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Na Disneylândia teológica, um deus impotente sempre emerge nas tragédias



Antônio C. Costa *

Cai um avião. Dezenas de vidas humanas são interrompidas de modo súbito e aparentemente banal. "Não, não vou para a Alemanha. Vou para baixo". Todos morrem.

Nessas horas, alguns pregadores tentam justificar a Deus. Negam sua soberania sobre os fatos da vida, que parecem se mostrar irreconciliáveis com o conceito de um ser onisciente e todo-poderoso. "Ele está tão chocado quanto você. É o preço de criar seres livres. Posso imaginá-lo chorando contigo".

Isso resolve? Acalma o coração de alguém? É congruente com o conceito expresso pela palavra "Deus"? É isso que Cristo ensinou? Trata-se do método do cristianismo de trazer paz à alma?

Na história do pensamento cristão, os grandes luminares do passado, aqueles cujas obras resistiram ao desgaste dos séculos, jamais tomaram o caminho da negação de Deus para afirmar Deus.

Nenhum deles chamou o homem para confiar, buscar consolo e adorar a um super anjo. Um deus carente de conhecimento infinito e privado de controle sobre o que criou não é Deus. A palavra "Deus" pressupõe infinidade. Mais do que isso. Felicidade. Ele é bem-aventurança eterna em si mesmo, porque é o que gostaria de ser e faz tudo o que quer fazer.

O que é esse super anjo da teologia do deus impotente e, portanto, carente até mesmo da simpatia humana?

Um grande incompetente e irresponsável. Não é onisciente. Não sabe nada de antemão. Mas é no mínimo inteligente. Sabe o que representará para seres sensíveis viverem num universo no qual o acaso cego determina o destino da história. O que significará o trágico do qual não se poderá sacar benefício algum.

Ou seja, você entra com José no poço e diz: "Foi a inveja dos seus irmãos. Deus não tem nada a ver com isso. Não fique decepcionado com ele". O que impediria a José de pensar na possibilidade de um dia dizer algo assim: "... para a conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós... Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim não fostes vós que me enviastes para cá, e, sim Deus, que me pôs por pai de Faraó, e senhor de toda a sua casa, e como governador em toda a terra do Egito" ( Gn 45: 5-8).

A teologia clássica não me impede de derramar lágrimas quando o sofrimento atinge a minha vida e a de quem amo. Ela, contudo, faz-me pensar na possibilidade de estar apenas dentro de um poço, no meio de uma história estranha e dolorosa, mas que caminha para um capítulo final, no qual darei graças a Deus pelos seus insondáveis caminhos, sempre mais sábios e justos do que os meus.



Antônio C. Costa é pastor da Igreja Presbiteriana da Barra no RJ

* Título original: DEUS X SUPER ANJO


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