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Toda Segunda-Feira...




Carlos Moreira

Toda segunda-feira eu acordo cansado, levanto como um autômato da cama e faço tarefas corriqueiras com os olhos ainda fechados. Há como as repetições me enfadam, drenam minha energia, roubam minha alegria. Mas é preciso seguir... Olho-me no espelho e repito comigo mesmo: “the show must go on!”.

Toda segunda-feira eu vou começar alguma coisa. Há semanas em que vou iniciar um regime, em outras vou passar a me exercitar e existem aquelas em que eu decidirei consertar certas coisas que estão precisando de reparo. Ainda bem que isto só acontece às segundas-feiras. Como disse Oscar Wilde “a vida é muito importante para ser levada a sério.”.

Toda segunda-feira eu vou terminar alguma coisa. Sim, segunda-feira, para mim, é o dia perfeito para as desistências. Eu penso em parar de me estressar tanto, mudar de profissão, de empresa, de “ministério”, passar apenas a escrever. Alguém certa vez me perguntou: “pastor, o senhor já pensou em desistir?”. E eu respondi: “sim... toda segunda-feira penso nisso e prometo a mim mesmo que vou parar”. Mas a “roda” continua girando, a “engrenagem” nunca se cansa, essa “coisa” tem um apetite infinito, só se sacia com a sepultura.

Toda segunda-feira eu me deparo com tudo o que ficou “entulhado” da semana anterior. Incrível, mas os problemas ainda continuam lá! Pendências de pagamentos, clientes insatisfeitos, funcionários inconformados, parceiros desesperados, e minha mesa cheia de papéis. A agenda sinaliza a “brutalidade” da semana que está por vir. São tantos compromissos que eu fico cansado só de olhar. Sexta-feira, todavia, todos terão sido cumpridos, ou, pelo menos, a maioria deles. Alguns me darão prazer, outros não. É a vida...

Toda segunda-feira o trânsito está pior que nos outros dias, o semáforo demora mais que de costume, o clima está mais quente. Por incrível que pareça, é na segunda que o celular não dá sinal, o computador demora mais para funcionar, a internet cai, o rádio toca música ruim, a comida vem salgada, o café frio, há fumaça demais e paciência de menos. Piora quando chove... Aí é o caos.

Toda segunda-feira eu me deparo comigo mesmo. Neste dia gosto menos do que vejo do que em outros. Aqui estou eu e os meus 45 anos... Uma sensação de inutilidade, de vazio, de “fazer o quê?”. Nas segundas meus problemas ficam maiores, meus defeitos piores, surgem todas as dores e elas parecem mais agudas que nos outros dias. De fato, na segunda seria melhor não sair da cama, mas a vida me chama para cumprir a velha e pálida rotina.

Toda segunda-feira eu penso em fazer algumas coisas boas... Ligar para um velho amigo, visitar minha avó, comprar algo que me dê satisfação ou até andar pela rua sem destino. Segunda-feira é o dia oficial dos prazeres impossíveis, dos sonhos não realizáveis e das promessas feitas ao vento.

Toda-segunda-feira eu me lembro de Jeremias. Suas palavras soam como um mantra em meus ouvidos: “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; renovam-se a cada manhã.”. Acho que é por isso que continuo a fazer tudo que tem de ser feito depois da segunda. Sim, se não houvesse essa tão preciosa esperança, eu sucumbiria logo no começo da semana.

Bem, tudo isso acontece comigo as segundas-feiras. Talvez com você seja em outro dia... Talvez você nem passe por nada disso, talvez tenha chegado a um nível bem acima do meu, a um platô que almejo, quem sabe, um dia chegar... É que eu sou ser rasteiro, simplório, fragmentado. Queria mesmo era ser como o Drummond: “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.”. Mas, fazer o quê?

Obrigado, Senhor, pelas segundas-feiras! Obrigado por me acolher todos os dias da minha vida, sobretudo nestes em especial. Obrigado por tornar tudo possível, até eu mesmo viável, e pela Tua Graça que acolhe os caídos da existência, gente como eu, ou, quem sabe, gente como a gente...

Escrevi isso por que queria que você soubesse como me sinto, Senhor. Já que citei acima um profeta, terminarei, então, com um poeta: “bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1º do mês e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...”. Mário Quintana. 


Boa segunda-feira para você!

Carlos Moreira é coeditor do Genizah



 

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