O Ministério Integral de Jesus
https://genizah-virtual.blogspot.com/2013/11/o-ministerio-integral-de-jesus.html
Luis A R Branco
O ministério terreno de Jesus foi profundamente envolvido com o cuidado integral do ser humano. As vezes corremos o risco de imaginar que o seu ministério limitou-se meramente ao ensino e a pregação, se assim fosse não haveria novidade no seu ministério, que seria igual aos dos demais mestres e doutores da lei de seus dias. Todas as suas obras tinham um objetivo claro: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.” (Lc 19:10). Duas palavras me chamam a atenção neste pequeno verso, mas que descreve com perfeição a natureza do caráter do ministério de Jesus. A primeira palavra é “buscar”, é isto que Jesus veio fazer buscar o perdido. O termo grego utilizado pelo evangelista é ζητεω (zeteo) que significa muito além de uma simples procura, mas de uma procura intencional e determinada, como alguém que se empenhou profundamente em encontrar o objeto da sua busca. E para que você tenha noção da importância desta palavra, ela é a mesma usada por Jesus em Mt 6:33: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” E ainda é a mesma palavra também utilizada em Mt 13:45: “O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas.” E a continuação desta passagem nos diz que tendo achado uma pérola de grande valor, ele vende tudo o que possui e a compra. Observa-se o empenho na busca e em manter o objeto encontrado. O que quero com estas palavras é mostrar que a busca de Deus não foi uma busca qualquer, mas uma busca intencional, aplicada, determinada e disposta a pagar o preço que fosse para adquirir o objeto da sua busca. E o texto de Lucas nos diz que este objeto da busca de Deus é o pecador perdido.
No entanto, a palavra pecador entrou em desuso em nossos dias. Estamos cada vez mais interessados em palavras com menos peso moral para atrair aqueles que entendemos necessitar do evangelho. No entanto, embora a igreja comece a evitar tal palavra, ela continua ativa e revolucionária na literatura secular, dificilmente encontraremos livros sobre filosofia ou poesia que não fale do pecado, seja contra ou a favor. O importante é que está palavra continua a ser percebida, e continua a ecoar na mente e no coração do homem. Vejamos o que escreveu a poetisa e filosofa Adélia Prado:
“Eu cometi pecados,
por palavras, por atos, omissões.
Deles confesso a Deus…
Mas eu peço perdão:
a Deus e a vós, irmãos…” [1]
A segunda palavra que me chama a atenção é “salvar”. O termo usado pelo evangelista é σωζω (sozo), cujo sentido é muito abrangente no que diz respeito ao cuidado para com o perdido, e inclui desde a salvação espiritual à salvação física e emocional do indivíduo. É a mesma palavra usada pelo evangelista João para descrever a natureza do ministério de Jesus: “Porquanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.” (Jo 3:17). Há nesta passagem a indicação da salvação do indivíduo da própria ira de Deus. Já o evangelista Lucas ao narrar a experiência do naufrágio de Paulo e como este garante, segundo a revelação de Deus, a integridade física dos que viajavam com ele, utiliza~se da mesma palavra: “Disse Paulo ao centurião e aos soldados: Se estes não permanecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos.” (At 27:31). Nesta passagem em particular, podemos deduzir que a natureza da salvação oferecida por Cristo, abrange inclusive a integridade física dos salvos por ele.
O ministério de Jesus foi surpreendente em todos os aspectos da sua missão de “buscar e salvar o perdido”. Mesmo seu ensino possuía elementos distintos daqueles que ensinavam nos seus dias. Marcos ao distinguir o ensino de Jesus dos demais mestres dos seus dias escreveu: “Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.” (Mc 1:22). Stuart Olyott ao descrever a natureza e o método de ensino de Jesus escreveu: “Dos trechos de ensino do Senhor, este (Sermão do Monte) é o mais longo que já foi registrado. É longo, mas não é enfadonho! E por que não? Porque nosso Senhor possuía um método preciso de ensino.”[2] Jesus não se satisfez em seguir o fluxo daqueles dias, nem suas metodologias, ele criou caminhos, inovou, tudo com no sentido claro de alcançar seu objetivo e concluir a sua missão. Portanto, mesmo sua pregação reuniu elementos que a tornaram integral e relevante aos seus dias. Olyott diz ainda: “Nosso Senhor explica, ilustra, aplica; explica, ilustra, aplica… Você pode pegar qualquer sentença de Mateus 6:25-34 e perguntar a si mesmo o que Ele está fazendo naquele momento em particular. Ele está explicando aqui? Ou ilustrando? Ou aplicando? É fácil ver a trança, mas as mechas não. Geralmente Ele está fazendo duas coisas de uma só vez, e, às vezes, Ele está fazendo todas as três.”[3]
Nosso ministério deve seguir o exemplo do ministério de Jesus, o único perfeito em todos os sentidos, e assim, buscar nosso caminho em direção aos que estão perdidos neste mundo. O ministério de Jesus deixa grandes exemplos a serem seguidos por todos aqueles a quem foi confiada esta Grande Comissão. O projeto gracioso do Filho de Deus foi buscar e salvar o que estava perdido. Não apenas buscar, mas buscar a fim de salvá-lo da perdição eterna e de uma vida indigna neste mundo. Ele veio do céu à terra numa longa jornada, para buscar o que estava perdido e trazê-lo de volta para si mesmo.
Infelizmente hoje observamos tantos ministérios com uma agenda diferente da de Cristo, onde nenhuma preocupação com o homem integral e demonstrada. Por um lado encontramos um ministério meramente voltado para a alma do indivíduo, sua salvação eterna, mas por outro lado encontramos ministérios preocupados apenas com o bem-estar terreno do ser humano. O ministério de Jesus era integral, via o homem como um ser completo, e completamente carente da graça de Deus. Voltemos a pregação deste evangelho integral!
Luis A R Branco é colaborador do Genizah
[1] PRADO, Adélia. O Coração Disparado. São Paulo: Record, 2012, página 141.
[2] OLYOTT, Stuart. Ministrando como o Mestre: Aprendendo com os Métodos de Cristo. São José dos Campos: Editora Fiel, 2005, página 5.
[3] Idem, página 8.
Persiga o @genizahvirtual no Twitter