Tolerando os intolerantes!
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Carlos Moreira
Quando amanheci hoje, abri o facebook para ver as postagens... Aquilo lá cada dia se parece mais com um lixão, ou seja, você tem de vasculhar em meio a muita coisa estragada para ver se encontra algo que se aproveite.
Entre as “pérolas” disponíveis, vi uma
discussão entre católicos e protestantes a respeito da foto acima. Ela havia
sido postada por um bispo anglicano que aqui não cito o nome por não ter lhe
pedido autorização.
Para quem não sabe – e tenho certeza de que
muitos não sabem – nem quem é um e nem quem é o outro, o da esquerda é Rowan
Williams, arcebispo de Cantuária, líder máximo da Igreja Anglicana. O da
direita é Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, líder máximo da Igreja Católica
Romana.
Feitas as devidas apresentações, sigamos...
Na discussão que se instaurou no facebook sobre a dita foto, “protestantes”
atacavam ferozmente uma fiel católica que se alegrava com o fato de seu líder
espiritual vir ao Brasil em 2013. Apenas isso foi motivo para toda sorte de
acusações, intolerâncias e impropérios. Um deles, inclusive, citou que o Papa
era a besta, e ainda teve o despautério de dizer que isto estava nas
Escrituras! Volta logo Jesus!
Já há muito fujo deste tipo de “debate”
inútil, pois lembro-me de Paulo aconselhando seu filho na fé Tito, dizendo-o
para fugir de tais conversações. Mas a coisa me pareceu ser tão absurda que eu
não suportei. Entrei no “jogo”, na “briga”!
Coloquei em meu comentário algumas palavras
chamando os “irmãos” à reflexão de suas posturas discriminatórias, da falta de
respeito pela fé do outro, da falta de tolerância e amor. Lembrei questões
históricas já superadas e que devemos nos ater àquilo que nos une, e não ao que
nos divide ainda mais. Tudo em
vão... A coisa só piorou! Aqui também não alimento grandes
esperanças... Talvez uns poucos “lúcidos” entenderão estas linhas. A grande
maioria vai “passar o rodo”. Fazer o quê? Talvez, quem sabe, lembrar da famosa
frase de Victor Hugo: “a tolerância é a melhor das religiões”.
“Ao ouvir isso, Jesus admirou-se e disse
aos que o seguiam: "Digo-lhes a verdade: Não encontrei em Israel ninguém
com tamanha fé. Mt. 8:10. “Jesus respondeu: "Mulher, grande é a sua fé!
Seja conforme você deseja". E naquele mesmo instante a sua filha foi
curada”. Mt. 15:28.
Eu poderia ter trazido uma infinidade de
textos que quebram estes paradigmas de se reivindicar para si o “DNA” do
sagrado, a ilusão de que Deus faz acepção de pessoas, a pretensão de muitos em
achar que estão salvos por causa de sua religião, seus dogmas, confissões,
ritos, doutrinas, e não por causa do Sangue de Jesus e de Seu sacrifício
eterno! Bem escreveu Arturo Graf: “são pouquíssimos os homens capazes de
tolerar, nos outros, os defeitos que eles próprios possuem”.
Mas estes dois me bastam, ainda que saiba
que não bastará a grande maioria... Nas duas passagens citadas, a maior fé
encontrada em Israel não era de um hebreu, de um fariseu ou escriba, nem de um
membro da “confraria” do sinédrio, nem mesmo do sumo-sacerdote! Era a fé dos
“expurgados”! No primeiro caso, de um homem que está para além dos muros da
religião, um soldado romano que nada conhecia das tradições judaicas. Sim, a
este “ser” que parece excluído das “rotinas” da religião, Jesus atribuiu a
maior fé que Ele, até então, havia visto! Absurdo!
No outro texto, eis uma mulher grega – siro-fenícia.
Ora, o fato de ser mulher e estrangeira, desgraçadamente, já a tornava
“excremento” social, era a imundice encarnada para um judeu. Espiritualmente,
ela estava totalmente exilada de toda possibilidade de misericórdia, fôra
considerada impermeável a Graça. Mas Jesus – palavras minhas – disse: “tô nem
aí!”, e lhe atribuiu grande fé. Por causa dela, inclusive, sua filha foi curada!
A intolerância religiosa não é algo novo,
nem se restringe a centenária disputa entre católicos e protestantes. É próprio da
religião produzir nas pessoas este tipo de sentimento, ao contrário do que
acontece no Evangelho, onde o “espírito” é de outra natureza, pois a prostitua
foi despedida em paz – “vai e não peques mais” – e o “jovem rico”, que cumpria
toda a lei e era observador dos ditames da “constituição” divina, voltou para
casa entristecido e esvaziado de sentidos e significados para a vida.
Quanta arrogância e intolerância vejo entre
os “protestantes”! Para estes o exemplo dos judeus não foi suficiente. Eles,
que se achavam o povo escolhido, foram desprezados e colocados “do lado de
fora” até que possam aprender o que significa: “misericórdia quero, e não
holocaustos”! Como então podes tu, que eras “oliveira brava”, e fostes enxertado
na “Videira”, não ter temor e tremor por tua salvação, sabendo que eras “povo
de Zebulon e Naftali”, da “galiléia dos gentios”, e só vistes resplandecer em
ti a “Luz” porque a Graça vazou pelas frestas da tumba da religião em tua
direção?!
Como pode, no século XXI, depois de tantos
exemplos do que a religião já produziu em termos de intolerância, mortes,
genocídios, torturas, perseguições, injustiças, a humanidade ainda alimentar
tais sentimentos e pensamentos? Quem és tu para julgar o teu irmão? Quem te deu
a autoridade para legislar na Terra quem ao céu irá? Quem disse a ti que tua
religião é o cartório do Altíssimo, que autentica no chão empoeirado da
existência caída aqueles que serão chamados a festa do perdão?
Vai ter com Melquisedeque, sacerdote de
salém, que não tinha “heranças espirituais”, nem “genealogias sagradas”, que
saiu do “nada” e para o “nada” voltou, mas Abraão, o Pai da fé, lhe deu o
dízimo e lhe reconheceu como sendo enviado por aquEle que demonstra ter
misericórdia por quem lhe aprouver! Se em teu coração ainda alimentas tais
preconceitos e discriminações, deixo-te esta preciosa reflexão: “por que ser
desagradável quando, com um pequeno esforço, você pode ser intolerável?”. Fran
Lebowitz.
E no mais, ninguém me “moleste”, pois eu já
trago na consciência e no coração as “marcas” do Evangelho de Jesus de Nazaré,
amigo de publicanos e pecadores!
Carlos Moreira é coeditor do Genizah