A mediunidade protestante
http://genizah-virtual.blogspot.com/2010/08/mediunidade-protestante.html
Robinson Cavalcanti
Quando tive a honra de ser professor do Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), no Recife, conheci um aluno que nos dias de semana passava a tarde dormindo ou jogando futebol na quadra, enquanto deveria pregar nas congregações. O mesmo era conhecido por se pretender “espiritual” e “renovado”. Intrigados, procuramos saber se ele não estudava as Escrituras e preparava os sermões com antecedência. O mesmo considerou tal expediente muito “carnal”. Ao dormir a tarde toda ou jogar bola, ele acreditava deixar a mente limpa para o Espírito Santo “baixar” com seu recado, de forma pura e cristalina, logo mais à noite...
Devemos reconhecer a força cultural do espiritismo e dos cultos de origem afro-ameríndia, e como eles influenciaram a percepção de espiritualidade de algumas igrejas protestantes. O Espírito Santo e os anjos funcionam como espécies de “orixás evangélicos”, “baixando” sobre pastores e missionários, qual “médium protestante”. Isso sem falar em “profetas”, principalmente “profetizas”, com suas revelações particulares sobre saúde, família e negócio, tomando o lugar simbólico das benzedeiras do catolicismo popular, das cartomantes e dos pais e mães-de-santo. Há uma forte equivalência simbólica.
Nos cultos, ou se tem os “médiuns” ou se tem os “artistas”, que lideram o show-da-fé, no centro do palco e das atenções, promovendo o entretenimento.
C.S. Lewis denunciava as gerações que desprezam as outras do passado, supervalorizando o presente (presentismo). Isso não somente atenta contra a herança apostólica e o consenso dos fiéis, vivenciado através dos séculos, como também pretende ser melhor: restauradores da “pureza” e outras formas de arrogância espiritual, que rompem a unidade mística da “comunhão dos santos” (conforme confessamos nos Credos).
John Stott diz que o que faz uma liturgia viva ou morta, seja ela mais ou menos estruturada (não há liturgia informal, pois o “informal” é, apenas, uma outra forma), é o fato de os fiéis serem convertidos ou não e acreditarem ou não no que se pronuncia. A entonação, os sentimentos, a fé fazem a diferença. Foi o mesmo Stott quem disse que “um anglicano carismático não é um pentecostal”.
Somos carismáticos porque acreditamos que não há igreja sem o Espírito Santo, e não há presença do Espírito Santos sem carismas. Se Hans Kung disse que uma das marcas do anglicanismo era a sua aversão a extremismos, alguém também afirmou que “na Igreja Anglicana o Espírito Santo sopra como um gentil cavalheiro”.
Somos uma igreja que preza dois mil anos de herança litúrgica da igreja, católica e reformada. Herança que é o conjunto do que foi, nas diversas etapas e lugares, fruto da ação do Espírito Santo nas comunidades de fé. Daí o Livro de Oração Comum -- Bíblia pura, ortodoxia pura -- ser uma das marcas distintivas do anglicanismo. Os seus diversos ritos não engessam os crentes, antes os edificam, e podem ser intercalados com orações espontâneas, cantos, declamações, teatro, testemunho, em uma convergência com um presente que não rompe com o passado. Uma das maiores contribuições que a Diocese do Recife está fazendo para a maturidade da igreja no Brasil é a edição (ora no prelo) do Livro de Oração Comum Brasileiro (LOCb).
Há quem goste de culto batista tradicional, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para adorar em uma Igreja Batista. Há quem gosta de culto pentecostal “clássico”, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para ir, por exemplo, e adorar na Assembléia de Deus. Há quem goste do culto neo (pós) pentecostal, com apóstolos, banhos de descarrego, retirada de encostos e três recolhimentos de ofertas, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para ir à Igreja universal, Internacional ou Mundial. Agora, pelo amor de Deus, deixem o anglicanismo em paz, com sua liberdade litúrgica, com sua diversidade, sim, porém “com ordem e decência”, com a alegria do Espírito Santo e o LOCb na mão. E isso não é “anúncio de missa de sétimo dia” para se adotar como “um doloroso dever”, mas uma adesão livre, convicta e entusiástica.
Somos uma igreja sem mediunidade, sem estrelismo e sem “showbiz”, graças a Deus!
Devemos reconhecer a força cultural do espiritismo e dos cultos de origem afro-ameríndia, e como eles influenciaram a percepção de espiritualidade de algumas igrejas protestantes. O Espírito Santo e os anjos funcionam como espécies de “orixás evangélicos”, “baixando” sobre pastores e missionários, qual “médium protestante”. Isso sem falar em “profetas”, principalmente “profetizas”, com suas revelações particulares sobre saúde, família e negócio, tomando o lugar simbólico das benzedeiras do catolicismo popular, das cartomantes e dos pais e mães-de-santo. Há uma forte equivalência simbólica.
