O velho Eduardo, meu pai e o museu Tallán
http://genizah-virtual.blogspot.com/2009/09/o-velho-eduardo-meu-pai-e-o-museu.html

Por Leonardo Gonçalves
As notícias chegam na hora que a gente não espera. E olha que eu sou um cara que de tão realista, as vezes até passa por pessimista aos olhos de alguns. Estou quase sempre preparado para tudo. Quase...
Ontem à tarde, enquanto preparava o almoço, dei-me com a triste notícia do falecimento do velho Eduardo, meu avô paterno. A maior tristeza, no entanto, era a de não estar presente para, de alguma forma, confortar meu pai. Nem que eu quisesse: Brasil só daqui a dois anos. É assim que funciona para os missionários padrão, que não recebem a unção da prosperidade de Abraão, nem possuem jatinhos particulares.
Mas o pior é que nem mesmo consegui telefonar. As linhas estavam congestionadas. Ligação internacional é um pé! E quando, enfim, consegui ligar, meu pai já havia embarcado para o Rio, para o velório.
Ontem à tarde, enquanto preparava o almoço, dei-me com a triste notícia do falecimento do velho Eduardo, meu avô paterno. A maior tristeza, no entanto, era a de não estar presente para, de alguma forma, confortar meu pai. Nem que eu quisesse: Brasil só daqui a dois anos. É assim que funciona para os missionários padrão, que não recebem a unção da prosperidade de Abraão, nem possuem jatinhos particulares.
Mas o pior é que nem mesmo consegui telefonar. As linhas estavam congestionadas. Ligação internacional é um pé! E quando, enfim, consegui ligar, meu pai já havia embarcado para o Rio, para o velório.
“A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida”Vinícius de Moraes
Aquela notícia me abalou. Eu só queria dar um abraço no meu pai e dizer: “Vamos chorar juntos! Eu vou te ajudar a superar isso”. Mas não pude. Afim de arejar a mente, ou quem sabe fugir dos problemas, peguei a moto e sai sem destino, deixando em casa esposa e filho.
No caminho, passei em frente a estreita estrada que leva à Narihuala, onde existem algumas ruinas da cultura Tallán, de origem pré-colombiana – Uma espécie de museu natural. Mudei o rumo da viagem (como se ela tivesse rumo!), e dirigi até as ruínas. Dois meninos, o menor devia ter uns 7 anos, me serviram como guia na “expedição”.
Eles me levaram até o topo de um morro, onde havia uma espécie de coliseu. Ali, segundo eles informaram, os Tallanes sacrificavam seus filhos ao deus Tallán, que possuia apenas um olho, mas este único olho era tão poderoso que contemplava todas as ações do povo. Sacrificar os filhos era a única forma de aplacar a ira daquele deus. Conversei um pouco com eles sobre aquele falso deus, que segundo eles mesmo, era algo pior que o diabo. Foi a forma que achei de intruduzir o evangelho àquelas crianças.
No caminho, passei em frente a estreita estrada que leva à Narihuala, onde existem algumas ruinas da cultura Tallán, de origem pré-colombiana – Uma espécie de museu natural. Mudei o rumo da viagem (como se ela tivesse rumo!), e dirigi até as ruínas. Dois meninos, o menor devia ter uns 7 anos, me serviram como guia na “expedição”.
Eles me levaram até o topo de um morro, onde havia uma espécie de coliseu. Ali, segundo eles informaram, os Tallanes sacrificavam seus filhos ao deus Tallán, que possuia apenas um olho, mas este único olho era tão poderoso que contemplava todas as ações do povo. Sacrificar os filhos era a única forma de aplacar a ira daquele deus. Conversei um pouco com eles sobre aquele falso deus, que segundo eles mesmo, era algo pior que o diabo. Foi a forma que achei de intruduzir o evangelho àquelas crianças.
Quanta tristeza há nesta vida! Só incerteza, só despedidaVinícius de Moraes
Acima daquelas ruinas havia uma igreja, construída no século XIX, e no fundo um cemitério do início do século XX. Parei ali, sentei na soleira da igreja, tendo como vista o cemitério, e lá embaixo, no horizonte, uma vista panorâmica e privilegiada do baixo-Piura. Dispensei meus guias, e me pus a orar. Chorei inconsolavelmente aos pés do Senhor, enquanto me queixava: “Eu só queria abraçar meu pai neste momento, e dizer para ele que não está sozinho”.
