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A Venezuela está em colapso total, mas o agente bolivariano Ariovaldo Ramos e alguns de seus colegas da TMI apoiam o tiranete Maduro



Danilo Fernandes


A Venezuela está prestes a desmoronar na crise mais medonha já vista do lado de cá do Equador. Assistimos a execuções diárias de opositores do regime, inclusive de jovens estudantes. Falta de tudo na Venezuela. De papel higiênico à macarrão. Água, luz, gasolina racionados. Serviços públicos só funcionam duas vezes por semana. Hospitais fechados. A desgraça é tamanha que os pobres venezuelanos pedem refúgio ao Brasil, como se aqui fosse agum paraíso.

Este é o final de todo regime comunista, quando o dinheiro "dos que trabalham" acaba e a irresponsável gastança assistencialista populista não mais se sustenta. Com o fim do filo-bolivarianismo no Brasil, o tiranete Maduro não mais pode contar com a ajuda do PT. Já mandou avisar que vai fechar o Congresso e arrochar a oposição na base do tanque -hoje, a quase totalidade do povo de seu país.

Os bilhões de petrodólares não foram aplicados em  programas educacionais, de incentivo ao pequeno empreendedorismo ou na capacitação de mão de obra. Foi tudo para o ralo do assistencialismo populista. Resultado: Passada a farra, o povo seguirá despreparado para gerar riqueza. Permanecerá de pires na mão a espera de esmolas. Em breve, terá de contar com o socorro de organismos internacionais de ajuda humanitária. Isto, se o tiranete Maduro o permitir.

A situação atual não é em nada diferente dos tempos de Chávez, quando Ariovaldo Ramos o exaltava em visita a seu país. Por anos, Ariovaldo teceu loas à Chávez, Maduro e aos demais socialistas da América Latina, enquanto sonhava com um Brasil mais bolivariano. Apenas um fato mudou. A torneira secou. Não há  mais petrodólares para alimentar a gastança populista  e não há mais outra fonte de riquezas e de empregos, pois a economia privada venezuelana foi para o buraco, empurrada pela sanha fiscal e o desprezo socialista pelo trabalho honesto. 

A riqueza do petróleo se perdeu na má gestão dos capangas de Chávez e na redução do preço internacional. A diferença deve estar em contas nos paraísos fiscais.

O texto a seguir, de Thiago Cortês, publicado originalmente no GOSPEL PRIME questiona, com certa elegância, o posicionamento hipócrita de Ariovaldo Ramos.

Eu deixo mais algumas perguntas, estas, contudo, mais ao meu estilo: Desaforado e direto. 

Em 2013, testemunhei Ariovaldo Ramos confessar em um jantar entre amigos que, a pedido de Hugo Chávez, fora incumbido de recrutar jovens pastores e missionários brasileiros para um treinamento na Venezuela em certas práticas bolivarianas. Esta confissão foi feita diante de três testemunhas. Gente conhecida e respeitada na Igreja Evangélica, incluindo um dos recrutados. Pergunto então: Ariovaldo Ramos, o senhor poderia nomear os demais agentes bolivarianos infiltrados na Igreja? Quais são os seus objetivos? Evidentemente, o senhor acredita que um pastor pode ser militante de um partido político de esquerda, contudo, não é um pouco demais também desempenhar o papel de agente revolucionário estrangeiro?



Carta Aberta a Ariovaldo Ramos



THIAGO CORTÊS


Caro pastor Ariovaldo,

Eu o vi pela primeira em um evento na Faculdade Latino Americana de Teologia Integral (FLAM), em Arujá, onde resido com minha família. Na hora do louvor, lembro de ter ouvido o senhor cantando bem desafinado – como todo bom batista.

Também foi na FLAM que o entrevistei para uma revista que deixou de circular. Nós falamos de justiça social, democracia e a situação da Venezuela.

Naquela ocasião o senhor explicou porque havia ido para Caracas com um grupo de brasileiros para oferecer seu apoio a Hugo Chávez, que havia sido deposto. Lembro que, na entrevista, sua defesa de Chávez foi baseada em seu compromisso com a democracia.

Eu era jovem demais e fiquei impressionado com suas ideias. A sua preocupação com as questões sociais me fez imaginá-lo como um profeta moderno. Fui atrás dos seus artigos, entrevistas, incluindo uma reportagem especial no Le Monde Diplomatique Brasil.


Imaginei que o senhor fosse um paladino da liberdade e da democracia – e que sempre reagiria ao autoritarismo independentemente de seus compromissos ideológicos.