Nos cultos, ou se tem os “médiuns” ou se tem os “artistas”, que lideram o show-da-fé, no centro do palco e das atenções, promovendo o entretenimento.
C.S. Lewis denunciava as gerações que desprezam as outras do passado, supervalorizando o presente (presentismo). Isso não somente atenta contra a herança apostólica e o consenso dos fiéis, vivenciado através dos séculos, como também pretende ser melhor: restauradores da “pureza” e outras formas de arrogância espiritual, que rompem a unidade mística da “comunhão dos santos” (conforme confessamos nos Credos).
John Stott diz que o que faz uma liturgia viva ou morta, seja ela mais ou menos estruturada (não há liturgia informal, pois o “informal” é, apenas, uma outra forma), é o fato de os fiéis serem convertidos ou não e acreditarem ou não no que se pronuncia. A entonação, os sentimentos, a fé fazem a diferença. Foi o mesmo Stott quem disse que “um anglicano carismático não é um pentecostal”.
Somos carismáticos porque acreditamos que não há igreja sem o Espírito Santo, e não há presença do Espírito Santos sem carismas. Se Hans Kung disse que uma das marcas do anglicanismo era a sua aversão a extremismos, alguém também afirmou que “na Igreja Anglicana o Espírito Santo sopra como um gentil cavalheiro”.
Somos uma igreja que preza dois mil anos de herança litúrgica da igreja, católica e reformada. Herança que é o conjunto do que foi, nas diversas etapas e lugares, fruto da ação do Espírito Santo nas comunidades de fé. Daí o Livro de Oração Comum -- Bíblia pura, ortodoxia pura -- ser uma das marcas distintivas do anglicanismo. Os seus diversos ritos não engessam os crentes, antes os edificam, e podem ser intercalados com orações espontâneas, cantos, declamações, teatro, testemunho, em uma convergência com um presente que não rompe com o passado. Uma das maiores contribuições que a Diocese do Recife está fazendo para a maturidade da igreja no Brasil é a edição (ora no prelo) do Livro de Oração Comum Brasileiro (LOCb).
Há quem goste de culto batista tradicional, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para adorar em uma Igreja Batista. Há quem gosta de culto pentecostal “clássico”, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para ir, por exemplo, e adorar na Assembléia de Deus. Há quem goste do culto neo (pós) pentecostal, com apóstolos, banhos de descarrego, retirada de encostos e três recolhimentos de ofertas, e nós os respeitamos. Quem gosta desse tipo de culto é livre para ir à Igreja universal, Internacional ou Mundial. Agora, pelo amor de Deus, deixem o anglicanismo em paz, com sua liberdade litúrgica, com sua diversidade, sim, porém “com ordem e decência”, com a alegria do Espírito Santo e o LOCb na mão. E isso não é “anúncio de missa de sétimo dia” para se adotar como “um doloroso dever”, mas uma adesão livre, convicta e entusiástica.
Somos uma igreja sem mediunidade, sem estrelismo e sem “showbiz”, graças a Deus!
Edward Robinson de Barros Cavalcanti é um teólogo, político e bispo da Igreja Anglicana do Cone Sul da América, comandando a diocese de Recife. Foi professor da Universidade Federal de Pernambuco e escreveu dez obras sobre religião. Em 1997 foi eleito bispo da diocese de Recife. Como bispo diocesano, ordenou 57 diáconos e 49 presbíteros. Nesses sete anos foram abertas 34 das presentes 44 comunidades da Diocese Anglicana do Recife.
A paz Robinson!
ResponderExcluirMuito bem explicado, gostei e recomendo a todos.
Mas só a sua finalizaçao que eu fiquei numa dúvida a respeito de que igreja você mencionou na defesa:
"Somos uma igreja sem mediunidade, sem estrelismo e sem “showbiz”, graças a Deus!"
Está igreja que você se refere é como uma denominação que você dirige ou frequenta.
Mas se for a IGREJA o qual nós EU E VOCÊ SOMOS o CORPO DE CRISTO aqui na terra e sentado com Ele no trono da glória, então CONCLUO:
O ESTUDO NÃO É SÓ BOM, ,,,MAS É OTIMO.
Graça e paz do Reino de Deus em nossas vidas.
Muito bom.
ResponderExcluirComo seria bom se as atuais igrejas se concentrassem sómente na pregação da palavra.
