Uma catástrofe anunciada: A Grande Tribulação dos Góspios.
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Digão
O ano era 2073. Ou pelo menos era o que o Explorador achava. Afinal, desde o confronto final entre as tribos nômades dos góspios e as dos hômios, que alguns chamavam de a Grande Tribulação, não havia mais como marcar o tempo. O Explorador mesmo nem tinha ideia de sua própria idade. Só sabia que tinha que estar sempre fugindo das tribos dos góspios, que venceram as dos hômios e sujeitaram todo o mundo a um regime de escravidão, torturando selvagem e violentamente quem apenas se atrevesse a esboçar qualquer pensamento diferente do deles.
O
Explorador tinha lembrança das histórias que sua mãe lhe contava. Ela dizia
como a Grande Tribulação havia começado. Ela ainda era uma pequena criança, mas
se recordava bem daqueles dias, pois ainda havia contagem de tempo. Era o
começo da segunda década do século 21. O Brasil, país que começava a despertar
grande interesse internacional devido à sua economia em processo de
recuperação, era palco de grupos cada vez mais beligerantes. Havia grande crescimento
daquilo que um dia geraria as tribos dos góspios. Eles, que sempre sofreram preconceito
por parte dos meios de comunicação, de uma hora para outra se viram contemplados
pelos holofotes midiáticos devido ao seu grande crescimento numérico, que podia
ser traduzido como um novo mercado econômico a ser explorado. O líder deles
daquela época, uma pessoa que já demonstrava desequilíbrio emocional e
psicológico, procurava faturar em cima de seus liderados, requerendo posições
de destaque para seus representantes. Assim, ele também ganharia visibilidade
para seus projetos políticos futuros, quando rifasse seu apoio a candidatos de
várias matizes político-partidárias. Além disso, era um homem afeito a
polêmicas grosseiras. Em uma dessas polêmicas, disse aos líderes do grupo que
um dia geraria as tribos dos hômios: “suas bichonas nojentas, vou funfar
vocês!”, ao que eles responderam no mesmo nível: “seu religioso nazista fdp!”.
Com o grande poder midiático do líder dos góspios, aliado à falta de discernimento e visão crítica destes, os confrontos, que no início eram apenas restritos a discussões verbais acaloradas, começaram a ser embates físicos. A confusão foi tão grande que foi necessária a intervenção da Guarda Nacional, que apanhou feio dos góspios, que não temiam nada, já que diziam que eram vencedores contra tudo e contra todos e que iam no santo nome do seu líder. Como a situação ficou além do imaginável, vieram as forças da OTAN, que também perderam vergonhosamente para os góspios. Ali foi o começo daquilo que chamam de Grande Tribulação.
Com o grande poder midiático do líder dos góspios, aliado à falta de discernimento e visão crítica destes, os confrontos, que no início eram apenas restritos a discussões verbais acaloradas, começaram a ser embates físicos. A confusão foi tão grande que foi necessária a intervenção da Guarda Nacional, que apanhou feio dos góspios, que não temiam nada, já que diziam que eram vencedores contra tudo e contra todos e que iam no santo nome do seu líder. Como a situação ficou além do imaginável, vieram as forças da OTAN, que também perderam vergonhosamente para os góspios. Ali foi o começo daquilo que chamam de Grande Tribulação.
O
Explorador procurava se lembrar disso à medida que empreendia seus esforços
para encontrar um tesouro há muito perdido. Segundo sua mãe, era um mapa de uma
mina inesgotável, mas que havia sido há muito usurpado pelos góspios. Ele
teria, então, que encontrar este tesouro e usá-lo para um fim proveitoso para
si e para seu pequeno grupo de refugiados.
Pelo
que recordava das histórias de sua mãe, o Explorador vasculhou entre escombros
de antigos prédios, destruídos pela fúria dos hômios. Tais prédios antigos,
também chamados de “igrejas”, mais se pareciam com centros de comércio, tal o
luxo que havia nos seus restos. Depois de muito procurar, encontrou aquilo que
tanto ansiava. Era um pequeno livro, de capa preta, onde estava registrada a
Palavra dAquele que seria, em tese, a motivação única dos góspios. Mas, ao ler
aquele pequeno livro, o Explorador viu que nada do que os góspios diziam estava
registrado ali. Não havia nada como bênção de Abraão, nobreza espiritual, sementes
milagrosas que garantiriam uma conta bancária farta. Em vez disso, viu que ali
havia ênfase no amor para com o próximo, mesmo que este discordasse de suas
ideias. Havia a ênfase em amparar os pobres, os órfãos e as viúvas, e não
extorqui-los. Também estava registrado que a glória deveria ser única e
exclusivamente para Deus, e não para pretensas lideranças humanas.
O
Explorador, então, caiu em
si. Toda aquela tragédia, toda aquela guerrilha, toda aquela
Grande Tribulação, toda a sua realidade era baseada em falsificações e
enganações. Os góspios foram enganados no princípio, mas amaram o engano e se
deixaram enganar, matando até mesmo alguns que questionavam suas motivações.
Toda a vida de um grande contingente de pessoas passava obrigatoriamente pelo
ludibrio de pessoas inescrupulosas. A mentira, portanto, havia se tornado verdade.
Decidiu
então mudar. Sabia que de nada adiantaria morrer como mártir, pois os góspios somente
zombariam. Sabia também que um debate franco e aberto seria mortal devido à
política do terror vigente. Faria, então, a única coisa que podia fazer:
preservar seu pequeno grupo de refugiados. Iria ensiná-los a observar aquele
livro achado. Ensinaria a compartilhar do amor de Jesus, que nada tinha de
parecido com o “Djízâz Cráiste” dos góspios - eles gostavam de conversar na
língua de sua matriz ideológica, pois achavam mais apropriado.
Enfim,
faria um serviço pequeno, humanamente falando. Mas sabia que o Reino era
subversivo, e que as regras dos jogos de poder terrenos não se aplicavam a ele.
Era algo, enfim, perigoso e arriscado. Mas era melhor do que se moldar ao
terror e ao medo góspios.
Digão, que acha que a realidade muitas vezes se parece com a ficção, para o Genizah
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