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Um crente anônimo e seu vício pela cerveja


Não há como ser diferente: entre nós, crentes evangélicos, só é permitido confessar pecados dessa forma: anonimamente. Vide relato comentado por visitante do blog, enviado ao Zé Luís, e trazido aqui, para os leitores do Genizah. E aí? O que fazer?

por um Anônimo

Olá Zé Luíz! Ou melhor, Paz do Senhor!

Também sou cristão, leio o seu blog já faz mais ou menos um ano e meio, apesar de nunca ter feito um comentário nele, tenho uma identificação muito forte com seu jeito de pensar com relação ao cristianismo e muitas coisas da vida. Provavelmente já passamos situações parecidas com santarrões e frequentadores assíduos de igrejas que se acham perfeitos demais para nos considerarem seus irmãos.

Mas tudo bem, isso já não é tão relevante, já que o meu maior inimigo sou eu mesmo. Tenho facilidade de aprendizagem e ensino da palavra de Deus, amante da leitura, adoro devorar livros teológicos e seculares, por este motivo sou sempre aproveitado nos lugares onde congrego como professor de escola dominical e ministrações em cultos de ensino. As coisas caminham bem por alguns meses, entre leitura da bíblia e orações diárias, (Práticas que por sinal realmente fazem a diferença) até que de uma hora para outra, entre uma decepção e outra, seja na igreja, seja na vida secular, a insatisfação começa a bater na porta, a oração vai e a leitura das escrituras começam a ser negligenciadas, assim como as outras atividades pertinentes ao ministério. E enfim, mais uma vez me vejo se entregando àquilo contra qual luto com sucesso quotidianamente quando estou com a minha vida espiritual sadia:

A cerveja, sim, é este o meu "calcanhar de aquiles", o "espinho na carne" o furo na canoa. Então perco o interesse pela vida eclesiástica, evito qualquer contato com irmãos, minha esposa fica com vergonha de ir á igreja porque não sabe o que dizer aos inúmeros questionamentos a meu respeito. As coisas começam a desandar no relacionamento familiar, porque é difícil para a minha esposa orar (eu entendo isso) e me ver lecionando em um púlpito, e de repente me ver tomando uma caixa de cerveja sozinho, em casa e também em bares. Não fico violento e nem vou atrás de mulheres, mas tenho que beber até ficar embriagado, de outra forma, não tem graça.

Em seis anos de conversão isso já aconteceu pelo menos umas 5 vezes, de modo que não consegui ficar um ano inteiro ainda sem vacilar. A história é cíclica,e sempre acontece assim:

Estou bem, servindo à Deus e de repente acontece como relatei acima, e as coisas vão ficando insuportáveis com minha esposa e meus pais, que moram na frente da minha casa. Então, em certo ponto, não aguentando a pressão, saio e passo a noite fora me envolvendo com drogas e depois volto, minha esposa me perdoa, eu volto para igreja, recomeço a caminhada, e por favor, acredite, recomeço de maneira sincera, procuro me entregar a Deus com profunda sinceridade E as coisas acontecem de maneira rápida, eu volto a minha vida ministerial com amor e dedicação (sim, amo o que faço) como se nunca tivesse caído e assim vai por alguns meses. Entendo se você pensar que nunca fui convertido, mas apenas convencido, mas gostaria que soubesse que talvez exista a possibilidade de não ser isso. Já tive profundas experiências com Deus e quando busco o busco procuro dar toda a minha sinceridade.

