A Bíblia nos ensina a viver
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Na série “A Bíblia nos ensina a viver” apresentaremos uma sequência de textos (artigos) sobre os mais diversos assuntos, como identidade, valor, responsabilidade, família, sustentabilidade, trabalho, vergonha, obediência, inveja etc. Trabalharemos a partir de casos do dia a dia – a exemplo de pessoas que sofrem de depressão e crise de identidade – dando a eles um basamento bíblico, de superação das dificuldades e aflições que atinge toda a humanidade. Acreditamos que a Bíblia contém a Palavra de Deus, que ela é suficiente no sentido em que nos oferece lições de como viver, de como nos comportar em meio a uma sociedade em constante processo de degeneração e crise. Para começar, partiremos da criação do homem, de seu valor enquanto criatura de Deus.
Identidade
Aos 15 anos, tudo o que Ana Luiza quer é ser compreendida. Na espiral de emoções que vive, a estudante vivencia uma crise em busca da própria identidade. Veste-se de preto e, às vezes, se enclausura no quarto e chora. Em outros momentos, ignora a mãe e só consegue se sentir confortável perto dos amigos, que nem sempre entendem o que se passa na cabeça da amiga. Luiza está experimentando modelos de vida. Não quer ser chamada de “patricinha”, mas também se assusta com suas atitudes quando deseja ser rebelde. Da última vez, em meio a um ataque de raiva, chorou ao ouvir uma música. Ficou tão triste que cortou o braço com uma gilete. Queria morrer.
“Quando estou triste, me corto. É como se a tristeza fosse embora. Dói ali e não dói a tristeza. A dor que eu sentia por dentro era maior que a dor do braço – explica”.
Anelise Zanoni (ZR: 2008) apresenta, em seu artigo “Crise de identidade e tristeza recorrente são causas de depressão em adolescentes” um exemplo da amplitude deste fenômeno que atinge pelo menos 350 milhões de pessoas no mundo. Segundo o site minhavida, a “depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. No sentido patológico, há presença de tristeza, pessimismo, baixa autoestima, que aparecem com frequência e podem combinar-se entre si”. É um mal.
Assim como Luiza, centenas de outras pessoas lutam contra a depressão, como Cristina, 35 anos. “Depressão. O que dizer sobre esse assunto? É cinza, sem sabor, sem cor, sem brilho, sem vida. É o que sentimos. Nada faz sentido, nada tem valor, nada é bonito, nada importa. A sensação da morte presente sim é algo muito real, porque a gente se sente, morto-vivo e vivo-morto. E tudo que lembra a morte é mais familiar e mais desejado que qualquer outra coisa. Sintomas? Dores terríveis, sensação de fim, uma tristeza inexplicável, apatia total às coisas da vida, não se tem vontade de fazer absolutamente nada. Só de morrer, devagarinho, pedindo que o mundo nos deixe em paz. Um sofrimento sem razão de ser, mas com feridas profundas. De onde vem? Não sei explicar. Não tem explicação. Tudo é tristeza, tudo é um vão. Um poço sem fundo”.
O que, de fato, faz com que pessoas de duas faixas etárias diferentes – uma adolescente e uma adulta de 35 anos – tenham constantes crises de identidade, de baixa autoestima? Vivemos dias dificeis, de correria, de luta por sobrevivência. É típico da sociedade pós-moderna o individualismo, o egoismo, a ausência de amor e companheirismo. Nas grandes cidades, pais não acompanham o crescimento dos filhos. Os meios de comunicação – e especialmente as redes sociais – apresentam um homem diferente daquele que conhecemos. Não somos tratados como indivíduos, como pessoas. Mas a algo maior que aflinge a humanidade, que está na raíz de todos os males, que é o pecado. O pecado nos distancia de Deus (Romanos 3.23), gera morte e tristeza (6.12).
Fomos criados à imagem e à semelhança de Deus
De acordo com um estudo publicado na revista científica PLoS Biology, e que teve menção no jornal britânico BBC News (2011), há 8,7 milhões de espécies de seres vivos no mundo, fora as espécies desconhecidas pelo universo científico. Imagine a seguinte situação: de todos os seres vivos criados por Deus, apenas o homem foi criado à sua imagem, e conforme a sua semelhança. “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]” (Gênesis 1.26). Quão maravilhosa é a nossa posição frente às demais criaturas, e não somente as físicas, mas também as espirituais. Embora com alguma semelhança com Deus, os anjos não foram criados à sua imagem. Daí a importância do homem dentro do processo criativo de Deus. Somos únicos, e é por isso que temos de agradecer por nossa posição privilegiada no universo.
