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Deprimidos em Jesus?

Por Danilo Fernandes


Eu tenho este amigo de muitos anos e, mesmo próximos, foi um dos que mais se surpreendeu com a minha conversão há dez anos. Mas a sua surpresa, nada comedida, não foi nem de perto o prenuncio do desaguar de achaques que eu receberia dele e de algumas outras pessoas que desfrutaram de minha intimidade no passado, quando a notícia de minha entrada para o seminário se espalhou (em 2006). Foi ataque de frente e pelos flancos! As acusações foram as mais variadas: vislumbres de um empreendimento comercial no ramo religioso, crise mental aguda, ou o resultado de um prognóstico de doença terminal. Alguns falaram em inadequação pessoal, meu passado me julgando. Outros até argumentaram que eu não tinha o tipo físico de pastor, como se houvesse algo como um fisique du role do servo de Deus! E olha que a todos deixei claro que não tinha desejo ou pretensão de me tornar pastor! Ainda assim, teses foram formuladas baseadas em traumas sofridos no passado ou na crise de meia idade. Falência nos negócios, doença terminal e mais uma sorte de desgraças foram a mim reputadas. O destaque foram as questões psiquiátricas, que suscitaram diferentes diagnósticos, risos.

Entretanto, o mais surpreendente foi o fato de que certos relatos de confrontação pejorativa ao novo crente, que de tão recorrentes em testemunhos de conversão, a mim até pareciam clichês manjados de programas de tele-evangelismo, pudessem, efetivamente, se confirmar como tal, mesmo no meio sócio-cultural em que vivo. Mas, para minha surpresa, pude constatar, por exemplo, que muitos acham que o estado depressivo pode levar a pessoa a buscar a Jesus. Isto levado á serio! Referindo-se a alguém que aceita um chamado missionário! Inicialmente, fiquei feliz pela eventual correlação, fosse verdade, que bem faria afinal à humanidade, que a depressão, esta doença tão corrosiva à existência do homem moderno, pudesse, afinal, provocar ao menos um efeito colateral não somente positivo, mas verdadeiramente grandioso. Mas logo me refiz da euforia inicial, ao perceber que, segundo os seus propositores, era necessário não somente o próspero estar deprimido para buscar a Jesus (Senhor perdoa!), mas continuar assim para ficar Nele. Se ainda em delírio um crente pudesse acreditar nesta tolice, mesmo que por alguns segundos, iria logo se dar conta do caráter Santo do Senhor e o que Ele faria às fraquezas de seus amados.

Nem deprimido, tão pouco traumatizado, além do que todos nós na carne sempre podemos estar, meu amigo imagina que meu encontro com a religião foi o resultado de minha busca de vida por uma ideologia libertadora, uma “verdade consoladora”. Dei-me por vencido por hora e respondi dias depois com um e-mail.


Querido amigo:

Eu sinto muito se você não entende o que se passa comigo. No passado, eu também não entenderia. Saiba que ser mais feliz não é possível. Não me falta absolutamente nada, nunca tive tanto. “O que foi é o que há de ser; e o que se fez, isto se tornará a fazer; nada pois há de novo embaixo do sol”. Não perdi coisa alguma, achei uma pérola preciosa e vendi tudo o que tinha para comprá-la. Sou abundantemente próspero em todos os sentidos! Não me perdi, nem me encontrei. Fui achado. Nada fiz. Fizeram-me (Ele fez). Poderá Ele fazer por você, ou não. Você dirá: Loucura! Eu tenho de concordar. A lógica Dele não é a sua, não queira você explicá-Lo. A sua perfeição de minutos, não afronta a Glória eterna Dele. A minha mente está intacta do mesmo QI, do mesmo currículo que você conheceu. Ele teve misericórdia de mim e me permitiu perceber, apesar da minha inteligência e de todo o entulho da já insossa - por ti tão adorada - mesmice, a mesma que você deixará de ver em breve tempo, enquanto eu me delicio no infindável.

Dias depois ele me procura para dizer: - Você citou Oohelet (Eclesiastes, para os judeus). Eu entendo isto. Mas eu não amo o dinheiro assim... Não estou buscando sempre e cada vez mais... Tenho cuidados, sou precavido, mas eu aproveito. Ao que eu respondo: - Que bom que você aproveita o que tem! Em também faço isto! Mas não é disso que estou falando [...], ele me interrompe: - Você fala da morte. Do destino final. Sim, digo: - Mas acima de tudo eu falo da sua servidão às falsas soluções, aos falsos consolos. Da sua situação desesperada, absolutamente perdida! Você sabe que ao final, nada do que você fez na vida será de qualquer ajuda diante da morte. Tão pouco antes dela. Quem te dará sono tranqüilo diante das aflições do mundo, das incertezas e desastres que podem se abater na sua vida e na vida de quem você ama a qualquer momento? Pode a sua poupança livrar seu filho de uma bala perdida?


O fruto da vaidade é a soberba que cega o homem e lhe subtrai a noção de seu inevitável fim. Vive então o homem na busca da satisfação de sua carne até que esta própria degenera, então é o seu fim. Morre o homem para mundo e o mundo para o homem já que este era só carne.

Post Scriptum: Dois anos e meio após ter escrito este artigo em fui acossado por síndrome do pânico, seguido de depressão séria. Debilitante. Isto, em pleno e total exercício da minha fé e vivendo intimidade com a Palavra. Acho que foi um processo importante na minha vida e que me ensinou muito sobre a depressão e seus componentes físicos e espirituais. Mudou minhas convicções e acho que repartir esta experiência é muito importante, pois há muita bobagem sendo dita por ai e há muito crente que não apenas não entende o que se passa com ele, diante de Deus, mas recebe julgamento equivocado. Mas isto é tema pra outro dia...

***
Danilo Fernandes é empresário, consultor de marketing e franchising. Editor do blog Genizah.
Vida prática 6613507051535444745

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  1. Eu entendo cada palavra que você disse, com a única excessão, a de que eu era uma pessoa tão surtada, tão louca, que no momento em que JESUS me encontrou, todos ao meu redor deram graças a DEUS; e nenhum deles eram crentes.

    Sete anos depois de JESUS me encontrar, tive um estres e entrei em depressão por causa de falsas expectativas imposta pela pregação do falso evangelismo.

    O que me levou a passar 6 meses lendo Jó e quase que completamente isolada de tudo e de todos. Foi bom pra mim.

    Quando saí pra voltar a trabalhar e voltar a vida normal. DEUS fez tudo novo. JESUS me levou a exercer um ministério.

    Muita coisa boa aconteceu depois dessa crise de tanta dor e sofrimento, foram meses de aprendizado na presença de DEUS.

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