Essa é a verdadeira história, e os irmãos aqui da minha cidade não a conhecem como relatei acima pra você, claro que eles sabem de uma coisa ou outra, afinal, eu sumo da igreja nessa época e de vez em quando alguém vê alguma coisa. Mas não ouso contar nem para o meu pastor com medo de ser encostado em um canto, além do mais, muitas pessoas por aqui me jogariam no inferno por muito, mas muito menos. Diante do desgaste que esse vai e volta causa em minha família, na igreja, em mim mesmo, e eu acho que até em Deus, eu já pensei em jogar tudo para o alto e me entregar de vez á boêmia e as tabernas da vida. Minha esposa me disse que eu posso escolher, que nós podemos nos separar sem rancores se eu optar pela cerveja, porque ela não tolerará essa vida, nós nos conhecemos no mundão ela era desviada eu era consumidor inveterado de maconha e álcool e, esporadicamente, cocaína e nunca tinha sido cristão, então ela voltou, me converti e nos casamos. Apesar de ter sido usuário e a história sempre acabar da mesma fora, eu não tenho problemas com drogas: o problema é a cerveja, apesar dela ser a responsável por deslizadas esporádicas.

Tenho uma filha linda de 4 anos que foi fruto de uma cura divina, pois minha esposa não podia engravidar, perseverei em oração até que Deus teve compaixão e lhe abriu a madre. Voltei para a igreja na semana passada. Minha mulher está mais tranquila, meus pais estão felizes, eu estou feliz, estou de férias no meu serviço e passo o dia em casa orando e lendo(ler é meu hobby) a bíblia e outros livros. Sim, ainda posso dizer á minha mulher para ela seguir a vida dela, com a minha amada filha, e poupar ela de mais uma decepção. Afinal de contas,não peguei nojo da cerveja e apesar de saber que nos primeiros meses não há a menor possibilidade de vir a colocar um copo na boca eu vivo com a impressão de "deja vu" e isso me tortura dia e noite. E cá entre nós, Estou me sentindo a mosca do cocô do cavalo do bandido, o pior dos vermes da terra, o último dos homens, e pensei em parar com isso e me entregar de vez, ao mundo, pois não consigo me ver perdoado de novo e não suporto a ideia de, passado alguns meses, isso acontecer de novo. Mas daí um pequeno porém aparece, eu tenho absoluta certeza da realidade do Cristianismo e do poder de Deus em Cristo, seu filho. E tenho plena convicção que se eu fizer isso (me entregar ao mundo) estarei, sem sombra nenhuma de dúvida, fazendo a maior burrada da minha vida, e olha que eu já dei muita cabeçada. O próprio Deus deve estar mui decepcionado comigo e talvez não fosse uma má ideia ele colocar outra pessoa para cuidar da minha esposa e filha. Alguém com mais firmeza talvez. Mas ao mesmo tempo eu penso... Para onde irei?

Tenho por certo que cada palavra da bíblia é inspirada por Deus e sendo assim é a mais pura verdade, e isso me retorce por dentro dia e noite. Mesmo quando estava na mesa de um bar isso já me incomodava. E estou condenado a viver com a síndrome de Pedro para o resto da minha vida caso decida assim. (João 6.68-69). Por outro lado, o fantasma da insegurança e de uma nova decepção me assombra caso permaneça no caminho. Me perdoe pelo longo desabafo neste espaço. E ah sim... a respeito da postagem, muito boa e coerente. E a propósito, pode acreditar,não é meu estilo ser crente café com leite mas dessa vez vou dizer que se quiser me citar em suas orações, não vou me importar de ser chamado de crente 6 horas...

Um abraço e Deus lhe abençoe!!!

Não consegui deixar de me emocionar com a solidão que esse irmão passa, ao viver seu drama ocultamente, sem que nenhum membro de sua comunidade saiba, evitando assim, sua chance de fazer parte entre os "escolhidos", podendo trabalhar pelo Reino, coisa que nos dá tanto prazer. O Cristo jamais abdicaria de um filho, mas nós, chamados cristãos protestantes, somos conhecidos pela prática do "fogo amigo", aquele acidente de batalha onde nossas próprias armas matam o companheiro de lutas, deixando-o abandonado, para apodrecer em seus erros no meio da guerra.

O que seria a igreja se todos nós pudessemos falar abertamente das burradas que cometemos: muita coisa insignificante - que cremos ser irremediável - seria banida ali mesmo. Cada vez mais creio que essa "santidade" imposta nos comportamentos de fachada das comunidades cristãs foi criada no inferno.





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