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A humanidade gospel no aeroporto



Digão


Dia desses eu estava no aeroporto em Confins, região metropolitana de Belo Horizonte, voltando de alguns dias abençoados no Recife, esperando por minha conexão. Em meio ao burburinho comum deste ambiente, pude ver, ao longe, certa estrela gospel do momento, de cara lavada e com aparência de forte cansaço, junto com seu marido e sua indefectível cara de quem freqüentou muito academias de ginástica mas nem sabe o endereço de uma biblioteca. Ali, naquele lugar tão corriqueiro, tão comum, sem nenhuma pompa e nem glamour, uma pessoa tão glamourizada e idolatrada, ops, ungida, era apenas mais uma simples mortal, esperando seu vôo, como tantas outras pessoas. Não havia fãs, nem assessoria. Era apenas a estrela gospel absorta em si mesma e em seu enfado.

Como algumas pessoas são pequenas ao idolatrarem seus ídolos, pelo simples fato de possuírem alguma projeção midiática! E como algumas são menores ainda por aceitarem tal idolatria! Pude ver, mais uma vez, que o circo que é armado em torno de tais “ungidos” em nada difere daquele que é armado em torno da Madonna ou de algum outro artista. 

Talvez tal idolatria seja apenas uma tentativa de mascarar a mediocridade de uma vida fútil que faz com que algumas palavras mágicas tomem o lugar do genuíno Evangelho. Ou talvez seja resultado do descompasso entre ortodoxia e ortopraxia. Mas uma coisa é certa: é apenas uma evidência da tremenda superficialidade de vidas que reina hoje. Superficialidade esta, aliás, que se apresenta na chamada igreja evangélica brasileira como reflexo da sociedade como um todo, já que não há mais diferença essencial entre o evangélico e o não-evangélico. Uma vez que o grande prêmio da soberana vocação gospel foi alcançado, que é a audiência da Rede Globo e contratos polpudos com a SomLivre, nada mais resta senão a manutenção do lucrativo sistema de mercado religioso. O testemunho de uma vida transformada pelo poder do Espírito fica para outra ocasião; a hora agora é, conforme cantaram os Paralamas, viver da fé, só não se sabe fé em quê.

Não vi para onde tal estrela gospel foi, já que meu vôo logo foi chamado. No fim das contas, tive mesmo foi pena de sua vida de ilusão e vazio. Tive pena de ver uma moça tão nova, bem como, seu marido marrentinho, serem escravizados por Baal. Vidas que seriam abençoadas e abençoadoras no Reino do Pai das Luzes (Tg 1.17), mas que optaram pelas luzes trevosas da ribalta midiática global. Vidas que poderiam ensinar a verdade do Caminho, em vez das mentiras do Descaminho. Vidas que são, ao mesmo tempo, motrizes e reflexos de uma religiosidade popular hedonista, consumista e humanista, religiosidade esta que conseguiu transformar os significantes cristãos em novos significados neopagãos.

Só sei que pude constatar duas coisas. Primeiramente, a humanidade é inescapável para todos, mesmo para aqueles que se acham semideuses. E, em segundo lugar, um bom maquiador é capaz de operar verdadeiros milagres.



Digão viaja muito, mas quer mesmo é viajar na Enterprise, para o Genizah









 

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