George Orwell, por exemplo, era socialista, mas comprometido com a verdade em qualquer circunstância. Não hesitava em dizer a verdade mesmo quando ela ofendia seus camaradas e lhe causava problemas. Imaginei que o senhor pertencesse a tal tradição…
Porém, desde que o regime venezuelano se voltou contra estudantes e trabalhadores que divergem de Nicolás Maduro, o senhor não diz uma palavra sobre a Venezuela.

As igrejas e os cristãos dissidentes venezuelanos têm sido atacados apenas porque divergem do regime. Em São Martinho de Tours, o principal templo da região foi atacado por membros do grupo Juventude Bicentenária de La Vitória, auspiciado pelo governo de Nicolás Maduro.

Não entendo o seu silêncio. Por favor, me explique!

A Conferência Episcopal Venezuelana declarou que Nicolás Maduro tenta impor um governo totalitário na Venezuela. Mas não é apenas a comunidade cristã que tem sofrido. Os opositores do governo vivem entre a cadeia e a repressão nas ruas.

Quando esteve na Venezuela, o senhor foi recebido por autoridades de Estado e pelo então presidente Hugo Chávez. Por que o senhor não volta lá agora para visitar os cristãos opositores que estão nas cadeias e nos hospitais?


Caro Ariovaldo, por que o senhor não fala dos irmãos perseguidos na Venezuela?

O senhor sempre falou em momentos de crise e tomou posições claras. O senhor falou contra a deposição do presidente do Paraguai, contra a Guerra do Iraque, e até bradou contra a ação da PM no Pinheirinho, que o senhor classificou de “massacre”.


Por outro lado, a polarização ideológica na Venezuela resultou em um massacre de verdade, com vítimas dos dois lados. São centenas de estudantes e trabalhadores presos, dezenas de mortos e outros desaparecidos. Mas deste massacre real o senhor não fala.

Caro Ariovaldo, por que o senhor emudece diante do caos venezuelano?

Isso é muito triste, caro Ariovaldo. Penso que toda pessoa decente deve condenar regimes autoritários, independente de qualquer preferência ideológica ou partidária.

Os seus séquitos afirmam que o senhor é bem intencionado. Por isso, ainda que defenda dogmas ideológicos dos chavismo – e mesmo o regime chavista! – não merece ser cobrado pelas conseqüências concretas das ideias e dos governos que defende.

Em outras palavras, o senhor pode defender o que quiser nas igrejas, na mídia, diante do nosso povo e ninguém tem o direito de cobrá-lo qualquer responsabilidade.

Isso me leva a outra questão: a sua definição de cristão.

Em uma entrevista sobre suas posições políticas, o senhor dá a entender que o cristão verdadeiro é aquele que têm os dogmas ideológicos de um militante de esquerda.

Fiquei decepcionado com sua visão simplista da realidade.

Frank Britto, do blog Resistir e Construir, fez uma brilhante desconstrução dessa mistura entre Evangelho e socialismo. Ele anota a diferença entre as ordenanças bíblicas para que busquemos a justiça e a ideia secular de que os governos devem buscar tais fins.

“O problema de Ariovaldo Ramos é presumir – sem qualquer razão ou justificativa bíblica ou racional – que o fato do cuidado dos desamparados ser uma ordem de Deus enfatizada por toda a Bíblia signifique que seja responsabilidade do governo civil fazer com que tal ordem deva ou que sequer possa ser cumprida”

Frank explica: “Ariovaldo Ramos faz de conta que existe a responsabilidade bíblica de que isso se cumpra por meio da imposição do governo civil, ainda que não exista qualquer ordem, mandamento ou evidência bíblica a respeito disso.”

E isso me conduz ao último e não menos importante tópico desta carta: o seu recente apoio a Política Nacional de Participação Social (PNPS), que submete todos os órgãos da administração federal a conselhos de “representantes da sociedade civil”.

A PNPS prevê a criação de “conselhos populares” formados por integrantes de “movimentos sociais” que poderão opinar sobre os rumos de órgãos e entidades do governo federal.

Caro Ariovaldo, acredito que o senhor tenha experiência de vida e conhecimento histórico suficientes para entender que a democracia é frágil e pode ser sequestrada por grupos organizados, principalmente se estes são financiados pelo partido no poder.

Lembro que o senhor rechaçou, com toda a razão, a afirmação ingênua de conservadores segundo os quais Marco Feliciano representava os evangélicos.


