Daltonismo espiritual
http://genizah-virtual.blogspot.com/2010/05/daltonismo-espiritual.html
Hermes C. Fernandes
Até então, o homem só conhecia o bem. Nada que acontecesse à sua volta era tido por mal. Toda a criação era boa. Ele a enxergava com as lentes do amor de Deus. Mas agora, o mundo lhe parecia tenebroso e assustador. O homem passava a enxergar também o mal. Seu foco saiu da luz para as sombras. Não por ter ocorrido uma mudança na criação à sua volta. A mudança mais significativa aconteceu em seu coração, termo usado pela Bíblia para “consciência”. Com o coração corrompido, a consciência cauterizada, o ser humano passaria a fazer uma leitura dualista da realidade. Se antes tudo era bom, agora, a criação era dividida entre coisas boas e más.
Daí o surgimento desta esfera conhecida como inconsciente. O homem precisaria de um porão para a sua alma, onde pudesse armazenar muitas de suas experiências, principalmente aquelas que ele não gostaria de lembrar.
O afastamento da luz produz sombras, e a sua completa ausência produz trevas.
Foi o contato com os poderes das trevas, representados pela serpente, que o desviou da comunhão com seu Criador, mergulhando-o nas densas trevas da maldade.
Surgia então o dualismo. O “BEM” original fora substituído pelo binômio “bem/mal”. Até os animais passaram a ser classificados entre ‘puros’ e ‘impuros’.As cores vivas da natureza ficaram como que desbotadas, e homem tornou-se espiritualmente daltônico.[1]
Cristo Se entregou em sacrifício na Cruz para reverter isso. Por meio do mais nobre gesto de amor, Cristo desvenda nossos olhos, fazendo com que a criação recupere a sua santidade original. De maneira que Paulo pôde declarar: “Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os corrompidos e descrentes. Antes a sua mente como a sua consciência estão contaminados” (Tt.1:15). O sangue de Cristo tem o poder de purificar nossa consciência (Hb.9:14), e assim, transformar nossa cosmovisão[2]. Passamos a enxergar a criação como ela realmente é: boa.
Alguns crentes primitivos, ignorantes acerca da obra reparadora da Cruz, ainda se submetiam às categorias da Lei, classificando a criação entre aquilo que era santo, e o que era profano, puro e impuro. Paulo diz que tais crentes estavam se apostatando da fé, “dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que proíbem casamento (por classificarem o sexo como algo impuro), e ordenam a abstinência de alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de suarem deles com ações de graças; por que tudo o que Deus criou é BOM, e não há nada que rejeitar” (1 Tm.4:1-4).
A vida recupera seu colorido original quando a enxergamos sob o prisma da Cruz. Não há nada profano, mal, vulgar. Tudo é santo, à medida que serve ao propósito para o qual foi criado. Profanar algo é pervertê-lo, usando-o para o mal, e assim, atribuindo-lhe um significado maligno.
O que torna algo santo é a sua relação com o Criador. Uma vez que todas as coisas que há no céu e na terra foram reconciliadas com Ele por meio de Sua Cruz (Col.1:20), logo, concluímos que tudo é santo. Afinal, “dele e por ele e para ele são todas as coisas” (Rm.11:36). A harmonia entre o Criador e a criação promove a santificação de tudo quanto existe.
Deve ter sido um choque para Pedro, quando o Senhor lhe apareceu em visão, ordenando que ele matasse e comesse animais que eram vetados pela dieta prescrita na Lei Mosaica. Ao esquivar-se da ordem dada pelo Senhor, alegando que jamais havia ingerido coisa imunda, Pedro ouviu do Senhor: “Não faças imundo ao que Deus purificou” (At.10:15). Cristo resgatou a santidade original da criação.
Será que após a Cruz, a carne de porco se tornou menos danosa à saúde humana? Acredito que não. A purificação aqui é de caráter subjetivo, e não objetivo. Como vemos, desde que comeu da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, o homem teve a sua consciência danificada. A partir daí, a realidade passou a dividir-se entre coisas puras e impuras, santas e profanas, espirituais e materiais. Mas na Cruz, todo dualismo se desfaz. Céu e Terra se unem novamente na consciência daqueles cuja consciência fora purificada pelo sangue do Cordeiro. Na verdade, Céu e Terra jamais se separaram objetivamente. Assim como nunca houve, objetivamente, coisas puras e coisas imundas. Tais distinções eram frutos da consciência corrompida pela vaidade. É Paulo quem nos garante: “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesmo imunda. Mas se alguém a tem por imunda, então para esse é imunda” (Rm.14:14). E mais:“Todas as coisas são puras para os puros, mas nada é puro para os corrompidos e descrentes. Antes a sua mente como a sua consciência estão contaminadas” (Tt.1:15).
[1] Daltonismo - Espécie de cegueira que nos impede de enxergar as cores
[2] Cosmovisão – Maneira como vemos o mundo.
Hermes Fernandes é também culpado do que se faz aqui no Genizah
O texto é tão rico e tão bem escrito que nenhum comentário se lhe deve acrescentar.
ResponderExcluirSó dá pra assinar embaixo mesmo.
Parabéns!