Ricardo Gondim: de “Herói” da Fé a Arqui-herege.
https://genizah-virtual.blogspot.com/2012/06/ricardo-gondim-de-heroi-da-fe-arqui.html
Carlos Moreira
Antes de escrever este
artigo eu liguei para o Danilo, editor chefe do Genizah. Falei do que gostaria
de publicar e recebi sua autorização. Assim, fico feliz em participar de um blog onde o pensamento divergente se torna
convergente com o fim último de suas proposições: a verdade, a apologética, a
democracia, o direito de livre expressão, o respeito, o progresso do Reino de
Deus!
Inicialmente, quero lhe
dizer que Ricardo Gondim não me conhece; eu o conheço. Sim, porque Gondim é
parte da história recente do cristianismo em nosso país e do movimento
evangélico, com livros publicados, participações em revistas aclamadas,
congressos, simpósios, entrevistas na TV, homem de notório saber, não só do
ponto de vista da teologia, mas de outras áreas do conhecimento, líder de uma
denominação de expressão, articulista, dentre outras muitas habilidades que o
Senhor da Igreja lhe concedeu.
Também não estou aqui
para defender Gondim, até mesmo porque eu não tenho nem categoria nem “pedigree” para isso. Aliás, ele sequer
precisaria de algo desta natureza: está lavado pelo Sangue do Cordeiro,
justificado de suas obras, crucificado com Cristo e com Ele ressuscitado, já
assentado nas regiões celestes e, com absoluta convicção, aguarda o dia do juízo
para ouvir de Jesus: “vinde, entrai no Reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo... Foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei”.
Então, o que quero? Ora,
eu busco entender os porquês de algumas coisas. Eu tenciono levar você a pensar um pouco e a questionar as razões de suas ações, como afirmava Nietzsch.
Eu quero tentar sair desta “cortina de fumaça” que se formou em torno de
Ricardo Gondim, para buscar enxergar práticas que estão em vigor hoje no mundo
eclesiástico, almejo, de alguma forma, discernir que “espírito” é este que surgiu entre nós, que zeitgeist vem influenciando o "nosso ethos", o que está tornando-se
“material” impregnado, tanto na mentalidade, quanto no inconsciente coletivo dos
evangélicos, se é que isto é possível.
Tenho acompanhado o
“drama” do Gondim... Afirmo desta forma, pois, há bem pouco tempo atrás, ele
era um homem celebrado no meio evangélico, um “herói” da fé. Seus escritos e
mensagens abençoavam e alcançavam milhões de pessoas dentro e fora do Brasil.
Não tenho dúvidas das centenas de milhares que foram levados a Cristo pela
pregação do Evangelho que foi posto em sua boca. Mas, de repente, em função de
algumas falas e escritos, a despeito de tudo, desgraçadamente, ele
transformou-se em arqui-herege da fé cristã. Interessante...
Eu li e assisti a todo o
material que veio a baila nestes últimos tempos. Não o fiz apenas nos blogs na internet, mas, sobretudo, entrei no
site de Gondim e desci as “profundezas” de seus pensamentos e ensinamentos, de
tal forma que evitasse texto sem contexto, exegese de ocasião, sensacionalismo,
e outros recursos mais que, penso, foram usados neste e em outros casos.
Li também e, de forma
cuidadosa, analisei, sem “sentimentos” ou inclinações, as articulações dos
apologetas sobre Gondim. Diante de todo este cenário, valendo-me da posição que
hoje me cabe, como editor assistente do Genizah, com 30 anos de caminhada com
Jesus, 10 dos quais como pastor, com formação em teologia e filosofia, com
centenas de artigos e mensagens publicados em revistas e blogs, penso que, ao
menos, também ganhei o direito de ser ouvido por alguns instantes, ainda que
esteja “remando contra a maré”...
Minha fala carrega algumas
preocupações...

Parece-me, grosso modo,
que o que se quer é ver o “circo pegar fogo”! Nós perdemos o respeito pelos
nossos líderes, somos uma geração sem referências, sem influências, sem heróis.
Joga-se no lixo tudo o que um homem fez em sua vida porque ele não está
seguindo a risca, para usar uma fala do próprio Gondim, o “evangelho” segundo
os santos evangélicos! Pouquíssimos tem, ao menos uma ideia, do "preço" que um homem deste paga para chegar onde chegou. É um custo de vida, aliás, é quase não ter vida, mas vamos "jogar pedra na Geni!", e de forma, não raro, irresponsável. Gondim caiu em desgraça porque ousou pensar diferente,
mas cometeu o pior de todos os pecados: tornou isso público!