Mas o senhor acredita que movimentos de ultraesquerda representam o povo?

Isso também seria muito ingênuo. Todas as pesquisas sérias apontam um fato indigesto para os grupos de esquerda: a população é majoritariamente conservadora, quer, entre outras coisas, a diminuição da idade penal e punição exemplar aos corruptos.

Os tais movimentos sociais (todos eles financiados com verbas públicas) que ocupariam os conselhos “populares” estão umbilicalmente ligados a uma agenda de ruptura social que claramente não representa a vontade da maioria da população.

Os conselhos “populares” nada teriam de populares: seriam apenas mecanismos para dar poder a movimentos sectários e minoritários que não têm qualquer força eleitoral. Alexis de Tocqueville alertava que o risco da democracia é que ela se suicide.

O senhor não pensa que é preciso ter mais prudência?

Os seus artigos e aforismos poéticos estão cada vez mais carregados de utopismo:

“Eu quero o socialismo dos crentes que, em meio à marcha dos trabalhadores e, diante do impasse do confronto com as forças do estabelecido, grita ao megafone: companheiros, avancemos! Deus está do nosso lado!”

Em nome de ideais utópicos, o senhor estimula os crentes a avançar contra a Polícia?

Caro Ariovaldo, isso não o faz lembrar dos jacobinos? Eles prometiam liberdade, igualdade e fraternidade, mas depois da Revolução Francesa entregaram um banho de sangue. E depois de tanto louvor à liberdade, o poder foi acabar nas mãos de Napoleão Bonaparte…

Sou jovem (ainda), mas aprendi que a natureza humana não permite que sonhemos com a construção de um Paraíso na Terra. Acredito que isso sequer tem base bíblica. Nós somos seres caídos, desprovidos de sabedoria e virtudes, incapazes de produzir nada perfeito com nossas mãos. O Reino de Deus não pode ser forjado por nossos governos.

É estranho que o senhor, um pastor, aparentemente não pense assim.

Ao apoiar a criação de conselhos “populares” que fortalecem movimentos que não passam corrente de transmissão da agenda da ultraesquerda e do partido no poder, o senhor contribui para colocar nossa jovem e frágil democracia em perigo.


O senhor não percebe isso?

Infelizmente, a poesia e as boas intenções não são suficientes, caro Ariovaldo. É preciso prudência e humildade na política, afinal, fazer política é lidar com a vida dos outros!

Karl Popper e outros pensadores que são referências na ciência política defendem que a democracia não existe para nos conduzir a um futuro utópico, mas para evitar males concretos como o conflito fratricida pelo poder e a conseqüente ruptura do tecido social.

A democracia, dizia o velho Popper, é um regime que descarta a perfeição e nos permite a convivência entre grupos com interesses antagônicos através da alternância pacífica deles no poder. Democracia, caro Ariovaldo, não é o regime dos sonhos: apenas previne os pesadelos.

O manifesto de apoio a PNPS – que o senhor assinou – cita uma frase do teólogo Reinhold Niebuhr: “A capacidade do homem para praticar a justiça torna a democracia possível; mas a inclinação do homem para a injustiça torna a democracia necessária.”

O senhor deve saber que Niebuhr, embora tivesse posições políticas liberais, era um conservador moral que criticava o “excesso de otimismo” dos liberais que negam as implicações de uma natureza humana corrompida desde o pecado original.

Infelizmente, caro Ariovaldo, parece ser este o seu caso. O senhor não considera o pecado original, tampouco nossa natureza viciada em poder, status, egoísmo. Dar poder demais a alguns homens supostamente bondosos é uma receita para a tragédia.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale, o jurista Valmir Pontes Filho (que preside Comissão de Estudos Constitucionais da Ordem dos Advogados do Brasil), entre outros juristas, enxergam esse risco.

Se o senhor insistir com a falácia de que os tais conselhos servem para “aprofundar a democracia”, respondo com um dado histórico importante: eles foram criados em 1937, ou seja, no ano em que o Brasil caiu na ditadura do Estado Novo.

Caro Ariovaldo, só o que peço é que o senhor reflita – sobre os fatos, os dados históricos, o nosso estado de decadência moral oriundo do pecado original – e retire o seu apoio aos conselhos “populares” e toda a agenda dos grupos que querem a ruptura social.

E assim, talvez, o senhor evite entrar para a História como parte de um grupo de cúmplices de um golpe contra a nossa jovem democracia.

Abraços fraternais,

Thiago Cortês














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