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O DIA EM QUE SANTO TOMÉ SAIU PARA TOMAR UMA CERVEJA


Mais um dia Tomé foi ao bar beber sua costumeira cerveja. Tomé era bem casado, amado pelos seus filhos e mulher e bom trabalhador. Ele não entendeu nada quando um dia lhe apareceu um sujeito com uma conversa de que sua vida não ia bem. O homem desconhecido disse que lhe faltava algo; que tudo quanto parecia estar bem, na verdade, ocultava questões não resolvidas de sua humanidade.
O dantes resolvido homem Tomé, agora, tinha-se tornado inseguro. Acertaram sua estabilidade. Ele decidiu aceitar o convite e comparecer ao endereço indicado: o lugar onde Deus mudaria a sua vida. 

Quando chegou, timidamente escolheu um assento. Em certo momento lhe pediram que ficasse de pé; mesmo constrangido, recebeu bem o caloroso acolhimento de banco quando recebe um rico querendo abri conta. Tomé ficou surpreso como pessoas longe de seu convívio demonstravam amá-lo tão gratuitamente. O acolhimento abriu sua alma com um toque de mãe. No começo ele resistiu a uma ideia ou outra, mas não precisou levar muitos meses até que estivesse 100% receptivo. Ele aprendeu sobre a vida e sobre Deus. Sua vida logo começou a mudar radicalmente. Nova ética, nova moral, novos hábitos, novos amigos, nova família. Abandonou tudo. Os 100% de sua atenção, os 70% do seu tempo e muito mais que os 10% de sua renda iam direto da fonte para a caixinha de sua nova vida. O desvio de todos estes recursos, obviamente, não agradou sua família.

Sua reação foi a insensibilidade para com os que o amavam. Em nome de um radicalismo, a família, que apenas sentia sua falta, passou a representar toda a resistência da parte do Mal. Esposa solitária, filhos abandonados, o Tomé do bairro havia morrido. As crises cresciam e os conflitos familiares começaram a evoluir, desencadeando a dependência por experiências espirituais. Reuniões após reuniões formavam o seu ciclo de dependência religiosa. O fanatismo estava definitivamente instalado em seu ser. Os questionamentos que eclodiam eram, assim, socados para o fundo da alma, onde nem a luz de Cristo seria capaz de penetrar. Ele via que muita coisa estava errada, mas tinha passado a confundir mentira com virtude, e covardia com nobreza. Mal sentia remorso pelos seus atos, que de imediato precisava correr para mais uma balada espiritual, lá, onde suas drogas da histeria aplacariam sua saudade, afeição e amor próprio legítimos, e que o chamavam à naturalidade de sua pureza, contudo, estavam desvanecidos e espargidos no íntimo de suas trevas. De quente para frio, e de frio para quente, assim passavam os dias.

Os rituais não faziam mais efeito, como quem já tinha atingido o ápice da droga-adição. Montes, vigílias e profecias não faziam mais efeitos.

Definitivamente morno; virou vômito de Deus. A culpa, o medo e a angústia o levaram a abandonar a vida social da igreja. Para seus irmãos ele já estava desviado. Ele se indagava por que se todos estavam cheios de pecado somente os seus eram tão evidentes. Sua honestidade tinha virado crime. Os que os tiraram do bar, agora o viam como um traidor; um leproso causando repulsa da contaminação e do nojo.

Ele precisava fazer a escolha. Sua alma estava disputada: má relação com os de casa, ódio e hipocrisia dos irmão de fé, e sobre tudo isso a ira de implacável do Deus do fogo consumidor. Abandonar a família o tornaria adúltero; abandonar a igreja o tornaria Apóstata; e abandonar a Deus o tornaria morto pela eternidade. Que terrível celeuma! O seu amor tão puro, antes reconhecido por todos, tinha se tornado trevas; objeto disputado por uma família abandonada, por uma igreja e, ainda, pelo ódio de uma divindade furiosa. Sua mente adormecida pela religião não estava apta a fazer a escolha.

Restava, assim, o deixar levar-se pelos acontecimentos. A escolha aconteceria sem ser escolhida. Tomé deixou a depressão escolher o castigo pelo qual passaria o resto dos seus dias se sentindo culpado. A culpa do bom e santo Tomé que um dia saiu para beber uma cerveja.





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