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A iminente ( e prejudicial? ) volta de Cristo!



Bráulia Ribeiro


O advento do Salvador proporciona uma esperança escapista. Quando esperamos Cristo para logo, podemos olhar ao redor com um senso de superioridade, sabendo que não precisamos intervir na realidade que nos cerca.

Quando estive na aldeia de meus amigos indígenas pela primeira vez, o pensamento que me ocorreu foi: "Quando Jesus entrar nesta cultura, eles acharão respostas para a miséria, para a destruição cultural e para a desolação em que este lugar se encontra". Mais de quinze anos depois, lamentavelmente, a situação da tribo está pior. Jesus entrou, a igreja chegou – no começo, trazendo uma renovação cultural necessária, reafirmando valores importantes como relacionamento, unidade tribal e identidade. Muitos indivíduos deixaram o vício do álcool e a promiscuidade que a proximidade com a civilização trazia. Depois, a revolução cristã foi se transformando em cultura religiosa. A falta de contato com a Palavra de Deus, ainda não traduzida, foi dando lugar a um sincretismo que seria até inofensivo se não fosse a ausência total de discipulado cristão. A participação das denominações evangélicas se fez notar no movimento inicial genuinamente indígena com a facção doutrinária que se instalou e acabou por dividir os clãs da tribo. Como na Irlanda do Norte, surgiu um conflito político cujos protagonistas valeram-se do argumento religioso para se fortalecerem. E a guerra santa interna acabou dividindo, inclusive geograficamente, a aldeia.

Com tudo isso, infelizmente, constato que indivíduos cristãos não criam automaticamente uma sociedade cristã. Na tribo, como no Brasil, o caos cultural, a ausência de valores morais que suplantem a chamada "lei do Gerson" – aquela seguida por quem quer levar vantagem em tudo – criam uma avalanche de problemas sociais que indivíduos transformados não conseguem bloquear.

E o que produz a Igreja? Quero pensar que o Espírito Santo transforma automaticamente o contexto cultural daqueles que lhe entregam o coração. Mas a realidade ao meu redor e a própria Bíblia contradizem esse meu romantismo religioso. Nem o Antigo, nem o Novo Testamento sustentam a idéia de que exista o livre pensador guiado apenas pelo vento do Espírito, profetizando em sua época como se tivesse vindo da lua. O Espírito Santo não é o único protagonista da história da Igreja. As tradições culturais, os axiomas sociais, a própria bagagem teológica, são atores muitas vezes mais influentes. Isso não quer dizer que a história de Deus não vá sendo escrita.

Este evangelho tosco, bem ou mal, vai deixando sua marca. Pensamos o que somos condicionados a pensar, pregamos o que, de certa forma, todas as gerações pregaram. As teologias que nos envolvem não são respostas à época que vivemos – mas são, muitas vezes, reflexos de tradições antigas que se perpetuam parasitando nas doutrinas essenciais. Nosso discurso soa anacrônico e temos dificuldade para apresentar soluções à realidade atual.

Uma das ênfases mais importantes do Evangelho de todas as eras é a volta iminente de Cristo. A iminência da sua volta já era uma idéia importante para Paulo, conforme I Tessalonicenses 5.1-2. Em todas as seguintes eras da Igreja, a volta de Cristo se tornou não apenas uma reflexão entre muitas outras, mas o mais importante combustível da fidelidade, do compromisso e do impulso de expansão dos cristãos. Em muitos momentos da história da Igreja, pessoas se atreveram a marcar o ano ou até o dia exato, recebido por "revelação".

Como todos os seres humanos, cristãos também se estressam e cansam, desesperam-se com o peso contínuo da cruz, buscam alguma maneira "espiritual" de fuga. Pois o advento do Salvador providencia esta esperança escapista de forma perfeita. Quando esperamos Cristo para logo, podemos olhar ao redor com um senso de superioridade, sabendo que não precisamos daquela realidade que nos cerca – seja a sociedade, as outras pessoas, o meio-ambiente. Ora, se Cristo está voltando, por que se preocupar com a sociedade em geral? As profecias sobre ela são as mais sombrias possíveis. O amor de muitos se esfriará, diz a Palavra; guerras serão comuns; a fome dizimará milhões. Toda responsabilidade cristã sobre o bem-estar da sociedade, sobre a implantação dos valores de Deus para que “venha o seu Reino assim na terra com no céu”, anula-se diante da expectativa cada vez mais real do mal inexorável.

