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A PESCARIA DOS VENDILHÕES DA FÉ



Depois de mais uma pescaria daquelas de fim de tarde, em que a gente vai mais interessado na atividade e relaxamento do que no próprio peixe, voltando pra casa, pensei nas igrejas evangélicas que um dia houveram naquele caminho (e lembro-me de pelo menos quatro). Observei que hoje não há mais nenhuma sequer. Fiquei pensando: onde estaria essa gente? Para onde foram seus pastores? Quantos encontraram outra igreja? Quantos voltaram para a igreja Católica? Quantos, desiludidos, abandonaram a fé? Quantos tiveram sua fé corrompida e depois foram abandonados por mercenários que se intitulavam missionários?

Como eu que buscava naquela pescaria a minha própria satisfação, alguns, não poucos, buscaram naquele vilarejo a satisfação de seu brio religioso. Lançaram suas redes tecidas com linhas de um evangelho estranho, baseado no que chamam de dom de revelação, visão do Espírito, profecias e outros recursos que realmente beiram a loucura (eu disse ‘beiram’ para ser gentil). Suas interpretações bíblicas são outro artifício maligno, sem contexto histórico, textual, nem mesmo gramatical, visam unicamente apregoar o velho anti-catolicismo, convencendo os católicos de que estão todos perdidos e que devem se converter à nova igreja. Dessa forma, arrebatam para si as ovelhas de quem tosquiarão até a última lã. Depois disso, lã tosquiada, fé corrompida, família dividida, escândalo deflagrado, máscara caída, dízimos recolhidos, é fim da tarde, recolher as redes, buscar outros mares. Eu disse mares? Imagine! Pescadores de fim de tarde não buscam mares, buscam açudes, quanto menor melhor, onde o peixe já foi bem tratado pelos criadores e não têm para onde correr.

O Evangelho não é uma teia de argumentos para convencer alguém de sua razão, muito menos para satisfazer o desejo de seres que querem ser seguidos por alguém; também não é uma forma de dominação, nem uma ação circunstancial e momentânea. Ele é antes, bem antes, o amor que nos compromete na caminhada constante e eterna pela paz entre os divergentes, unidade na diversidade, justiça social, preservação ambiental e co-responsabilidade humana.

Já disse Jesus: Se alguém pretende construir uma torre, veja antes se tem recursos para concluí-la. Infelizmente, esses falsos pastores não estão preocupados com o que será das ovelhas que nem são suas. Só querem saber de seu prazer, sua glória, sua demonstração de poder e assim serem vistos como “servos do Altíssimo”. Se depois não der certo, problema de quem fica. Como eu sei que novas igrejas, ou diria, torres malacabadas (sic) continuarão à surgir, resta-me o recurso de dizer a você que não seja mais uma vítima desses mercenários. O mundo precisa de conversões, sim! Conversões que manifestem mudança de atitude, não de religião.



Julio Zamparetti colabora com o Genizah




 

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