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Maria, uma serva obediente - Série Maria II

Luis A R Branco


Nas próximas publicações sobre Maria, iremos nos deparar com uma Maria que lutava com suas próprias emoções, lembranças e esquecimentos, uma mulher que tenta impor sua vontade, mas também que se submete. Maria sem dúvida aponta muito mais para a figura humana do que para uma figura divina, em outras palavras, Maria era uma de nós. No primeiro milagre registrado de Jesus, Maria estava presente, e de certa forma, abriu o caminho para que o milagre acontecesse, não por algum milagre seu ou alguma graça pessoal, mas por sua obediência, em João 2:5 nós lemos: “Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.” (Jo 2:5).

Este texto é fala do primeiro milagre de Jesus registado nos evangelhos. Na verdade o próprio evangelista diz que foi justamente aqui que Jesus iniciou seu ministério (Jo 2:11). Apesar do ambiente tipicamente tradicional, uma festa de casamento, possivelmente de pessoas simples daquela região, foi ali que Jesus operou o milagre que fez com que seus discípulos cressem nele (Jo 2:11), pois até ali, ainda o seguiam com certa incredulidade.

Não sabemos exactamente o motivo, mas num determinado momento da festa o vinho acabou (Jo 2:3). E nesta hora Maria informa a Jesus do ocorrido, talvez na expectativa de que Jesus pudesse fazer alguma coisa. Não sabemos se isto aconteceu, mas pode ser que Jesus já tivesse multiplicado alguns alimentos antes, naquela região de pessoas simples, ou talvez, Maria acreditasse que Jesus, por ter um grupo de discípulos, ser um Rabi, pudesse ter algum recurso financeiro para livrar aquela família do constrangimento. É possível, que esta família tivesse até algum parentesco com Maria, dado a sua aflição e conhecimento dos pormenores da festa. No entanto, a resposta de Jesus foi dura (Jo 2:4). A primeira parte da resposta, dá-nos a entender que Jesus deseja colocar Maria no seu devido lugar. Não no lugar que os católicos a colocaram, quase em pé de igualdade com a Santíssima Trindade, mas no lugar que era dela, e que é o nosso, o lugar da dependência e da espera no Senhor. A resposta de Jesus destaca a diferença da natureza de Maria e a de Jesus: “Mulher, que tenho eu contigo?” (Jo 2:4). Ele, Jesus, é Deus, de uma natureza superior, Maria, é humana, de uma natureza inferior!

A segunda parte da resposta destaca o tempo de Deus e seu controle sobre quando e como manifestará seu poder: “Ainda não é chegada a minha hora.” (Jo 2:4). Maria parece entender a mensagem de Jesus e se rende a sua soberania, e diz: “Fazei tudo quanto ele vos disser.” (Jo 2:5). Maria na verdade ela tem uma tendência a ser submissa, quando o Anjo Gabriel lhe apareceu e anunciou que ela seria a mãe do Messias, sua resposta foi: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra…” (Lc 1:38). Semelhantemente, aqui nas bodas de Caná Maria mais uma vez se submete a Deus. Muitos crentes aqui teriam se rebelado contra Jesus, teriam reclamado da dureza das suas palavras, teriam pedido transferência para outra igreja, ficariam por trás das costas dele a falar o quão terrível ele foi. Mas ao contrário, Maria não só obedece, como também recomenda ao demais para fazerem o mesmo (Jo 2:5).

A obediência destes servos era fundamental para que Jesus pudesse fazer seu milagre, que não só alegraria aquele casamento, mas geraria fé no coração daqueles que mais tarde viriam a ser os apóstolos da cristandade. E Maria, como uma boa serva do Senhor, em vez de inspirar rebeldia e confusão, liderou aqueles servos em obediência. Que serva fantástica era Maria.

O pedido de Jesus aos servos foi ordinário, simples, basicamente tirar água de um lugar e colocar noutro. Muitos crentes desobedecem em coisas pequenas, e é justamente na desobediência das pequenas coisas que estes têm deixado de ver os milagres de Deus. Se fosse conosco, com certeza alguns de nós teriam dito: “Que pedido mais sem cabimento! Nós aqui ocupados em servir a festa, e este ai quer nos fazer tirar uma coisa de um lado para por noutro.” No entanto, estes obedeceram a Jesus, fizeram exactamente como ele havia mandado (Jo 2:6-8), e o resultado foi que aquela água tirada de um lado e colocada noutro, se transformou pelo poder de Deus no melhor vinho da festa, e acredito que no melhor vinho do mundo.

Esta passagem nos alerta para os perigos espirituais que nos envolve, o perigo de assim como Maria, tentar impor nossas vontades em Jesus. No fundo, nós é quem decidimos tudo e por fim pedimos a Deus para fazer com que nossos planos, terríveis, decadentes, movidos por orgulho e vaidade possam dar certo. É preciso encontrar nosso lugar nesta relação com Deus, de servos dependentes da sua ordem. Essa dependência deve nos levar a agir como Jesus quer! No fundo, oramos muito pouco quando queremos tomar uma decisão, e a consequência é o embaraço no qual nos envolvemos em nossas vidas.

Somente uma mudança completa e radical, uma dependência absoluta de Deus, e uma vida rendida em obediência a ele é que nos fará ver os milagres de Deus em nossas vidas.

Assim como aquele movimento todo de Maria, Jesus e os empregados criaram fé no coração dos discípulos, que nossa mudança radical possa gerar fé em nós, e na vida daquele que nos rodeiam. Que possamos nos humilhar mais. Que possamos obedecer mais. Que possamos orar mais. Que possamos crer mais, para que o mundo inspirado por nossas atitudes cria e Deus.



Luis A R Branco colaborando com o Genizah






 

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