Pais Evangélicos Boicotam Vacinação Contra HPV; Mães Temem Promiscuidade de Filhas
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Pastores conservadores pretendem boicotar a vacinação e, talvez, a saúde das filhas.
A partir do dia 10 de março deste ano, meninas entre 11 e 13 anos vão poder vacinar-se na rede pública de saúde contra quatro tipos diferentes do Papiloma vírus, o agente causador do HPV, uma das doenças sexualmente transmissíveis mais frequentes em todo o mundo.
Em imagem de jornal de Vitória/ES que circula na internet, religiosas afirmaram que “a melhor prevenção [contra o HPV] é a fidelidade”. Preocupadas com o que acreditam ser um possível “incentivo à iniciação sexual” das meninas, as mulheres não vão permitir que as filhas recebam as doses da vacina porque “elas se sentiriam imunizadas e tentariam experimentar o novo”, como disse uma das entrevistadas.
A filha do empresário rio-pretense Gilmar Ribeiro, 39 anos, completa em breve 11 anos. Mas ele não pretende vaciná-la. “Minha filha é direita, teve uma excelente educação dentro de casa. Tenho medo de que essa sensação de proteção possa atrapalhar as orientações que demos a ela”, diz.
O técnico em telefonia Edson Julio de Bianchi, 47, tem opinião parecida. “Minha filha tem 16 anos, mas se tivesse entre 11 e 13 eu não vacinaria. A impressão que eu tenho é de que o governo federal está insinuando que essas adolescentes são todas promíscuas”, afirma.
Ambos são membros da Igreja Cristã Presbiteriana, cujo pastor, Afonso Martins Fernandes Neto, também é contrário à campanha do Ministério da Saúde. “Em vez de obrigar as adolescentes a se vacinarem, o Estado deveria levar mais conhecimento a essas meninas, para que não caiam na promiscuidade”, argumenta.
A pastora e psicanalista Raquel Diniz Jantorno, 38 anos. Mãe de duas garotas com 10 e 3 anos de idade, diz que não permitirá que as filhas recebam a vacina quando tiverem idade ideal.
“Não tenho nada contra o cuidado do Ministério da Saúde com o povo brasileiro, mas acho que essa vacina é desnecessária. A melhor forma de prevenir Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) é a fidelidade no casamento. Essa é uma idade em que os hormônios estão à flor da pele e tudo desperta curiosidade” afirma.
Risco
A missionária Geni Monteiro Ferreira, da Associação das Famílias para a Unificação e Paz Mundial, também se diz contrária à campanha. “As intenções do governo podem ser boas, mas há o risco de essas adolescentes se sentirem seguras e iniciarem sua vida sexual antes da hora.” Para ela, isso poderia contribuir para a desintegração da família. “Será que Deus aprovaria uma situação dessa?”.
Outras denominações evangélicas da cidade têm opinião divergente. “É uma questão de saúde pública, de prevenção a uma doença grave. Por isso vejo com bons olhos”, afirma o pastor Jesus José dos Santos, membro do Conselho de Pastores de Rio Preto. “O Ministério da Saúde está correto. Considerar que (a vacina) pode antecipar a vida sexual é ignorar o benefício à vida que ela traz”, diz Francisco de Assis Santos, pastor da Igreja Coluna de Deus.
Classe médica suspeita da eficácia
A desconfiança em relação à vacina contra o HPV também vem de parte da classe médica. Para a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), ainda não está provada a eficácia da vacina. “No Japão, a vacinação foi suspensa porque se entendeu que seu benefício não era garantido”, diz o médico e diretor da entidade, Daniel Knupp. “A vacina é eficaz contra dois tipos do vírus, quando há mais de 30 deles.”
Outro problema, diz Knupp, são os efeitos colaterais do medicamento. “Há estudos na Inglaterra que apontam para o surgimento de diabetes do tipo um em pessoas vacinadas.” Também há dúvidas quanto à duração da imunidade - sete anos, segundo o Ministério da Saúde - e ao tempo de aplicação das doses. “O fabricante prevê a aplicação a cada três meses. Aqui, a segunda será após seis meses e a terceira somente depois de cinco anos.”
Para o médico, o rastreamento do vírus por exame de papanicolau é muito mais eficaz no diagnóstico e prevenção do HPV. “Em vez de gastar milhões com a vacina, o Ministério da Saúde deveria investir na disseminação do papanicolau.”
Produto é confiável, afirma Ministério
O Ministério da Saúde defende a eficácia da vacina contra o HPV. Para a pasta, o medicamento vai proteger adolescentes que ainda não iniciaram a vida sexual e por isso não têm nenhum contato com o vírus. A vacina, diz o ministério, tem 98,8% de eficácia contra o vírus, e sua segurança é atestada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para implantar a vacina no Brasil, segundo a pasta, foram seguidas recomendações da OMS e um estudo do Departamento de Medicina Preventiva da USP. O ministério diz que a vacina não substitui a realização do exame preventivo papanicolau, nem o uso de preservativo nas relações sexuais. Na nota encaminhada ao Diário, a assessoria da pasta não comentou as críticas à vacina por parte dos evangélicos.
Genizah, com informações Diário Web/Jornal Verdade