Era uma Vez... Mas não é Mais... - Uma Análise dos Últimos Acontecimentos no Brasil
https://genizah-virtual.blogspot.com/2013/06/era-uma-vez-mas-nao-e-mais-uma-analise.html
Carlos Moreira
Estamos na pós-modernidade, apesar de muitos ainda acharem que vivemos na idade média. Não há como comparar as manifestações que aconteceram nestes últimos dias no Brasil com nada que, historicamente, tenha ocorrido antes, ainda que os contornos possuam semelhanças com outros acontecimentos libertários, como a “Queda da Bastilha” na França do século XVIII, por exemplo.
Hoje, após um milhão de pessoas saírem às ruas marchando e
cantando em mais de cem cidades brasileiras, vimos surgir inquietações de
lideranças políticas, sociais, de filósofos e antropólogos que estão em busca
de entender o que está acontecendo. Eles perseguem velhos paradigmas e se
ocupam com modelos que não servem mais para nos levar a conclusões que, antes, nos
saciavam.
Digo isto porque li e ouvi em blogs, nas redes sociais, em
canais especializados de informação, pessoas em busca de identificar as
lideranças do movimento, a pauta de reivindicações, a agenda com os próximos
passos, etc. Ora, quem assim está pensando não analisou o fenômeno com os
“óculos” corretos, mas está querendo esmiuçá-lo através de lentes que não mais
se adéquam para este fim.
Na verdade, estamos vivendo algo totalmente novo, com uma
fenomenologia própria. O que percebemos é que este movimento de protesto é
multifacetado, policromático, independente. Ele se articulou através de
pequenos grupos, das redes sociais, do marketing viral, não segue as regras que
foram utilizadas no passado.
O fato histórico e de suma importância é que o movimento, em
poucos dias, conseguiu mobilizar um espectro importante da sociedade,
notadamente composto pela classe média, a qual vem reprimindo desejos de
manifestações contra as políticas públicas, econômicas e sociais no Brasil. Uma
vez que os objetivos mais tangíveis foram alcançados – no que diz respeito às
tarifas de transportes públicos – não há mais o que protestar. As pessoas
voltam para casa e aguardam uma nova convocação!
Se eu pudesse comparar o que aconteceu, de forma a termos um
modelo conceitual, afirmaria que este fenômeno que assistimos é como um
furacão, que se forma num determinado momento, concentra uma enorme força
reprimida, provoca “estragos” por onde passa e, em seguida, se dissipa. Ele
pode se formar novamente, a qualquer instante, bastando que haja
condições e fatores necessários para tal.
Ninguém espere que este movimento produza um ícone nacional,
ou faça surgir uma nova legenda partidária, ou que se crie a partir dele uma
agenda de protestos organizados, etc. Eu acredito que o que o povo descobriu
foi uma forma rápida, poderosa e eficiente de se manifestar sem que haja o envolvimento de sindicatos, partidos políticos, associações de classes
ou grupos sociais. Se pudéssemos atribuir a um grupo a liderança das manifestações
que presenciamos, poderíamos dizer que foi o “grupo dos brasileiros”!
Como se sabe, nem tudo está pronto. E nem era mesmo para
estar! O que fica como lição para políticos e governantes é que não há mais
como não se aperceber das grandes demandas e insatisfações da sociedade. Não há
mais como manipular massas como se fez no passado, utilizando meios de
comunicação subservientes e métodos alienantes. Mesmo em meio a uma Copa da
FIFA, onde a seleção do Brasil vai bem, o povo foi às ruas deixando claro que a
época do “pão e circo” acabou, ficou para trás.
Este novo Brasil que surge não tem um rosto, mas milhões
deles, não tem um partido, a não ser aquilo que tome partido em função da
coletividade. Este novo Brasil não precisa de canais de TV ou Rádios, usa a
internet e as redes sociais – uma mídia que não possui donos – como meio por
onde as informações podem trafegar alcançando milhões de cidadãos de forma
rápida e objetiva.
O que está acontecendo neste momento, ainda está longe de se
poder compreender. Muitos especularão e tentarão dar ao fenômeno uma forma,
colocar uma marca, impingir velhas regras e conhecidos controles. Inútil. O que
foi, já não é mais.
Daqui há alguns anos, quando falarem do dia 20 de junho de
2013, o dia em que eu e você assistimos a “queda dos poderes”, ainda que ela
tenha sido mais moral do que institucional, dirão o seguinte: “era uma vez um país...”,
e relatarão o que ocorreu. Hoje, todavia, o que vejo, concretamente, é que nada do que era é mais...
Carlos Moreira é editor do Genizah e também escreve para a Nova Cristandade.
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Um dos melhores artigos que já li por aqui. Chega ser emocionante. /o\
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