Contribuindo com este clima, passagens bíblicas sobre a segunda vinda acabam se misturando com outras que se cumpriram no tempo de Cristo e pintam o quadro mais sombrio possível. A expectativa que alguns crentes têm sobre o mundo e sobre as pessoas que os cercam são piores do que a de muitos bruxos. A esperança e a fé, elementos essenciais aos princípios cristãos, tornam-se aplicáveis apenas ao indivíduo singular, quando muito ao grupo cristão, mas nunca à sociedade. O meio ambiente, então, é um grande inimigo. Terremotos, tempestades e furacões acontecerão constantemente, como armas de destruição em massa do grande Deus do juízo final. Este seria um Thor, o deus viking do trovão, ou Jeová-Jesus, o Deus judaico-cristão? Afinal, a única vez que Jesus se aproxima de uma tempestade é para apaziguá-la. Quando os discípulos quiseram usar o tempo para fritar alguns desviados, o Mestre não lhes permitiu. Nem arma divina nem somente sinais dos tempos. A Criação geme e sofre as dores e conseqüências dos pecados da humanidade.

A espera ansiosa pela vinda imediata de Jesus Cristo cria uma cosmovisão de mera sobrevivência espiritual, um Evangelho ralo, sem consequências mais profundas além da salvação que qualifica o crente para um possível arrebatamento. Mas o verdadeiro cristianismo se preocupa em influenciar. Os valores estabelecidos pelo Senhor são capazes de mudar radicalmente o rumo de sociedades inteiras, e não apenas isentar pequenos grupos do mal, terminando por seqüestrá-los para o céu.

Maranata! Ora vem, Senhor! Nós te esperaremos com fé, mas viveremos como se não fosses voltar antes de gerarmos nossos filhos, netos e bisnetos. Se não voltares amanhã, daqui a várias gerações alguém ainda se sentará nas lindas praças que construímos e se refrescará à sombra das árvores milenares que plantamos, e nas nascentes que salvamos. Talvez alguém, um dia, vai estudar a história e reconhecer que houve uma geração de cristãos que, séculos antes, pensou neles e lhes deixou um legado de amor.

Bráulia Inês Ribeiro está na Amazônia há 25 anos como missionária, é presidente nacional da JOCUM(Jovens Com Uma Missão) e autora do livro Chamado Radical (Editora Atos)


Escatologia 6584080118992621436

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  1. Nota-se neste texto a preocupação ambiental, muito mais comum sob a influência da amazônia e todas as reflexões que cercam os que estão envolvidos com ela.

    A alguns anos descobri um texto que considerei uma revelação (na verdade uma descoberta) diante de uma simples leitura das escrituras, Deuteronômio 20:19:

    "...Quando sitiares uma cidade por muitos dias, pelejando contra ela para a tomar, não destruirás o seu arvoredo, colocando nele o machado, porque dele comerás; pois que não o cortarás (pois o arvoredo do campo é mantimento para o homem), para empregar no cerco..."

    Descobri que, ainda que em meio às guerras, o SENHOR já se preocupava com a alimentação daqueles que viriam, por meio dela, tomar a terra citiada. Assim os filhos e os netos daqueles homens poderiam "...
    se refrescará à sombra das árvores milenares ...".

    Forte abraço, em Jesus, Eterno!
    sigaomestre.blogspot.com

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  2. Glória a Deus por este blog!!!
    Em apenas alguns instantes atrás estava falando sobre o pensamento dos cristãos contemporanêos com relação a volta de Cristo com uma amiga no msn, e qual o posicionamento que a Igreja tem tomado com relação a sociedade, exatamente como abordado no texto!!! Meio que do nada resolvi falar do blog com esta pessoa e, pra minha surpresa, quando abri o blog para mandar o link, la estava o texto com o mesmo assunto que estavamos discutindo! Que Deus abençoe vcs infinitamente, sou estudante de história, geografia e filosofia(esta por conta própria..rsrs), se precisarem de algo, estou a disposição do blog!!! Grande abç! Paz e Sabedoria do alto a todos!