Em segundo lugar, preocupa-me a grave crise que vivemos, pois ela é crise de pensamento, é a
substituição da intuição pela dogmatização, do questionamento pelo
fundamentalismo, da liberdade de expressão pela tirania da letra. Onde os
cristãos imaginam que vão parar isolando-se cada vez mais do “mundo”? Como
poderá a teologia sobreviver nos dias atuais separada do resto do pensamento e do conhecimento
humano? Será que ninguém vê que o mundo mudou? Quem tem coragem e ousadia de articular a ponte que leve a fé ao
diálogo com os outros saberes, que a liberte da prisão a qual a
"instituição" a remeteu? Gondim vem tentando fazer isso e olha no que
deu!? Como bem citou João Alexandre, em uma de suas maravilhosas canções: “é
proibido pensar!”. Estou certo: é mesmo...
Estamos vivendo em meio
a uma geração movida à repetição, que “segue mapas”. Ainda nos encontramos
presos ao século XIX, não ousamos, não avançamos, não dialogamos com os outros,
não nos abrimos à reflexão, a auto-análise, não ouvimos críticas, achamos que a
teologia é algo que está acima do bem e do mal, somos tão ufanistas que sequer
cogitamos que podemos estar equivocados. Estamos debaixo da tirania de
Procusto, normatizados pela instituição perversa, nossas consciências se
cauterizaram pela pregação de uma mensagem que nada mais tem de Evangelho.
Tristemente tornamo-nos a “igreja playmobil”: somos todos iguais, falamos todos
iguais, pensamos todos iguais, vestimos todos iguais, cremos todos
iguais!
Em terceiro lugar,
preocupa-me o fato de que muitos dos que fizeram análises e avaliações das
falas e textos de Gondim sequer têm preparo para sentar com ele numa mesa e
conversar, cinco minutos que seja, sobre os temas "malditos". A grande maioria dos líderes e pastores que o detratam são rasos, possuem um conhecimento de "epiderme", nunca investiram nem no estudo das Escrituras nem em estudos de outros campos do saber. Estes, jamais topariam um debate
com o Gondim em rede nacional, pois, certamente, ficariam desconfortáveis e, provavelmente, sem argumentos consistentes para refutar pensamos e ideias.
Boa parte dos textos “apologéticos” que li fazem “recortes pinçados” daquilo
que Gondim afirma, uma espécie de edição via fotoshop, numa clara demonstração
de que a análise é, no mínimo, tendenciosa. É a velha práxis de “coar o
mosquito” enquanto se engole o “tiranossauro-nosso-de-cada-dia”.
Apesar de não concordar
com alguns pensamentos de Gondim, em nada ele me escandalizou. Pensar diferente não ofende, abre "sendas" para um olhar novo sobre questões antigas. Isso não desconstrói minhas convicções, pelo contrário, por vezes ajuda a sedimentá-las! Sei que este homem agiu com retidão, abriu o coração, sei de sua seriedade e serenidade ao tratar dos assuntos
do Reino, pois, mesmo sem o conhecer, conheço o seu legado e tenho convicção que ele próprio não poderia negar aquilo que passou toda a vida crendo. Seu
pensamento avança ainda que, talvez, por terrenos eventualmente “pantanosos”, mas certamente rumo a um
platô que lhe ponha firme sobre a Eterna Rocha que, uma vez posta, sendo a
Pedra Angular, jamais poderá ser removida: Cristo, Jesus.
Em quarto lugar,
preocupa-me a igreja evangélica não está aberta a nenhum tipo de conversação
que vá para além da ortodoxia e, em alguns casos, para além do fundamentalismo
já posto. Aqui vão me dizer que as “Escrituras são nossa única regra de prática
e fé”, e eu assim também creio, mas não me sinto “amarrado” ao ponto de não
usar da liberdade que disponho em Cristo para pensar, para fazer conjecturas,
para teologizar, como tantos outros fizeram antes de mim, pois nossas crenças
estão, usando um conceito de Foucault, sobre “camadas de saber” que foram
construídas por outros, desde os Pais da Igreja até os pensadores – teólogos e
filósofos – dos nossos dias.
Ora, nós somos o
“produto” do pensamento de muitas gerações, de homens e mulheres que, ao seu
tempo, ousaram, com aqueles que com eles estavam, refletir, pensar, questionar.
