681818171876702
Loading...

A ilusão do aplauso


Alan Brizotti


“O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou, o que dará o homem em troca da sua alma?” (Mt. 16.26)

No Talmude, há uma lição de profundidade impressionante: “O homem nasce com as mãos fechadas; morre de mãos abertas. Ao entrar na vida, ele deseja agarrar todas as coisas; ao deixar o mundo, tudo quanto possuía se foi”. A luta pela vida tem passagem certa pelo campo minado da ambição. A sociedade do espetáculo está sempre armada para abater aqueles que não trilham os luminosos caminhos da mídia. O professor Gabriel Perissé diz que estamos na "Idade Mídia".

A valorização dos holofotes tem criado uma sociedade de adoradores do espelho, uma legião de fantoches da propaganda que, em nome do sucesso, violentam a própria natureza do ser para priorizarem o não-­ser, a tirania do ter, o reinado dos desejos. Sucesso, do ponto de vista da Bíblia, é a vida oferecida e vivida plenamente para Deus.

Em Eclesiastes 9.13­-15, a Bíblia mostra uma importante lição de vida: “Também vi este exemplo de sabedoria debaixo do sol, que me pareceu grande: Houve uma pequena cidade em que havia poucos homens, e veio contra ela um grande rei, e a cercou e levantou contra ela grandes tranqueiras. Ora, vivia nela um sábio pobre, que livrou aquela cidade pela sua sabedoria. Mas ninguém se lembrou mais daquele pobre homem”. Esse relato incrível não se encaixa bem na mentalidade nababesca da pós­ modernidade. Como pode um homem salvar uma cidade de uma devastação militar e não receber títulos, honras, aplausos, adoração? Até no evangelicalismo narcisista de hoje esse exemplo é visto com certa ressalva.

O elogio da Bíblia é o maior prêmio: “...exemplo de sabedoria...que me pareceu grande”. A grandeza aqui não está na realização, mas no testemunho histórico, na conduta antes da conquista (“um sábio pobre”). A ilusão do aplauso e a sedução do reconhecimento podem nos levar à neurose da exaltação, à síndrome de Nabucodonosor (Dn. 4.29­-31), ao sentimento de que a nossa verdadeira missão se resume à mesquinhez do “agarrar todas as coisas”.

Que possamos orar como o Arcebispo François Fenelon: “Senhor, não sei o que eu deva pedir a Ti. Só Tu sabes do que eu preciso. Tu me conheces melhor do que eu conheço a mim mesmo. Oh, Pai, dá ao teu filho o que ele mesmo não sabe pedir. Ensina­me a orar. Ora Tu em mim”.

Que assim seja!

***
Alan Brizotti é colaborador do Genizah e permanece lutando para manter-se no princípio de Jó.
Prática cristã 5630203845439039711

Postar um comentário

  1. Bravo! bravo! bravíssimo! merece meus aplausos!

    ResponderExcluir
  2. Muito edificante!!!
    Infelizmente, conheço algumas pessoas que se declaram "ministros(as) do evangelho", mas passam a maior parte do tempo "criando" situações para serem elogiadas, paparicadas e até presenteadas (geralmente, as "dádivas" têm marcas e valores previamente definidos).
    Possuem um exacerbado sentimento de superioridade perante os mais pobres, a quem chamam de humildes.
    Chega a dar pena, pois quem se sujeita a bajular esse tipo de gente são tolos e, principalmente, falsos.

    ResponderExcluir

ATENÇÃO: Comente usando a sua conta Google ou use a outra aba e comente com o perfil do Facebook

emo-but-icon

Página inicial item