Porém, foi quando disse estas palavras, que o Senhor começou a curar as minhas feridas. Rapidamente fui transportado até a cena da cruz, quando o Filho de Deus exclamou: Eli, Eli, lamá sabactani (Meu Deus! Meu Deus! Porque me desamparaste?). Pensei no abandono de Jesus na cruz... Aquele momento em que o pai lhe abandonara. Imaginei o quanto o Pai desejava abraçar o Filho e dizer: “Tu não estás só; eu estou contigo”, mas isso não era possível. O sacrifício que produziria a redenção de milhares de almas tinha como preço último a solidão da cruz.
Mas ele me respondeu: "A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco."Paulo de Tarso
Comigo acontecia o contrário: Era um filho querendo confortar o pai, mas o contexto era o mesmo: Redenção. A separação entre pai e filho era, naquele momento, necessária a redenção. Era o preço de missões. Solidão, separação, lágrimas... Meu calvário pessoal. Orei por meu pai por uns poucos, porém mui intensos minutos, até que meus guias minrins retornaram para me buscar.
Daí pra frente, meu dia assumiu outra perspectiva. O sacrifício era deveras grande, e eu tinha que fazer valer à pena. Gastei o resto do dia para visitar cidades e colônias rurais onde não existem igrejas, ou onde estas igrejas precisam de ajuda; repassei mentalmente as estratégias de evangelização para o próximo ano, que inclui o evangelismo pioneiro em cidades do baixo-Piura.
O velho Eduardo foi sepultado hoje, não sei a que horas. Ainda não consegui convesar com meu pai. Não pude abraçá-lo, e provavelmente não poderei. Não agora. Redenção tem como preço o sofrimento, a separação, a solidão. Contudo, assim como Pai e Filho se encontraram na glória, creio que eu e meu pai nos reuniremos em breve. Dois anos passam depressa, quando se tem muito trabalho a fazer.
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Leonardo Gonçalves é editor do Púlpito Cristão e colaborador de Gnenizah
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Leonardo Gonçalves é editor do Púlpito Cristão e colaborador de Gnenizah
Pois é, amigo Leonardo... e companheiro da boa peleja.
ResponderExcluirEssa nossa vida de exilado (por Deus) na obra missionária não é bolinho. E pesa-nos sobretudo numa hora dessas. Nós aqui no velho continente, também temos assistido, de longe, o passamento de amigos, parentes... mas também e igualmente desconfortável, o crescimento dos filhos, dos netos, coisas que não têm replay...(O Paizão já sabe do quanto me tem custado despedir de alguém amado...).
Que Senhor console você. E o seu pai. É tudo o que posso desejar. E orar por isso. Podem contar com isso!
..."Pois não temos um sumo sacerdote que não sabe que são essas dores. E no seu colo, podemos encontrar consolo na hora da tribução."
Um beijão nosso aqui de Lisboa.
Olá Danilo. Já atualizei o Bereianos com o seu banner novo.
ResponderExcluirGrande abraço, em Cristo!
É uma perda, que não se perde; o pior é a saudade.
ResponderExcluirMinha mãe se foi em 1994, ela não nos criou, mas o pouco tempo que convivemos foi intenso.
Dói muito, só o consolo do Senhor JESUS para nos confortar.
Eu creio que é ele, JESUS, quem te pega no colo, Leonardo, te embala e te coloca no ombro, para chorar.
Acredite, às vezes, é bom chorar, só as lágrimas nos fazem lembrar que ainda somos humanos.
"Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais"
Leonardo
ResponderExcluirMuito comovente a tua história. Entendo o que passas porque já passei por situação semelhante. Mas lendo teu texto, veio-me à mente uma passagem bíblica que aqui coloco:
"Em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus para conosco, em Cristo Jesus." ( I Tessalonicenses 5:18 )
É difícil darmos graças quando perdemos alguém que muito estimamos, mas os planos de Deus são maiores e melhores do que nossa mente humana pode imaginar.
Também ficou claro como Ele te usou para a Sua obra neste momento de dor, levando a Palavra para aquelas crianças e mostrando lugares onde o evangelho deve ser pregado.
Fica com Deus, querido irmão. Que Ele conceda o Seu consolo para ti e tua família, em nome do Senhor Jesus.
Um fraterno abraço.
Nossa... Que triste!
ResponderExcluirMas graças a Deus que temos o consolo do nosso Pai do céu, que não nos deixa nunca!
Achei tão lindo esse seu post que queria sua autorização para postar ele no meu blog (enviameamim.blogspot.com)!
Deus abençoe vocês!