Ninguém irá ao “inferno” de fogo por assim agir, isso eu lhes garanto... Toda
teologia é temporal e antropológica, produto do tempo, da cultura, da sociedade
e do homem em um determinado momento histórico. Mas as igrejas hoje querem apenas seguir a
cartilha de sua denominação, pois nelas é pecado mortal pensar de forma
diferente ou se abrir a novos saberes. Continuam dizendo que “Jesus é a
solução”, mas não têm a mínima idéia do que o mundo está hoje questionando...
Em quinto e último lugar
preocupa-me o destino do cristianismo como religião institucionalizada. Quando
vejo alguns homens que jugo serem pessoas sérias, coerentes, pensantes, representativas e, sobretudo, gente de Deus abandonando o que aí está
posto, quando ouço, por exemplo, um Leonardo Boff falar que o cristianismo
deveria se aproximar mais da existência, ou um Cáio Fábio afirmar que hoje
vivemos a perversão do Evangelho de Jesus, ou um Gondim romper com o movimento
evangélico, fico contando o que sobrou e, sinceramente, assusta-me o que parece
nos reservar o futuro! Acho que Deus terá de levantar as "pedras" para pregar, pois faltarão pregadores. Ou então vamos ficar com os estelionatários que aí estão, na TV, no rádio, gente tão perversa que aqui não cabe nem nominar.
Não estou preocupado com
a Igreja de Jesus, pois esta sempre estará lutando contra as hostes do mal,
defendendo “a fé que foi entregue uma vez por todas aos santos”, pregando a sã
doutrina, amparando os caídos da existência, servindo a Deus com coração
pacificado, adorando-o com todo ardor e amor, aguardando com ansiedade a volta de
Jesus! Todavia, esta igreja invisível e católica – Universal – de Cristo, está inserida dentro das milhares de ramificações do cristianismo, pois é fato que existe uma igreja dentro da "igreja" e só o "Cabeça do Corpo", que a tudo vê, pode discernir quem é "joio" e quem é "trigo". E assim, como partícipe da religião institucionalizada, angustio-me com seus
rumos, temo pelos dias vindouros, desencanto-me com suas posturas, percebo sua
grave crise, sua "septicemia intelectual", sua falência múltipla em termos de
prática e fé.
Bem, tudo dito, agora é só aguardar as
PEDRADAS... (risos). Mas quem escreve aqui deve estar sempre preparado. Como de
costume, não responderei as críticas, não é falta de respeito, mas de disponibilidade. Isso toma o pequeno espaço de tempo de postar novo artigo
para abençoar meia dúzia dos que precisam. Ao Gondim, meu mano querido na fé em
Jesus, desejo que seu coração seja inundado de paz e misericórdia,
que ele fuja de toda raiz de amargura que esta “saraivada de golpes” pode vir a
provocar, que se entregue ao Justo Juiz e sinta-se consolado por seus antecessores,
uma grande “nuvem de testemunhas”, os quais foram perseguidos, mortos, torturados,
serrados ao meio, caluniados, destratados, injuriados, “homens dos quais o mundo não era digno”, conforme
Hebreus, capítulo 11.
Termino este texto
desejando encontrar corações quebrantados e espíritos humildes para entender o
que está exposto, que não distorçam as afirmações aqui feitas, pois sou responsável pelo que
escrevo, mas não pelo que entendem... Contudo, depois de ler o artigo da Bráulia e ver os comentários tenho poucas esperanças... (risos). Que Deus nos guie a Sua vontade e
ao temor do Seu nome. Quanto a você, Gondim, caso leia estas linhas, sei que sabe que é privilégio sofrer pela causa do Evangelho e pelo nome de Jesus,
ainda que muitos não vejam que o que está acontecendo se encaixe neste
contexto... Parafraseando-o, então, concluso dizendo: Soli Deo Gloria!
Ou seja... É proibido pensar!
ResponderExcluirA quem goste destes "despirocados da fé", e que os celebrem como novos ventos de renovo... NADA ALÉM DE LIBERALISMO TEOLÓGICO COM CEM ANOS DE ATRASO (misericredo!) Felizmente ainda existe coisa muito melhor, mais salutar no Brasil, como Russel Shedd, Hernandes Dias Lopes,etc. Uns gostam do olho ,outros da remela...FAZER O QUÊ NÉ ???
ResponderExcluir