Os suicidas e o inferno
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Digão
Nesta
semana li, com muita tristeza, que o filho de Rick Warren, Matthew, de apenas
27 anos, cometeu suicídio. Após lutar bastante contra determinada doença mental
(no noticiário, não se especifica qual é), Matthew, em um momento de surto
depressivo, deu cabo à própria vida.
Essa
notícia me entristeceu bastante. Mesmo que eu discorde de pontos eclesiológicos
de Rick Warren, e mesmo eu achando que Uma
igreja com propósitos fez mais mal que bem a grande parcela de leitores
evangélicos no Brasil, não posso me furtar em pensar não no pastor Rick, mas no
homem e no pai Rick.
Sim,
porque conviver com uma pessoa vítima de depressão não é tarefa nada fácil. Saber
que seu filho possui um mal emocional e/ou neurológico que o corrói por dentro
feito um câncer na alma, muitas vezes se sentindo impotente para ajudar, é uma
situação por demais pesada. Mas ser um pastor de projeção internacional tendo
um filho depressivo e que se mata deve ser um fardo pesadíssimo.
Digo
isso porque, no imaginário das pessoas, a função pastoral blinda os pastores
contra as adversidades da vida. Na cabeça de muita gente, um ministro ter um
filho depressivo, ou mesmo um ministro ser depressivo, é uma incoerência. Afinal,
o Evangelho restaura as vidas, e Deus é poderoso.
Sim,
o Evangelho restaura e Deus é poderoso. Mas nós, simples homens mortais, somos
falhos, fracos e quebradiços. O Evangelho não é a poção mágica do Panoramix,
que dá superforça a Asterix. O processo restaurador do Evangelho é lento,
paulatino. Leva a vida toda.
Não
sei explicar a razão da existência do mal. Afinal, Deus poderia livrar Matthew
(e inúmeras outras pessoas) do mal da depressão. Mas não livrou. Mas Deus pode
nos livrar da língua maledicente de gente que facilmente joga pessoas nas
profundezas do inferno.
A
facilidade com que julgamos, a leviandade em julgar e o prazer que sentimos ao
fazê-lo nos revelam que, além de doenças emocionais, há também doenças
espirituais. Só mesmo gente doente espiritualmente para acusar terceiros sem ao
menos ouvi-los. E, no caso de um suicídio, a coisa fica pior, não só pela
impossibilidade de ouvir o outro lado como também pela indiferença pela dor
daqueles que amavam o suicida.
Assassinato
é um crime e um pecado. O suicídio é, por definição, um autoassassinato, ou
seja, um assassinato de si mesmo. Portanto, segundo esta lógica semanticamente
correta mas teologicamente torta, todo suicida tem como destino, por conseqüência,
o inferno, já que não houve tempo para um arrependimento do seu pecado. É a
mesma lógica que afirma que pode perder a salvação caso cometa algum outro tipo
de mal, negando, por completo, a eficácia do sacrifício de Cristo na cruz. Há até
aqueles que dizem que devemos questionar a fé de um suicida.
Porém,
O que temos em Jesus é diferente. Primeiro não existe essa paranóia de perda de
salvação, já que todo aquele que vai a Ele nunca será descartado, posto para
fora. Segundo, não há nenhuma criatura no céu, na terra, no mar, no inferno ou
em qualquer outra dimensão capaz de nos separar do amor de Deus que está em
Cristo Jesus. E, em terceiro lugar, não temos nenhum papel de juiz sancionado
pelas Escrituras que nos autorize questionar a fé alheia; nossa função é
acolher, amar e revelar Jesus em nossas vidas.
Rick
Warren é, hoje, um homem quebrado pela dor do luto, como tantas outras pessoas
que sofreram e sofrem dor semelhante. Sejamos, pois, realmente cristãos, e
possamos ser, na vida dessas pessoas, instrumento de graça e amor de Deus, em
vez de sermos instrumento de dor e julgamento. Seja o Crucificado, e não nossa
religiosidade egoísta e míope, glorificado em todo esse momento de dor e
perplexidade.
Digão acha que a língua mata com muito mais eficácia que as balas de revólver, para o Genizah
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