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Apostasia generalizada: de quem é a culpa?


Rev. Marcelo Lemos

Lá se vai alguns anos desde que comecei a escrever na Internet. Fiz e perdi amigos durante esse processo, posto que, essencialmente, trata-se de uma empreitada apologética. Não fui o primeiro a encarar esse desafio, nem fui o último – na verdade, ainda existe espaço para muita gente. Meu blog, o Olhar Reformado, já chegou a ter picos de 2000 visitas diárias – um verdadeiro anão se comparado a outros. Seja como for, acabei fazendo parte dessa história, e agradeço a Deus por isso.

Ao longo desses anos, muitos blogs e portais nasceram com a proposta de fazer o que eu chamaria de “apologética para dentro”, ou seja, para dentro do próprio cristianismo evangélico. De fato, já era forte aquela apologia que visa combater aquilo que “está fora”, ou “ameaça de fora”, com sites e até mesmo revistas especializadas em temas como jeovismo, mormonismo, dentre outras heresias. Assim, foi muito bom experimentamos a era dos chamados “caçadores de heresias”, que passaram a investigar o erro dentro das estruturas eclesiásticas ditas evangelicais, ainda que nesse processo, alguns abusos e exageros tenham sido cometidos.

É interessante relembrar de muita gente me dizer que era um trabalho um tanto infrutífero, e que não alcançaria maiores proporções fora das redes sociais (na verdade, da rede social daqueles dias, o moribundo Orkut). Estavam errados. A apologética virtual se demonstrou tão poderosa que até mesmo grandes potentados eclesiásticos precisaram descer do pedestal e dar satisfações, ainda que não perdessem seus olhares e discursos altivos. Em alguns casos, projetos meramente virtuais se transformaram em encontros, simpósios, e sei até mesmo de algumas igrejas que foram organizadas através de tais iniciativas.

No entanto, continuamos a ver os avanços sutis, e as vezes nem tão sutis, do erro a nossa volta. Se a apologética virtual tem feito grande barulho, as heresias continuam produzindo seus estragos. Até parece que, de certo modo, existe ao menos dois tipos de cristianismo evangélico no Brasil: um “popular” e um mais “intelectual”, sendo que o primeiro, por força histórica, se mantém sempre em vantagem numérica. Isso me faz lembrar da proclamação da Republica no Brasil, onde uma elite “iluminada” resolveu reescrever a mitologia política nacional, enquanto a maior parte da população era composta por pobres, analfabetos, e ex-escravos abandonados a própria sorte.

Ainda hoje, ao que me parece, nosso país padece de um crônico analfabetismo político e de cidadania. Lamentavelmente, processo semelhante parece atingir o evangelicalismo.

Será que como apologistas não temos feito o mesmo? Afinal, quem de nós, apologistas iluminados, tem subido os morros, desbravado favelas, ou feito capelania em hospitais e penitenciárias? Estou generalizando, mas não é até certo ponto verdadeiro que nós, os apologistas, muitas vezes somos extremamente apáticos no mundo “real”? E ainda assim seguimos a procura de culpados pela situação da igreja atual. E se boa parte da culpa não for do vizinho, mas nossa?

Durante anos tenho presenciado apologistas, todos em defesa da Igreja, que se dividem em trincheiras diferentes. O exemplo mais clássico é possivelmente o caso dos Arminianos e Calvinistas. Cada um de nós (e eu sou, em linhas gerais, um calvinista convicto), tem procurado responsabilizar o “outro lado” por este ou aquele problema na Igreja moderna. Mas, e se estivermos do “mesmo lado”? E se, enquanto eu, calvinista, chamo de herege você arminiano, os exércitos mouros cercam as nossas penínsulas? Quem são os grandes culpados se a invasão se concretiza?Todos nós, se formos honestos, encontraremos argumentos contra os outros, e contra nós mesmos.

Ninguém é capaz de me explicar, por exemplo, o motivo que leva muitas Igrejas calvinistas (se preferirem, reformadas) a serem tão pouco dadas ao evangelismo no Brasil. Conheci um jovem presbiteriano que me disse que processaria seu pastor no Sínodo pelo pecado de... mandar os jovens evangelizarem com folhetos! Nada, absolutamente nada em sua teologia, se é que realmente a aceitam como os Reformadores, justifica tal apatia.

Por outro lado, é igualmente injustificável que inúmeras Igrejas alinhadas com o arminianismo clássico, e que até poucos anos atrás nos deram grandes homens de Deus, como EM Bounds, AW Tozer, Leonard Ravenhill, Samuel Chadwick, Moddy, e tantos outros, estejam se rendendo, a passos largos, ao pragmatismo religioso e a filosofia humanista.

Não seria também nossa a culpa o quadro triste diante de nós? Porque devemos jogar a culpa apenas sobre os ombros dos falsos pregadores da prosperidade, se eles, pelo menos estão indo até as pessoas? Se um falso pregador da prosperidade, ou de qualquer outra heresia, não tivesse ido pregar ao seu vizinho – aquele de quem você zomba no Facebook! - ele teria ouvido falar de Jesus através da sua boca? Temo que muitos que estão seguindo os falsos profetas sequer teriam ouvido falar de Jesus se não fosse pelos... falsos profetas!

Acho incrível que existam arminianos que desconsideram calvinistas, pentecostais que desconsideram cessacionistas, cessacionistas que desconsideram pentecostais, e calvinistas que mandam os arminianos para o Inferno. Com tantos “papas” assim fica até difícil saber como não ir para o Inferno - talvez seja seguro edificarmos um novo Panteão, que eu chamaria de Areópago da Gnose, para não corrermos o risco de ir para o Lago de Fogo por causa de alguma opinião errada, por menor que seja.

Não quero ser interpretado erroneamente. Longe de mim aquele discurso hipócrita contra rótulos, definições e anti-eclesiológica. Estou apenas dizendo que uma boa dose de caridade não nos faria mal, tampouco nos prejudicaria unirmos forças em prol da evangelização e do Reino. Mas, qual a razão de não fazemos isso? Porque somos apáticos! Porque somos apologistas do cinismo!

Alguém pode interpretar minhas palavras como sendo contra o trabalho de apologética “para dentro do corpo” a qual me referir no inicio. Não é o caso, e eu mesmo não vejo motivos para abandonar essa guerra tão cedo. Todavia, não vejo sentido em sermos apenas um exército virtual, ou guerrearmos uns contra os outros, enquanto a Seara está pronta, e os obreiros são tão raros. Estou simplesmente dizendo que boa parte da culpa de haver tanto erro no evangelicalismo atual não é do “outro”, mas antes, é nossa, de cada um de nós, quer sejamos arminianos ou calvinistas, tradicionais ou carismáticos.


Nossa apatia, e nosso cinismo,  serão julgados pelo Senhor.




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