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  3. Do ponto de vista ecológico, este mundo está condenado e não há nada que possamos fazer! O pecado destruiu o equilíbrio ambiental do mundo! Desta maneira somente a volta de Cristo poderá restaurá-lo! O pensamento ecológico-cristão não deve se basear na filosofia dos ecochatos que andam pelo mundo, pois para eles o meio ambiente é mais importante do que qualquer outra coisa. A preocupação do cristão com a ecologia deve se basear em Marcos 12:31- "... amarás o próximo como a ti mesmo." Este mandamento transcende o cuidado com a ecologia, pois quem ama ao próximo, não joga lixo na rua, mantém seu veiculo regulado para não emitir mais poluentes que o permitido, não destrói a natureza, não polui rios, pois tudo isso pode prejudicar o próximo seja ele dessa ou das gerações futuras.
    Acima de tudo amar ao próximo eleva o conceito ecológico, pois agrega também conceitos éticos e morais produzindo uma sociedade ecologicamente sustentável, justa e solidária!
    Como vimos a Palavra já nos deu a orientação correta para sermos coerentes com o meio-ambiente, afinal nós somos parte dele!


    Márcio Santos

    Meu blog: http://www.serhomembasta.blogspot.com/
    Acessem e deixem suas opiniões

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  4. Miss. Gilbeto Diniz - Santa Fé Argentina
    Quero dizer que a doutrina da eminiente volta de Cristo de maneira alguma anula, o nosso lutar por uma vida melhor. a visao de um mundo melhor e a luta pelo futuro de nossos flhos, pelo contrario a eminente volta do Senhor me faz lutar mais ainda em colocar todos o valores pregados por Cristo nos meus filhos, na congregacao que faco parte e dirijo, ela me faz entender que nesta geracao que estou, que pode ser a ultima, eu tenho que fazer o melhor, e se eu faco o melhor, mesmo que ele nao venha na minha geracao automaticamente ja deixei um legado moral, etico, humano, ambiental,social para proxima. Se alguem por igonarancia biblica, cultural, deixa de viver, deixa de lutar pelos ideiais de uma sociedade melhor, ele nao esta vivendo a verdadeira expectativa da VOLTA DO SENHOR, quem nao sente no seu coracao o desejo da volta eminente do Senhor Jesus, ele se deita no berco esplendido do conformismo religioso, nao entendendo seu chamado evangelistico, missionario, sua visao vira apenas humanistica, voltada para os ideais puramente terrenos, creio sim que podemos viver a expectativa da volta de Cristo para hoje, lutando e buscando vidas peridas nas ruas valados e caminhos pois ainda ha lugar e enquanto tivermos tempo e oportunidades, entraremos em todos os niveis da sociedade para buscar vidas para o reino e influenciar-las com as verdades e preceitos da palavra, que ela por si nos faz lutar tambem por todos os ideais citados pela nobre irma. Lutando por um mundo melhor, mas esperando Jesus hoje, Maranata ora vem Senhor Jesus.

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  5. Não sei se por ignorância, mas senti uma ponta de liberalismo no texto, entendo a indignação, mas não entendo a postura. sei lá! vai ver é porque a realidade que ela vive acaba produzindo este ceticismo liberal. Ou sou eu que estou insensivel.

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  6. A História DEMONSTRA que aqueles que aguardam a IMINENTE volta de Cristo fizeram muito mais pelo bem da Humanidade do que aqueles que não aguardam.
    É só olhar a situação dos países não cristãos com seus governos despóticos e as taxas de mortalidade alarmantes para ter uma prova disto.
    Meus pais assembleianos aguardavam a volta de Cristo compraram "A última trombeta" e mesmo assim trabalharam duro todos os dias para sustentar e educar os filhos em um tempo em que não havia bolsa-escola e que o governo racionalista e ímpio mandava um OVO COZIDO como merenda escolar.

