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Bíblia pode se tornar obrigatória na escola

A empresária Priscila costuma ler o livro para seu filho. Foto: Bernardo Dantas/ DP/D.A Press.



Machado de Assis e Manuel Bandeira lado a lado com Mateus, Marcos, Lucas e João. Se um projeto de lei que tramita na Câmara de Vereadores do Recife for aprovado, todas as escolas e instituições de ensino superior públicas e privadas da cidade, além das bibliotecas públicas, terão que adquirir duas bíblias. A proposta ainda não foi votada em plenário, mas já causa discussão. 

O projeto de lei 334/2013, de autoria da vereadora Aimée Carvalho (PSB), foi elaborado em novembro de 2013 e deve ir à votação em fevereiro. O texto propõe que sejam disponibilizadas duas edições, uma em português e outra em braille, para consulta. Os exemplares convencionais deverão estar acessíveis até seis meses após a aprovação dos vereadores. As versões em braille terão que ser adquiridas em até um ano. 

O texto da proposta afirma que a Bíblia foi “o primeiro livro impresso do mundo, logo merece destaque entre os demais (…). Além, claro, de trazer ensinamentos importantíssimos para toda a sociedade, independentemente do credo religioso de quem a lê”. Acrescenta ainda que é o livro mais vendido no mundo, com mais seis bilhões de cópias e textos traduzidos em 2,5 mil línguas e dialetos. 

A vereadora garante que a ideia não tem fins evangelizadores. “Irá enriquecer as bibliotecas, pois os ensinamentos norteiam as atitudes humanas e até servem para a consulta de cientistas. A violência diminui e a prosperidade aumenta”, opinou, ressaltando que não propõe a obrigatoriedade da leitura. “Entendemos que o estado é laico”, acrescenta. 
O artigo 19 da Constituição veda à União, estados e municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas oficiais. Segundo o professor de direito constitucional da Unicap, Marcelo Labanca, o projeto não fere esse princípio. “Ele amplia o acesso à informação, um papel do Estado, mas não faz com que isso seja instrumento de pregação. Religião não pode ser um tabu para o conhecimento. O aluno pode ter acesso a diversos instrumentos religiosos para que possa escolher”.

A Comissão Arquidiocesana e Pastoral para a Educação da Arquidiocese de Olinda e Recife faz ponderações. “O estado é laico, mas não é ateu. Sabemos que 98% da população brasileira admitem ter fé, segundo o IBGE. É interessante que tenhamos a Bíblia nas escolas, mas estudantes de outras religiões como a muçulmana e a hindu podem requisitar o mesmo direito. A Bíblia a ser adotada será católica ou evangélica?”, questiona o presidente da comissão, o diácono Aerton Carvalho. A versão católica tem sete livros a mais. Aimée admite a possibilidade de se terem os dois livros. “Sou evangélica, mas legislo para a cidade. Se outro vereador propuser livros de outras religiões, inclusive, irei votar”. 

A empresária Priscila Barros (foto), 31 anos, aprova o projeto. “Fui criada na igreja evangélica, mas hoje sou católica. Acho importante uma base religiosa na escola. Leio a Bíblia para meu filho, como outros livros”.




 

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