha igreja é o dois ou mais... E tanto faz se for dentro de uma congregação convencional, numa pizzaria ou num barzinho tomando uma deliciosa cachaça da serra!

    Não deixei de me congregar, apenas tornei (assim como Jesus) a minha congregação mais ampla, mais livre e longe das intermináveis burocracia que as igrejas históricas, neo pentecostais e etc. colocam do home comum se aproximar de Deus...

    E sim, isso foi um desabafo!

    Grande abraço a todos! Apesar de ser apenas uma tentativa de se costurar pano novo em buraco de roupa velha, gosto deste blog, sinceramente!

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  11. Lendo esse texto, lembrei de certo missionario chinês que pediu para não orarmos pelo fim da perseguição da igreja na China, pois aqui no ocidente a igreja não é perseguida e se tornou no que é..

    Ielton Isorro
    http://clamandonodeserto.blogspot.com/

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  12. Só posso dizer: concordo 100%. A moda gospel está destruindo a eficácia da mensagem da Cruz.

    Infelizmente ser "crente" não choca mais ninguém. Ser crente está virando piada (veja hoje na Grande Família o uso chulo da palavra conversão).

    Precisamos reverter o quadro.

    Graça e paz, sempre.

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  13. Excelente texto. Provoca uma grande reflexão sobre a atual situação dos evangélicos deste país. Por essa razão, eu já até pensei em orar a Deus pedindo perseguição à Igreja de Cristo para ver se ela desperta.
    Deus o abençoe, meu querido!
    Ratifico o que disse supra. Excelente texto.

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  14. Protestantes como os de hoje, com um discurso mentiroso e caluniador contra a Igreja e seus fiéis, cresceram como um câncer que não foi devidamente contido, eu fui protestante e me sinto traído, me ensinaram mentiras, me levaram a caluniar contra a Igreja de Cristo, o protestantismo me levou ao erro, sinto não ter nascido católico, num lar católico, cresci na mentira e no farisaísmo protestante, hoje posso ver o que este câncer protestante evangélico está causando ao país, a verdadeira idolatria, o mamonismo, o ensino de um evangelho que não é o de Cristo, baseado em mentiras, mentiras e mais mentiras.

    Alexandre (católico, ex-seminarista batista, frequentava as reuniões da AEVB quando Caio Fábio era o líder)

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  15. olha alexandre que os protestantes tem seus erros concordo que tem igrejas s/a ai a rodo blza! não vou dizer que vc estar errado de ir na igreja católica pq placa de igreja não salva ninguem,mas procure ler não só a biblia mas um pouco mais de livros de histórias , a igreja católica matava em nome de deus, algumas denominações "protestantes " tem idolatria sim adorão a mamom só que a igreja romana louva imagens de escultura, e vai dando titulo de santo a vurto por ai daqui a pouco vc ligua por engano la no vaticano vc é beatificado

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  16. Não concordo muito com esse texto, parece mais uma daqueles discursos "no meu tempo que era bom".
    Não acredito que a igreja tem que ser perseguida, tem que ser bem conduzida.
    Crente pereba sempre existiu, é só ler a Bíblia.
    O que vejo é uma grande confusão... a maioria do rebanho está perdido, não há muito pastores!
    É como na política... as pessoas boas criticam, mas não se comprometem, daí aparecem os oportunistas, e vira essa bagunça.
    Os filhos das trevas são mais hábeis que os filhos da luz!
    A natureza do homem é má, sempre tem mais gente pronta pra fazer coisas ruins do que gente boa para fazer o bem... temos medo, preguiça, encosto, sei lá!
    E outra coisa, eu creio que a igreja JÁ deu certo, estamos aqui.

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