    É normal ambientalistas e seus amigos culparem os cristãos pela situação atual. Os cristãos são mesmo o bode expiatório da humanidade.
    Ambientalistas e ONGs recebem dinheiro de governos , de grandes corporações via projetos de "responsabilidade social" e dos sangue-sugas que formam o sitema financeiro.
    Óbvio que estes nunca serão criticados, até porque arrastariam quem os criticou aos tribunais.
    Sobra para o crente que trabalha duro, paga impostos (para sustentar ONGs) e vai a igreja.
    Se ele espera a volta de Cristo é descrito como uma ameba que não faz nada...

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  7. Extra! Extra!

    Aberta a temporada de caça aos crentes dispensacionalistas!

    Quando terminarem de acabar com a gente, nem se iludam, vcs não terão muito tempo para comemorar... pq será a vez de vcs serem caçados, e não terão a nós para sairmos em sua defesa...

    vejam meu contraponto ao post do Hermes "Em caso de arrebatamento...", que publiquei:

    http://wallysou.com/2010/08/04/em-caso-de-arrebatamento-outra-visao-p-1/

    abs, apz.

    ps. não estou tentando fazer divulgação agressiva, estou postando aqui pq está no contexto do post, e coloquei todos os links de crédito.

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  8. Wally, meu irmaõ!

    Niguem está caçando ninguem, risos. Até porque há dispensacionalistas entre os colaboradores do blog e entre muitos amados amigos, os quais já postaram suas visoes aqui; A sua mesma seria bem vinda.

    Apenas nos achamos no direito de postar outras visoes tambem... Voce deixa?

    Há uma certa critica a escatologia aterrorizante dos caçadores de conspirações, etc. Mas não é o seu caso e nem da esmagadora maioria. Veja que o Pr Ciro Zibordi que é dispensacionalista publica uma serie tambem nesta linha...

    Não a caça ou guerra, apenas debate e a lembrança que o dispensacionalismo é a mais nova das doutrinas. Lembre disto!

    Abraço!

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  9. @Danilo, apz.

    obg pela deferência em comentar em meu blog, muita gentileza de sua parte, mano.

    tb te respondi lá, ok?

    qto ao post, tanto da Bráulia qto do Hermes, não ficou clara essa distinção entre conspiracionistas e dispensacionalistas, senti-me jogado no mesmo saco, amarraram a boca e sentaram o porrete... =op

    mas, algumas críticas do Hermes têm sua razão de ser, e subscrevo-as, mas ele atirou de 12 cano serrado, acertou o que viu e também o q não viu.

    quem sabe se, na próxima, ele atirar com fuzil e mira, evita essas baixas de "fogo amigo"?

    ah, vc recebeu uma msg q te mandei sobre o post "Contando as derrotas que me fazem subir cada vez mais alto"?

    http://wallysou.com/2010/07/17/contando-as-derrotas-que-me-fazem-subir-cada-vez-mais/

    gde abço.

    wally,

    do blog

    Desafiando Limites

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  10. MUito bom posso publicar no meu blog????(com os devidos creditos é claro...)

    PAZ!!!

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  11. Causa espanto a forma como os seres humanos ignoram o "cuidar e lavrar o jardim" ordenado por Deus... Seria mais espantoso se não nos lembrassemos que o pecado tem parcela majoritária nisso tudo. O homem pecador e decaído não tem uma boa relação com a criação divina. Afinal, nosso inimigo, que atua como patrocinador do pecado humano, tem como função destruir: destruir famílias, destruir pessoas e também destruir o "jardim" que nos foi tão apaixonadamente entregue pelo Pai. Já está na hora da igreja deixar o comodismo ambiental de lado. Quantas igrejas são excelentes fontes poluidoras? Será que a única poluição que esse povo conhece é a espiritual? Precisamos perceber que conservar o meio ambiente é conservar a qualidade de vida das pessoas, e isso é amor ao próximo!

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  12. Quanto disparate travestido de ensino cristão.Artigo condizente com os ensinos liberais heréticos dos dias atuais.

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