Mamãe, sou celebridade!
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Digão
Vivemos
num período em que a imagem conta bem mais que a essência. O que vale agora é
ser famoso. Ser celebridade é o que conta, não importando o motivo de ser
célebre. O falecido artista plástico estadunidense Andy Warhol dizia que todos
teriam quinze minutos de fama, o que faz com que tudo, hoje em dia, seja muito
mais rápido, superficial e artificial.
Se
no mundo o que vale são os corpos malhados e as cabeças ociosas dos big
brothers da vida e assemelhados, no mundim
góspi os silicones e as bombas energéticas são substituídos por poses ensaiadas
de uma espiritualidade fake, quase gnóstica.
O “quase” reside no fato de que os gnósticos afirmavam que a salvação vinha
pelo conhecimento de segredos ocultos, enquanto que hoje a coisa fica apenas na
aparência mesmo, já que no Brasil impera o antiintelectualismo, resquício dos
primeiros missionários que vieram para cá no período do Segundo Império, o que
gera as catástrofes de ignorância que temos hoje, como os cheiradores de bíblia
e cositas más. Portanto, vivemos no
império da aparência: não importa se o cantor quis que a namorada abortasse; o
que importa é vender CDs de música sofrível e ter um visual moderno e descolado.
Não importa se outro cantor deu o cano em uma apresentação em uma igreja no
norte do país porque havia agendado outra para a mesma data (e que pagaria bem mais);
o que vale mesmo é a cara de prazeroso sofrimento na propaganda de seu novo CD
veiculado em rede nacional.
No
período do Novo Testamento, o apóstolo Paulo tinha tudo para ser uma
celebridade. Ele era de uma linhagem tradicional do judaísmo (Fp 3.5), membro do
Sinédrio, um importante órgão da religião judaica, e pupilo de Gamaliel, um dos
maiores mestres do judaísmo. Zeloso perseguidor dos cristãos (Fp 3.6), tornou-se
um deles ao ser cercado por uma luz e ouvir a voz de Jesus na estrada que o
levava a Damasco (At 9.3-5). Famoso por sua violência, foi de início rejeitado
pela comunidade cristã (At 9.26), para ser, gradualmente, figura importante na
pregação do Evangelho aos gentios (Gl 1.16).
Mas
não vemos Paulo ser ordenado logo após a conversão; em vez disso, ele se retira
por um tempo para meditar (Gl 1.17), mais precisamente três anos, sobre o
ocorrido na estrada. Depois desse período, começa a pregar, mesmo arriscando a
sua vida (At 9.29).
Caso
o apóstolo (verdadeiro, não as falsificações modernas) Paulo vivesse hoje,
seria impossível se encaixar nesse nosso freak
show. Imagine se ele soltasse propagandas afirmando que era um novo
ministro com uma unção poderosa que seria liberada para uma nova geração? Ou
que vendesse bonecos parecidos com os de vodu em seu site, chamados de “Pauleco”?
Ou ainda, que afirmasse que não é mais pecador, ou que a salvação de muitos
dependia de sua própria fidelidade a Deus? Imagine Paulo falando de implante de
cabelo na TV ou cobrando sementes de 900 denários? Já pensou como seria
ridículo se ele viesse a público com uma foto sua fungando a Torá?
O
apóstolo Paulo confrontaria este nosso new
Paulo sem dó nem piedade. Afirmaria categoricamente que os partidarismos
(sou de Calvino, sou de Malafaia, sou de Clark Pinnock, etc...) nada mais são
que a manifestação de nossa carnalidade (1 Co 1.10-13; 3.3, 4). Diria que o
comércio feito com o nome de Deus e em cima dos crentes nada mais é do que a
usura e a corrupção do ser humano pintados com cores piedosamente enganadoras (1
Tm 6.3-10). Chamaria nossos vendilhões de falsificações baratas, bem como
aqueles que os seguem de bom grado (2 Co 11). Denunciaria o desequilíbrio
daqueles que só pensam em esmagar, destruir e arrebentar os adversários (1 Tm
2.8, Tt 3.2), bem como aqueles que pervertem a mente de muitos com seus ensinos
fraudulentos, que fazem com que se afastem de Jesus (2 Ts 2.3-12). Paulo,
enfim, diria uma palavra final a respeito de seu congênere afeito à moderna celebridade:
afirmam
que conhecem a Deus, mas pelas suas obras o negam, sendo abomináveis, e
desobedientes, e réprobos para toda boa obra (Tt 1.16).
Essa sede de prosperidade é bastante ruim, e se
aliada ao discurso religioso, pior ainda. De nada adianta encher a boca dizendo
ser o interlocutor junto à Rede Globo em relação aos evangélicos se a
interlocução junto a Deus for uma fraude. Querer demonstrar ser mais do que
realmente é, junto ao público consumidor, é piada e motivo de riso de Deus (Sl
2.4), por ser algo ridículo. Ter um discurso de fé e uma prática pagã virou
norma hoje em dia, mas o que faz a pessoa ser realmente célebre diante do Senhor
é submeter-se ao Rei (1 Jo 2.15-17). Para isso, é necessário abdicar da
celebridade do mundo. Eis um desafio que poucos, atualmente, aceitariam
encarar.
Poucos conhecem o reverendo Rodrigo de Lima Ferreira, mas a turma do Genizah conhece bem o Digão
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