Shoppings e Catedrais
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Gosto da metáfora da catedral.
Ás vezes, quando amigos meus vão à Europa pela primeira vez, principalmente à Itália, digo a eles:
"se andarem pelo interior, e numa pequena cidade, encontrarem uma catedral, parem, porque essa cidade tem história".
No período medieval, quando uma cidade queria adquirir status, era edificada uma catedral. Às vezes, à custa até de privações do povo da cidade, movido pelo discurso do poder clerical. Essas pessoas faziam sacrifícios, que pesavam na sua sobrevivência.
Visitando catedrais, ou quando olho para a ponte Rio-Niterói, sempre me pergunto quanto sofrimento e sangue existirão por trás dessas obras de arte.
Hoje, quando uma cidade brasileira quer adquirir status, ela constrói Shopping Center. Quase todos têm linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas. esse é um valor, não para mim, mas para muita gente.
Os Shopping Centers, com suas linhas catedrais, são templos do consumismo. Você não pode ir ao shopping com qualquer roupa. Entra pelo claustro, escutando aquela musiquinha do gregoriano pós-moderno, contempla várias capelas, onde os veneráveis objetos de consumo encontram-se em nichos acolitados por belíssimas sarcedotizas.
E quem não pode comprar sente-se no inferno. se tiver que entrar no cheque especial, cartão de crédito, na compra a prazo, vai doer, sente-se no purgatório, e se puder comprar a vista sente-se no céu. Mas os três serão consolados, na saída, na eucaristia pós-moderna, dividindo o refrigerante e o hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura...
[...]
Quando vou ao Shopping, sou assediado pelos vendedores que me perguntam se desejo alguma coisa ao que respondo: "obrigado, só estou dando um passeio socrático". Sócrates foi o filósofo grego que andava pelas ruas de Atenas, onde havia lojas de comércio e também vendedores que chegavam à porta e perguntavam se ele desejava alguma coisa. Ele respondia: -"Não, estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz." Isto é um passeio socrático.
(Frei Betto - no livro: Diálogos Criativos com frei Betto e Domenico De Masi)
Isto, sem esquecer das catedrais neopentecostais, onde se vende a benção em suaves prestações... Ou é quando a hipérbole vira metáfora
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