Conheço igrejas que se você cantar direitnho,bonitinho e for carismático, o seu cargo a pastor ou pastora é garantido, a interpretação bíblica fica por conta da mente humana.
ResponderExcluirConcordo com o direito que os anglicanos têm de expressar a sua fé, bem como dos outros grupos citados no post.Mas tenho também a minha liberdade de discordar e criticar. Se alguém, ou qualquer grupo, quer ser "deixado em paz", então não freqüente blogs e nem publique posts. A não ser que o faça em sites onde não se tem a liberdade de dar opiniões. Aliás, fujo desses sites fechados, pois não se pode emitir opiniões acerca dos artigos e postagens. Quanto a dizer que a "herança litúrgica" católico-romana constitui-se num "conjunto de frutos do Espírito Santo" já extrapola o senso comum do que se entende por "liturgia" bíblica. O uso, por exemplo, de velas, altares com cruzes, "sacramentos", rezas, etc., não pode jamais ser aceito como prática cristã neotestamentária. Sobre a adoção de um "livro de orações", seria o caso de se esclarecer se são "orações" pré-fabricadas. Se este for o caso, não são orações, mas, sim, REZAS! E isto nada tem de bíblico e nem faz parte da ortodoxia cristã neotestamentária e apostólica. Mas afirmo que os anglicanos tem toda a liberdade de adotar a liturgia que preferirem, pois são livres para adorar da forma que melhor definirem. Mas não queiram me convencer de que a "herança" católico-romana com seus ritos, sua liturgia e suas rezas são bíblicas e ortodoxas, porque não são! Quanto aos ritos e liturgia anglicana do Século XXI, seria o caso de serem publicados posts a respeito, para que pudessem ser melhor analisados. Desse modo, não ficaríamos apenas com a impressão causada por alguns parágrafos, num post tão bom quanto esse, que tocou a fundo no assunto em foco, de forma brilhante e concisa. Parabéns pelo excelente post, ficando apenas as dúvidas quanto ao significado do "livro de orações" e da "herança" litúrgica católico-romana
ResponderExcluirQuem gosta de um Culto Anglicano vá até uma igreja Anglicana...
ResponderExcluirR Cavalcante se equivoca em falar em mediunidade protestante, como se em todo o culto pentecostal ou carismático houvesse estas coisas - não é verdade. É verdade que existem os falsos profetas e falsas mensagens. Mas, só há o falso porque existe o verdadeiro.
ResponderExcluirQuem não gosta de profecias e visões - as verdadeiras, claro - deve frequentar uma igreja anglicana ou uma bem tradicional. Quem gosta da atuação do Espírito Santo na igreja, que procure uma com base bíblica e onde o Espírito tem liberdade para falar como quiser. Mas, por favor, não confunda isto com mediunidade. Fazer esta comparação é ignorância, baixaria, desrespeito e falta de conhecimento bíblico.
Abração, Robinson,
Pr Durval.
Uma dúvida a corrente anglicana que o reverendo faz parte é que aceita o casamento homosexual?
ResponderExcluirolá... só queria saber oq vc entende sobre espíritismo pra colocar em seus artigos assuntos relacionados e com até certa relevância mas não com o nome espiritismo... concordo com as encenações e com as firulas dentro de doutrinas ou igrejas mas acho q generelizar e subjulgar algo não faz parte da cultura cristã, um real cristão não compara a ponto de criticar e sim tenta mostrar na forma de amor e com o evangelho da paz o norte e a informação nescessária para que o rumo se tome certo novamente, toma cuida pq admiro os blogs evangélicos e de qualquer outra religião mesmo sendo espírita, e acredito realmente que um cristão tem o deveer de amar, praticar a caridade sem subjulgar qualquer tipo de pessoa ou ato, pois cada um tem o seu momento de percepção e consciencia de estado moral.
ResponderExcluirCaro Bispo como sempre voce foi otimo! parabens!
ResponderExcluirSó concertando Recife fica no Nordeste.....que por sinal é linda de mais!!!!
ResponderExcluirNo mas tudo na paz....
Caríssimo irmão a frase: “Devemos reconhecer a força cultural do espiritismo” não cabe em relação ao assunto proposto, visto que o palestrante espírita não faz uma palestra a esmo. Existe uma preparação, um estudo do tema que se vai expor na tribuna do mesmo modo que um pregador protestante prepara a sua pregação. Logicamente que acreditamos no auxilio espiritual através da inspiração, mas que esse auxilio não abstrai o estudo e um roteiro organizado do tema que será trabalhado na exposição. Assim, se há fanatismo por parte de alguns seminaristas e pregadores protestantes não é culpa nossa.
ResponderExcluirUm abraço fraterno!