A ideia de que somos parte de um processo evolutivo, que temos parentesco com primatas africanos, não encontra respaldo bíblico. Pelo contrário: nenhum macaco possui a imagem de Deus, e a nenhuma das espécies de primatas foi dada a primazia de domínio, a não ser dentro de sua própria espécie. O homem, portanto, aparece em uma posição de destaque frente os 8,7 milhões de espécies criadas por Deus. De certa forma, o homem aparece como a coroa da criação, o elemento vivo para o qual foi dedicado o sexto dia do processo criativo. No quarto e quinto dias foram criados os milhares de espécies de animais, mas no sexto dia toda a atenção foi direcionada ao homem. Pela primeira vez desde a criação da luz (1.3), há uma convegência divina na criação. Pai, Filho e Espírito Santo se mobilizam para a criação do homem. “Façamos o homem...”.
Devemos reconhecer tamanha mobilização e cuidado dedicado à coroa da criação. Isso revela a nossa importância enquanto seres únicos. Fomos criados à imagem de Deus no sentido em que nos identificamos com Ele. Somos a imagem de Deus, assim como Jesus o era por ocasião de sua vinda ao mundo. “E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou” (João 14.6). Ao dotar o homem com sua imagem, Deus permitiu que este pudesse ter comunhão com Ele, expressar seus sentimentos e alegria por servi-lo. O pecado trouxe sérias consequências ao homem, como a perda momentânea de sua comunhão com Deus. “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não veja” (Isaías 59.2). A comunhão entre Deus e Adão foi interrompida no momento em que este pecou.
O comentarista bíblíco e evangelista norte-americano Dwight Lyman Moody (1837-1891) fala das consequências da desobediência do homem e de sua posição (de privilègio) anterior ao pecado, ao dizer que o homem “era uma criatura que o seu criador podia visitar e ter amizade e comunhão com ele. De outro lado, o Senhor podia esperar que o homem lhe correspondesse e fosse digno de sua confiança. O homem foi constituído possuidor do privilégio da escolha, até o ponto de desobedecer a seu criador, Ele tinha de ser o representante e mordomo responsável de Deus sobre a terra, fazendo a vontade do seu criador e cumprindo o propósito divino”. O pecado de fato estabeleceu uma barreira entre nós e o nosso criador, mas em Cristo reencontraríamos o caminho.
Se pela imagem Adão tinha a possibilidade de identidade com Deus, de aproximação com Ele, de que maneira podemos entender a expressão “conforme a nossa semelhança”? Temos aí uma mera expressão repetitiva, uma reafirmação do fato de que o homem seria criado à imagem de Deus, ou algo mais profundo, como uma semelhança de caráter, de confiabilidade, de imutabilidade? Sim, o homem recebeu do criador parte de seus atributos morais, como amor, compaixão, caridade, benignidade e longaminidade, mas também a imortalidade, ou seja, a capacidade de viver para sempre. Mas esse viver para sempre estava atrelado à manutenção de sua santidade, do preservar a imagem de Deus, concedida gratuitamente ao homem. Adão tinha uma grande responsabilidade pelo o fato de ter sido constituído por Deus seu representante na terra.
Consegue compreender a complexidade da existência humana? O homem foi criado com o objetivo de ser o embaixador de Deus, de ser seu representante, mas ao ceder ao pecado o homem escolheu trilhar outro caminho. É claro que o homem não perdeu a imagem de Deus e nem muito menos a capacidade de exercer os atributos morais, mas precisa urgentemente se voltar para Deus como forma de regeneração. Agora, é verdade que a queda de Adão e Eva levou seus descendentes a degeneração, a um distanciamento do paraíso que fez com que a imagem de Deus no homem fosse gradualmente prejudicada, no sentido em que o pecado cria uma mancha na alma somente removida pelo sangue purificador de Jesus Cristo. Casos como depressão e crise de identidade são consequências do pecado, e que tem prejudicado muitas famílias.
O que temos feito com a imagem de Deus? Casos como a da jovem Luiza e da Cristina são exemplos de como a humanidade caminha, como ela se distancia de Deus. A depressão tem a capacidade de fazer com que adolescentes e adultos mutilem seus próprios corpos, seja quando da tentativa de suicídio ou quando da entrega de seus corpos para a prostituição. Para reverter tal situação pecaminosa e destrutiva é preciso, primeiro, que o homem reconheça seus pecados e peça perdão a Deus. Segundo, tem de reestabelecer sua comunhão com o criador por meio da oração. Dessa forma, o homem torna-se capaz de retomar parte de suas prerrogativas atribuídas quando de sua criação. Terceiro, e mais importante: é preciso reconhecer a nossa importância dentro do processo criativo de Deus, o nosso papel enquanto representantes dEle entre os homens. Jesus morreu na cruz com o objetivo de permitir que cheguemos a essa compreensão.